Coleção Clássica DIBICA
Todos os artigos criados ou enviados durante os primeiros vinte anos do projeto, de 1995 a 2015.Kaggwa, Andrew
Andrew Kaggwa era membro da tribo Nyoro, tradicionais inimigos da tribo de Ganda. Ainda menino foi capturado e levado como escravo por um bando de Ganda que saqueavam na fronteira de Bugangadzi. Ele era um menino lindo e bem desenvolvido e por isso foi dado de presente ao Rei como parte na sua parte do espólio. Passou a ser pajem da corte, a sua alegria e a sua bondade o tornaram favorito entre seus colegas. Ele ainda era um pajem quando o explorador H. M. Stanley visitou Buganda em 1875. Stanley tinha trazido com ele alguns tambores europeus, os quais encantaram o Rei Mutesa I, que adquiriu uma dúzia deles. O Rei enviou a Kaggwa para aprender a tocar tambor com o seu secretário geral, Toli, um muçulmano de Madagascar que tinha visitado a França a aprendido a tocar este instrumento. Então Kaggwa também se tornou muçulmano. Toli, no entanto, também era carpinteiro dos missionários católicos e provavelmente apresentou Kaggwa a eles. Resultou que Kaggwa entrou para o catecumenato católico em junho de 1880. Parece que ele também freqüentou aulas bíblicas ministradas pelo missionário anglicano Alexander Mackay.
Kaggwa, aos vinte e cinco anos de idade foi nomeado o percussionista mestre do rei e era encarregado de outros quinze percussionistas. Pouco tempo depois, tornou-se diretor da banda e encarregado de todos os músicos da corte, incluindo os corneteiros e tocadores de pratos. Foi-lhe dado um pedaço de terra em Natete, não muito longe da capital, onde construiu uma casa, na qual depois do seu casamento viveu com a sua esposa Clara Batudde. Foi batizado em 30 de abril de 1882.
Dois anos mais tarde, a peste bubônica atingiu a capital e Kaggwa cuidava dos moribundos e catecúmenos abandonados no seu próprio claustro. Sendo que todos os missionários católicos tinham fugido de Uganda, ele instruiu, batizou e enterrou os que necessitavam. Outros missionários seguiram seu exemplo. Mutesa I morreu em outubro de 1884e foi sucedido por Mwanga, com quem muitos dos servos reais tinham uma relação íntima da época que ele era príncipe. Este era o caso de Kaggwa, o qual não somente foi nomeado o chefe da banda, mas também recebeu o título de Mugowa, com autoridade sob toda a milícia da qual os membros da banda eram recrutados. Este nome tinha relação com a única banda de tipo europeu do leste da África e que pertencia ao sultão de Zanzibare estava composta por músicos de Goa. Kaggwa também recebeu um feudo no monte Kiwatule, o qual ficou conhecido como Kigowa. Kaggwa tornou-se um dos favoritos do novo rei e o acompanhava em caçadas e expedições de navegação.
Entre os muitos convertidos feitos por Kaggwa na corte, estavam vários futuros mártires. Um deles foi James Buzabaliawo, membro da banda, a quem Kaggwa instruiu na fé católica e na música e que se tornou o seu assistente chefe. Quando a tormenta da perseguição começou em 25 de maio de 1886, o rei estava em Munyonyo, um refúgio Real, construído num monte a beira do Lago Vitória, não muito longe da capital. Foi aqui que Charles Lwanga e os pajens cristãos foram sentenciados à morte, apesar das vãs tentativas do missionário católico Siméon Lourdel de falar com o rei e suspender a execução. Mais tarde, durante o dia, Lourdel voltou ao lugar com o pretexto de informar ao rei a iminente chegada do Primeiro Bispo Católico, Léon Livinhac. O rei ficou contente de saber da chegada do Bispo, mas recusou-se suspender as execuções.
No dia seguinte Mukasa, o chanceler, lembrou Mwanga que Kaggwa ainda estava em liberdade. O rei respondeu que não poderia dar-se o luxo de perder o seu percussionista mor. Ao que Musaka respondeu que Kaggwa era o instrutor principal do Cristianismo aos pajens do rei e outros servos, e ameaçou entrar em greve de fome até que Kaggwa fosse-lhe entregue e pudesse dispor da sua vida.
Mwanga acedeu ao pedido, mas sentiu-se muito envergonhado de anunciar pessoalmente a Kaggwa. Quando chegaram os mensageiros do chanceler, Kaggwa estava preparado. Tinha recebido a eucaristia na missão durante a manhã e voltado ao seu posto em Munyonyo. Os emissários exigiram dizendo: “Entregue os cristãos da sua casa”. Ao que Kaggwa respondeu: “Só há um, aqui. Eu sou o cristão. Após chegar à casa do chanceler foi interrogado por Mukasa e severamente repreendido por ter ensinado o catecismo, inclusivo aos seus filhos. “Levem este homem daqui e matem-no”, ordenou o chanceler. “Tragam-me um braço dele para provar que vocês executaram o trabalho. Não comerei até que o veja”.
Os executores tentaram retardar as suas ações na esperança de que o rei o indultasse em qualquer momento. Kaggwa, no entanto, lhes pedia que o matassem rapidamente e que levassem o seu braço ao chanceler. Em poucos momentos, eles levaram o braço sangrando até Musaka. Testemunhas do martírio disseram que Kaggwa estava usando um manto de fibras vegetais sobre uma vestimenta branca e segurava um pequeno livro na sua mão. Ele implorou aos seus executores que não o deixassem nu, e eles atenderam-no. O abateram e cortaram o seu braço com uma faca. As únicas palavras de Kaggwa foram: “Meu Deus”. Eles o decapitaram e cortaram o seu corpo em pedaços. Os cristãos reverentemente enterraram os seus restos no lugar onde ele morreu. Este lugar não é muito longe do moderno Seminário Católico Superior de Ggaba. Por muitos anos uma simples placa de cimento e uma cruz marcavam esse lugar. Mais tarde foram substituídas por uma moderna igreja santuário construída sobre o túmulo. Andrew
Aylward Shorter M.Afr.
Bibliografia
J. F. Faupel, African Holocaust (Nairobi, St. Paul’s Publications Africa, 1984 [1962]).
J. P. Thoonen, Black Martyrs (Londres: Sheed e Ward, 1941).
Este artigo foi apresentado em 2003, e foi pesquisado e escrito pelo Dr. Aylward Shorter M.Afr., Diretor Emérito do Tangaza College Nairobi, Universidade Católica do Leste da África.
Conexão externa
Encyclopaedia Britannica (artigo completo): Mártires da Uganda