Coleção Clássica DIBICA
Todos os artigos criados ou enviados durante os primeiros vinte anos do projeto, de 1995 a 2015.Kivebulaya, Apolo (A)
Apolo foi um missionário de Uganda considerado o principal pioneiro da Igreja Anglicana no Congo Belga (atualmente República Democrática do Congo).
Ele e seu irmão gêmeo, Kato, nasceram em Kiwanda (Uganda) em 1864. Há outros três irmãos na família.
Seu nome original era Waswa Munubi. “Apolo” e “Kivebulaya” foram dois nomes estrangeiros que adotou posteriormente. Escolheu o nome Apolo durante seu batizado em 1895 porque recordou outro Apolo que “com grande fervor falava e ensinava com exatidão acerca de Jesus” (Atos 18:25). O nome “Kivebulaya” significa “oriundo da Europa” e foi dado a ele por causa do terno que vestia sob seu hábito branco. A noiva de Apolo faleceu após o casamento, de modo que ele decidiu permanecer solteiro. Ele compreendeu, depois, que a vontade de Deus era que permanecesse solteiro a fim de realizar melhor sua missão no Congo.
Antes de tornar-se cristão, Apolo foi soldado Muçulmano e lutou contra os cristãos. Ele foi também um ávido consumidor de maconha. Durante o serviço militar, desertou e fugiu para Ankole, onde se uniu aos protestantes (Anglicanos). Sentiu-se atraído pela vida cristã, especialmente pelo exemplo de Mackay, um missionário da CMS/Londres que chegara a Uganda em 1878. Apolo disse: “Naquele momento eu estava lendo o Evangelho de Mateus, do qual gostava muito, especialmente do capítulo cinco, versículo 13. Essa passagem influenciou na minha conversão ao cristianismo e no abandono do serviço militar.”
Ele começou o curso de batismo em 1894 e foi batizado em 27 de janeiro de 1895. Em junho do mesmo ano, decidiu tornar-se um catequista e freqüentou um programa básico de estudos bíblicos em Namirembe (Kampala). Quando os catequistas de Toro expuseram a necessidade de contar com pessoas para servir em sua região, Apolo foi o primeiro voluntário para ir a Toro.
O ministério de Apolo em Toro foi muito eficaz e ele sentia-se muito feliz com essa atividade. Porém emergiu uma necessidade de catequistas em Nyagwaki (próximo de Mount Rwenzori) e Apolo foi enviado para aquela área em nove de maio de 1895. Mas entre os Bakonjo, em Nyagwaki, Apolo não considerava que seu trabalho tivesse êxito: “Eu não estava contente porque nenhuma pessoa queria ser batizada, mesmo que viessem e escutassem o evangelho.” Alguns meses depois, Apolo foi chamado a sair de Nyagwaki. Naquele momento, a Igreja Anglicana de Uganda estava procurando um missionário para ser enviado à Boga, na República Democrática do Congo, e Apolo ofereceu-se para ir.
Apolo deixou seu país em dezembro de 1896 e caminhou sobre as montanhas Rwenzori. Quando avistou a fumaça mais além do rio Semliki, convenceu-se de que havia seres humanos vivendo ali. Ele atravessou o rio e caminhou 82 quilômetros pela floresta, até Boga. Levou consigo apenas sua Bíblia e sua enxada. Carregou sua enxada e assegurou-se de que iria sobreviver em seu novo campo de missão porque anteriormente haviam ido, de Uganda até Boga, outros dois missionários, Petero e Sedulaka, que tiveram de retornar porque não estavam dispostos a trabalhar braçalmente e não conseguiram produzir alimentos para si mesmos.
Apolo pregou o evangelho em Boga e algumas das pessoas tornaram-se cristãs. Porém a maioria ofendeu-se com sua pregação porque ela era contrária as práticas tradicionais, especialmente a poligamia e o consumo de bebidas alcoólicas. O chefe Tabaro foi um dos que se sentiram ofendidos e, como resultado, proibiu os cristãos de construírem uma igreja e ordenou que não fosse dada nenhuma comida a Apolo, mas sim o deixassem morrer de fome ou o expulsassem. Porém isso não desanimou esse servo de Deus e ele continuou seu ministério em Boga.
Em 1898 a irmã do chefe tribal, que vivia na casa de Apolo, morreu ao cair acidentalmente sobre uma haste deixada descuidadamente nos pastos altos em um local de construção. Apolo foi culpado por sua morte e preso, agredido fisicamente e em seguida enviado para Uganda para ser julgado.
Lá, teve um sonho que o ajudou enormemente em sua vida espiritual. Ele declarou: “Eu vi Jesus brilhando como o sol. Ele me disse, ‘Anima-te porque Eu estou contigo.’ Desde aquele ano, sempre que eu prego, as pessoas deixam de lado antigos costumes e se arrependem.”
Quando Apolo foi libertado, o chefe tribal Tabaro convidou-o a retornar para Boga e Apolo concordou. Então o chefe tornou-se um cristão e um amigo próximo de Apolo.
Apolo foi ordenado diácono em 21 de dezembro de 1900 em Toro e posteriormente ordenado pastor em junho de 1903 na Catedral de Namirembe. Contrariamente à tradição anglicana, ele rejeitou o uso do colar pastoral por razões pessoais. Contudo, vestia as vestes litúrgicas.
Apolo declarou o ano de 1921 como “o ano do Evangelho.” Estimulado pelo Senhor, pregou o evangelho aos habitantes da floresta: os Walese, os Wanyali e os Wambuti (estes últimos são pigmeus). Ele disse: “Cristo apareceu-me na forma de homem. Isso foi como ver um homem que era meu irmão. Ele me disse: ‘Vai, prega na floresta, porque Eu estou contigo. Eu sou quem Eu sou - esse é meu Nome. ‘”.
Apolo foi viver em meio a essas pessoas como um amigo, comendo sua comida e dormindo em suas casas. Batizou pigmeus pela primeira vez em 1932.
Apolo faleceu em 30 de maio de 1933 em Boga, seu campo de missão. Contrariamente à tradição, foi enterrado com a cabeça voltada para o oeste (não para o leste) por solicitação dele próprio. Ao fazer isso, seu desejo foi indicar que o evangelho precisava ser levado até a região oeste do país.
Sua profecia foi realizada. A Igreja Anglicana é atualmente uma das grandes igrejas da República Democrática do Congo.
Yossa Way
Bibliografia
Anne Luck, African Saints: The Story of Apolo Kivebulaya (London: SCM Press, 1963).
——–, Omutukuvu omwafrica (Mwanza: Inland Press,1966).
J. W. Roome, Apolo, the Apostle to the Pygmies (London: Hunt-Bernard, n.d.).
Yossa Way, “La Notion des fêtes dans le judaisme et son implication dans l’Eglise Anglicane du Congo,” mémoire de licence soutenu à l’I.S.T.B., 1998.
——–, Kwa imani Apolo: Maisha ya Apolo Kivebulaya (Great Britain: Paradigm Print, 1960).
Este artigo, recebido em 2002, foi pesquisado e escrito pelo Rev. Yossa Way, associado do Project Luke e professor de Teologia no Institut Supérieur Théologique Anglican em Bunia, República Democrática do Congo.