Coleção Clássica DIBICA
Todos os artigos criados ou enviados durante os primeiros vinte anos do projeto, de 1995 a 2015.Liengme, Georges
Primeiros Anos: 1859 a 1891
O Dr. Georges Liengme cresceu sob grandes dificuldades como criança. A mãe dele ficou uma viúva quando ainda era nova, e criava sozinha os seus seis filhos. Quando ainda eram novos, cada filho saiu da casa tentando ganhar dinheiro por um tipo ou outro de serviço. O George conseguiu a receber um salário anual de só 50 francos franceses. Ele deixou a escola quando teve 13 anos de idade e começou a trabalhar numa fábrica de relógios onde ele trabalhou até ele teve 20 anos de idade.
Quando teve 17 anos de idade, ele teve uma experiência espiritual. Ele sentiu-se chamado ao serviço missionário e quis ser contado entre aqueles que levava o Evangelho aos perdidos. Foi uma bela vocação, mas a família era pobre com muitas dívidas, e foi impossível servir como missionário sem estudar.
Com 20 anos de idade, o George Liengme começou a ter interesse na área de medicina. Começou o serviço militar e foi posto na secção de medicina cuidando dos doentes. Ao completar o serviço militar, fez o treinamento como enfermeiro no hospital de St-Imier. Ao mesmo tempo, ficou membro de uma organização de jovens cristãos que zelava por temperança lutando contra o uso de bebidas alcoólicas. Finalmente, com 25 anos de idade ele passou os exames federais e qualificou-se pelo bacharelado. Com apoio da Missão Romande, e começou a estudar medicina e ficou médico em 1890. Um ano mais tarde, ele casou-se com a Sra. Bertha Ryff e logo depois viajaram para Moçambique.
Primeira Campanha. 1891 a 1898. Com o Rei Gungunhane na Mandlakaze.
Durante o período entre 1875 e 1900, África austral foi transtornado com guerras entre as tribos e também, entre as raças. Na Província Transval de África do Sul, o missionário suíço que fundou a Missão Romande percebeu que a situação foi precária. A missão trabalhava entre o povo Tsonga, mas o maior número deste povo situava-se na beira o Oceano Índico em Moçambique, na região do Rio Limpopo. O missionário Henri Berthoud reconheceu que o povo Tsonga estendeu-se ao sul na direção à cidade de Lourenço Marques (agora Maputo). A maior parte deste território estava sob o controle do rei nguni, o Gungunhana, que estabeleceu a sede da sua administração na vila de Mandlakaze. O Gungunhana foi da linhagem real e foi filho do rei Mzila. O Gungunhana recebeu os embaixadores ingleses de África do Sul e facilitou o envio de trabalhadores para trabalhar nas minas de ouro. O Gungunhana também recebeu com benevolência os missionários da Suíça.
Durante o período entre 1891 e 1893, o Dr. Liengme fez três visitas na vila de Mandlakaze para solicitar a autorização do rei para estabelecer uma missão médica no seu território. Cada viagem foi feito à pé e durou por cerca das 10 dias. A viagem exigiu 300 horas andando acompanhado por uns africanos e dez burros que carregaram a bagagem. A cidade de Mandlakaze teve uma boa população e serviu como um bom sítio para o trabalho médico.
Em maio de 1894, o Dr. Liengme junto com a sua família e um outro missionário suíço, o Sr. Gerber, foram para se estabelecer permanentemente na vila de Mandlakaze. Mas, no mesmo ano a situação política piorou-se. Umas áreas perto de Lourenço Marques sofreram ataques. Pouco depois da chegada da família Liengme, um exército de dentre 40 e 50,000 soldados, preparados para lutar, chegou em Mandlakaze e o Gungunhane antecipava um ataque pelos portugueses. Mas, emissários do sul, “anjos de paz”, chegaram dizendo exatamente o oposto. Porque não havia comida suficiente para o exército, os soldados desmobilizaram-se regressando às suas casas. Isso foi em março de 1895. Os missionários construíram uma pequena enfermaria e umas casas básicas. Começaram a tratar com os doentes, mesmo fazendo operações, e foram vistos como milagres. Logo depois, ouviram que o rei do povo Zulu estava a preparar por guerra, e os portugueses ameaçaram o Gungunhane. O Gungunhane pediu ao Dr. Liengme ir ter com o governador, o Dr. António Ennes, para fazer intercessão. Eles conversaram mas o Ennes não foi persuadido. O doutor regressou à Mandlakaze e continuou o trabalho.
Em novembro de 1895, o exército português aproximou-se à Mandlakaze. A Sra. Liengme e os dois filhos partiram da vila. Eventos progrediram rapidamente e o missionário preocupou-se muito sobre a situação da sua família. Dentro da confusão, o Dr. Liengme conseguiu juntar-se com a família. Na sua ausência, os portugueses atacaram a vila de Mandlakaze. O Gungunhane só teve 300 soldados e os portugueses ocuparam a vila e o pequeno centro médico foi ocupado pelos portugueses e logo depois, foi destruído. O Dr. Liengme desejava regressar a Manjacaze mas o Gungunhane lhe informou que o centro médico já foi destruído e se o médico voltasse, ele levaria um tiro se ele voltasse.
