Coleção Clássica DIBICA

Todos os artigos criados ou enviados durante os primeiros vinte anos do projeto, de 1995 a 2015.

Rafaralahy, Andriamazoto

1810-1838
A Sociedade Missionária de Londres
Madagáscar

Rafaralahy Andriamazoto era um homem rico casado e com muitos filhos. Seu nome Rafaralahy, indica que ele era o filho mais velho da família e o nome “Andriamazoto” (“príncipe zeloso”) é o nome que os seus amigos cristãos lhe deram na época de perseguição.

Rafaralahy nasceu durante os últimos anos do reinado do rei de Imerina Andrianampoinimerina- o que significa “príncipe no coração de Imerina.” [1] Rafaralahy e Rasalama eram da mesma geração. Rafaralahy tonrou-se cristão sobre a influência de um amigo cristão chamado Rafiakarana. Posto que em 1831 não existia nenhuma paróquia na sua vizinhança, a sua casa em Anjanahary foi escolhida como lugar de oração. Ele aprendeu a ler para entender bem a Bíblia.

Em 31 de março de 1835, a Rainha Ranavalona I decretou que o cristianismo estava proibido no seu reino. Todos os cristãos foram forçados a negar a sua fé e renunciá-la publicamente, sob pena de serem condenados à morte. Rafaralahy ficou com medo e voltou para a sua vida antiga, e aos negócios nos domingos.

Ele realmente se converteu ao Cristianismo depois de dois eventos significativos. Primeiro, o seu querido irmão foi deportado para a região de Sakalava no noroeste da ilha na qual morreu. Depois disto Rafaralahy ficou doente.

Sete dolorosos furúnculos apareceram no seu corpo, correspondendo aos sete domingos que ele envolveu-se em negócios, e convenceu-se de que Deus o estava castigando. Arrependeu-se, voltou a sua vida como cristão e secretamente começou a participar de reuniões de oração. Como a sua casa em Anjanahary era um pouco retirada, os cristãos se reuniam lá para a oração.

Durante a época da perseguição (1835-1861) Rafaralahy não fugiu, mas usou a sua riqueza e o seu zelo para ajudar aos cristãos em necessidade. Ele era dono de três plantações de arroz e doou o dinheiro da colheita da plantação maior para ajudar cristãos, o da colheita da segunda plantação para ajudar aos pobres e ficou com o valor produzido pela plantação menor para suas próprias necessidades. Perto da sua casa em Anjanahary ele tinha outra casa. Esta foi construída longe do caminho, de modo que os cristãos podiam orar em paz nela, sem serem vistos ou ouvidos. Ele inclusive tinha uma caverna que foi feita próximo dali, de modo que poderia servir de esconderijo em caso de necessidade.

Ele também cuidava de três leprosos, e construiu uma casa para eles próximo à sua casa em Anjalahary. Ele pregou o Evangelho para sua esposa Ratsimindrana, para o resto da família e aos seus escravos a quem também ensinou a ler.

Ele confortou aqueles que eram denunciados e levados para a prisão, como Maria Rafaravavy. Ele acompanhou e encorajou Rasalama durante o seu martírio, e foi com ela até Ambohipotsy, onde foi executada. Ele testemunhou sua coragem e sua fé que a fizeram cantar até o momento de sua execução, pedindo aos carrascos alguns minutos para orar; ele teve inveja do seu martírio. Ela estava calma e em paz e ele pensou: “Se morrer por Cristo é assim, eu gostaria de seguir o mesmo caminho que ela.”

Certo dia, Rafiakarana, o amigo que o levou até a fé e que posteriormente a renunciou, estava em necessidade. Ao sentir-se devedor perante a ele, Rafaralahy o convidou para participar do seu negócio como sócio. Rafiakarana o roubou e tinha ciúmes dele. Com medo de que suas ações fossem descobertas, Rafiakarana denunciou a Rafaralahy ao governador Rainiharo, o qual o prendeu e acorrentou. Rainiharo ordenou que ele fosse chicoteado e torturado para que denunciasse outros cristãos, mas foi em vão. Rafaralahy sempre os respondia dizendo: “Vocês me prenderam. Façam comigo o que a rainha desejar, mas não denunciarei os meus amigos.” Depois de três dias de detenção foi sentenciado à morte.