Durante as duas semanas que seguiram, o grupo com o Dr. Liengme andava na direção de Lourenço Marques. A Sra. Liengme cuidava dos dois filhos que andavam doentes. Atravessaram o Rio Limpopo e andavam na direção da missão de Antioka situada na beira do Rio Incomati. A viagem foi muito dolorosa e todos andavam muito cansados e doentes. Quase toda a terra foi queimada e sobre grandes áreas e não havia nem uma gota de água. Ao chegar finalmente em Lourenço Marques, o Dr. Liengme foi informado que a sua presença em Mandlakaze foi muito discutido pelos governantes. Eles estavam muito críticos sobre a presença dele ali, e ele foi suspeito de ajudar o Gungunhane contra os portugueses. Assim, o Dr. Liengme percebeu o que ele antecipava se ele ficasse em Lourenço Marques, e por isso decidiu fugir do país.
O Diretor da missão na cidade de Lausanne na Suíça decidiu que seria melhor colocar o Dr. Liengme no hospital de Chiluvane no norte da Província do Transval. Eles chegaram aí em abril de 1896, depois de uma viagem que se durou por um mês. Mas a zona de Chiluvane não é uma terra do paraíso. Em 1897, África do Sul sobre uma seca horrível. Não conseguiram ceifar absolutamente nada. A Igreja na Suíça deu apoio e enviou dinheiro para ajudar o povo. O Dr. Liengme comprou milho para distribuir gratuitamente ou vender de novo ao preço que ele pagou. No campo, o gado morria da doença Peste Bovina. Não havia bois para carregar os sacos de milho, e por isso usavam burros para puxar as carroças. Ao atravessar o Rio Olifantes, cheio das águas das chuvas atrasadas e torrenciais, o Dr. Liengme quase afundou-se mas ele foi salvo por um jovem africano. Ao mesmo tempo, a Sra. Liengme e os dois rapazes estavam gravemente doente, e um dos rapazes foi perdido às águas. Em maio de 1897, eles chegaram finalmente ao hospital de Elim depois de cinco semanas no caminho. Alí o povo foi quase gasto por causa da seca. O Dr. Liengme sentiu-se paralisado pela falta de recursos, e de facto, pela falta de um hospital e uma equipa.
Férias na Suíça: 1898 e 1899
O médico e a família dele foram autorizados fazer ferias na Suíça. O Dr. Liengme aproveitou do tempo para solicitar doações e levantar fundos para construir um hospital na Elim. As histórias e relatórios da grande aventura africana, as descrições dos problemas dos africanos junto com os missionários, e o entusiasmo do missionário apanharam o interesse do povo suíço. Todos ficaram entusiasmados e desejaram apoiar o trabalho em África. Um fundo especial foi estabelecido por este propósito e foi chamado “A Sociedade Imobiliária”.
Segunda Campanha: 1899-1906
Os missionários regressaram para África do Sul e começaram a construção do hospital. Logo depois do começo, rompeu-se a guerra anglo-boer. O Dr. Liengme solicitou a ajuda de um medico da Cruz Vermelha e um sul-africano ajudou-o por um período de quatro meses e meio. O Hospital Elim foi aberto em 1900 e no princípio serviu somente os africanos. Mais tarde serviu também os europeus. Durante a guerra, os soldados dos dois lados foram admitidos e receberam tratamento. Este período parece mais fácil do que o primeiro, mas para o Dr. Liengme, este segundo período ficou um desafio igual ou maior que o primeiro. Finalmente, ficou necessário para o Dr. Liengme regressar de novo para Suíça.
Epílogo Africano e a Clínica de Vaumarcus
O Dr. George Liengme era um dos pioneiros que serviu com uma paixão e dedicação. Uns dos mais novos que ajudaram no Hospital Elim não conseguiram ver o zelo e coração de compaixão deste médico tão dedicado aos seus pacientes. Havia mal entendimentos e muita discussão entre eles. De novo na Suíça, depois de uns meses de hesitação e agonia – porque ele era um verdadeiro missionário – ele decidiu não regressar para África. Isso foi em 1908. Foi neste tempo que ele mudou a direção do seu serviço. O Dr. Liengme sempre tinha uma interesse no sistema nervosa e problemas psiquiátricos. Ele abriu uma clínica chamada Vaumarcus na beira de um lago na Suíça e aí desenvolveu um tipo de terapia que ele chamou “psicoterapia em conjunto” que foi chamado pelos americanos “psicoterapia do grupo”. O Dr. Georges Liengme foi, sem dúvida, um pioneiro neste campo de terapias psicológicas. Ele morreu subitamente em 1936.
André Clerc
Bibliografia:
1894-95 “Le suicide parmi les noirs”, BSNG, Vol. VIII, página 177 à 179.
1894-95 “Géographie médicale. Quelques observations sur les maladies des indigènes des provinces de Lourenço Marques et de Gaza.” BSNG, Vol. VIII, página 180 à 191.
1901 “Goungounyane et son règne “, BSNG, Vol. XIII, p.37
1906 “Un hôpital sud-africain”, Foyer solidariste, Saint-Blaise, p. 89
1936 “Pour apprendre à mieux vivre”, Attinger, Neuchâtel.
Este artigo é reproduzido, com permissão, do d’Hommes et Destins: Dictionnaire biographique d’Outre-Mer, tome 2, volume 2, publicado em 1977 por l’Académie des Sciences d’Outre-Mer (15, rue la Pérouse, 75116 Paris, France). Todos os direitos reservados.