Assim foi que em 19 de fevereiro de 1838, Rafaralahy foi executado em Ambohipotsy, ferido com lança até a morte com assegai [2] da mesma forma que Rasalama. Ele foi o segundo mártir da perseguição. Ele não cantou, mas resistiu com bom semblante, pronto para morrer. Antes de ser executado pediu alguns minutos para orar, e ajoelhou-se. Quando se levantou, disse: “Estou pronto.” Pediu aos seus executores que não cobrissem os seus olhos e deitou-se no chão pela sua própria vontade para receber a estocada fatal da lança. O seu desejo de morrer como Rasalama se cumpriu.

Depois da sua morte a sua esposa também foi quase morta, mas a sua vida foi poupada porque estava grávida. Os seus filhos ficaram na pobreza e a sua mãe ficou tão afetada pela sua morte que enlouqueceu. Não sobrou ninguém para ajudar os leprosos e eles morreram tristes na miséria.

Anos depois, o martírio de Rafalarahy não tinha sido esquecido, e uma escola foi construída em seu nome em Anjanahary, a vizinhança na qual ele nasceu.

A rainha Ranavalona I achava que perseguindo os cristãos ela eliminaria o cristianismo e evitaria que se espalhasse, mas o oposto aconteceu. A execução dos mártires reavivou a fé da comunidade cristã. Muitos outros mártires seguiram Rasalama e Rafaralahy. Alguns foram jogados de um despenhadeiro em Ampamarinana, e outros foram queimados vivos em Faravohitra.

Berthe Raminosoa Rasoanalimanga


Notas

  1. Ele governou de 1740 a 1810.

  2. Lança ou javalina.


Bibliografia

William Ellis,_ Faithful Unto Death: The Story of the Founding and the Preservation of the Martyr Church of Madagascar_ (Londres: John Snow e Co., 1876).

Pasteur Rabary, Ny daty Malaza: na ny dian’I Jesosy teto Madagasikara [Datas memoráveis nas pegadas de Jesus em Madagascar ]. (Antananarivo: Trano Printy Fiangonana Loterana Malagasy, 2004).

John W. Mears, The Story of Madagascar (Filadélfia: Junta Publicadora Presbiterian, 1873). Mission and Martyrs in Madagascar (Nova Iorque: Sociedade Americana de Tratados, 1864).

_Madagascar: Its Mission and its Martyrs _(Londres: Sociedade Missionária de Londres, 1863).

William Ellis, The Martyr Church: A Narrative of the Introduction, Progress and Triumph of Christianity in Madagascar with Notices of Personal Intercourse and Travel in that Island (Boston: Sociedade Publicadora e Escola Congregacional Sabbath, 1869).

Periódico pretestante Teny Soa [As Boas Novas] No. 806, Fevereiro de 1938, pp.27-30. Raboatoandro Andriamiarana, “Rafaralahy Andriamazoto,” Tese final para SETELA [Estudos teológicos para pessoas leigas, outorgado pelo FJKM Seminário Teológico -Ambatonakanga], 1998.


Este artigo foi apresentado em 2008, e foi escrito e pesquisado por Ms. Berthe Raminosoa Rasoanalimanga, diretora do FJKM Centro de Arquivos Nacional (1984-2007), e bolsista do projeto Luke em 2008-2009.


Galeria de fotos

Cristão acorrentado sendo confortado

[1] Cristão acorrentado sendo confortado, por John W. Mears, em _The Story of Madagascar _(Filadélfia: Junta Publicadora Presbiteriana, 1873) na capa.

Cristãos sendo jogados num despenhadeiro

[2] Cristãos sendo jogados num despenhadeiro em Ampamarinana, em Mission and Martyrs in Madagascar (Nova Iorque: Sociedade Americana de Tratados, 1864) pág 148.

Cristãos sendo queimados vivos

[3] Cristãos sendo queimados vivos em Fravohitra, em Madagascar: Its Mission and its Martyrs (Londres: Sociedade Missionária de Londres) folha de rosto.

Execução de Rasalama

[4] A execução de Rasalama por lança em Mission and Martyrs in Madagascar (Nova Iorque: Sociedade Americana de Tratados, 1864), pág. 114.