Coleção Clássica DIBICA

Todos os artigos criados ou enviados durante os primeiros vinte anos do projeto, de 1995 a 2015.

Lwanga, Charles (A)

1860-1886
Igreja Católica
Uganda

Charles Lwanga

Charles Lwanga do povo Ganda pertencia ao clã Bush-Buck (ngabi). Apesar de que membros deste clã eram tradicionalmente barrados da presença Real, Lwanga serviu na corte fazendo se passar por membro do clã Colobus Monkey, o clã do seu senhor e patrão anterior. Tem-se a informação de que o seu pai e sua mãe eram Musazi e Meme e que ele nasceu na região de Ssingo e era o irmão menos do mártir Noe Mawaggali. Sejam estas informações verdadeiras ou não, o fato é que ainda muito jovem ele foi enviado a Buddu no sudoeste para ser criado por Kaddu, o qual alguns acham que fosse seu pai biológico, mas que provavelmente fosse seu tio. Assim como Kaddu, sua cor de pele era castanho escuro.

Em agosto de 1878, quando Lwanga tinha dezoito anos, Kaddu mandou-o servir à Mawulugungu, o chefe dos Kirwanyi, isto é mencionado pelo explorador H. M. Stanley. No ano seguinte, o chefe foi transferido para a região de Ssingo e Lwanga o acompanhou. Numa visita a capital no ano de 1980, Lwanga interessou-se pelos ensinamentos dos missionários católicos e começou a freqüentar as suas aulas. Quando Mawugungu morreu em 1882 a sua comitiva se dispersou Lwanga se juntou a um grupo de cristãos recém batizados na região de Bulemezi.

Na ascensão do rei Mwanga, em 1884, Lwanga foi para a corte e entrou no serviço Real. A sua personalidade era tal que foi imediatamente nomeado, no grande auditório, como encarregado geral dos pajens, e ganhou logo a confiança e o afeto daqueles sob seu comando. Lwanga também era bom de luta livre, que era o esporte mais popular no palácio. O seu superior imediato, o futuro mártir Joseph Mukasa, passou toda a responsabilidade sobre os pajens reais a Lwanga, no que diz respeito à instrução, guia e proteção de más influências na corte. Lwanga também passou a ser encarregado da escavação do chamado Lago de Kabaka (do Rei) ao pé do Monte Rubaga.

Em 15 de novembro de 1885, o dia do martírio de Joseph Mukasa, Lwanga e outros servos reais, cujas vidas também estavam em perigo porque eram catequistas, foram até a missão católica e foram batizados pelo Padre Simeon Lourdel. No dia seguinte o rei reuniu a todos os pajens e os questionou sobre dores de morte para que confessassem a sua ligação cristã. Todos eles, católicos e anglicanos, exceto três, o fizeram. Mwanga ficou confuso perante a solidariedade e constância dos jovens cristãos, e hesitou em executar a sua ameaça de matá-los. Várias vezes, no começo de dezembro, o rei tentou intimidar os seus pajens, apesar das visitas de alguns missionários católicos e anglicanos. Numa ocasião, Lwanga declarou que longe de ajudar aos brancos a tomar o reino, ele estava pronto a dar a sua vida pelo rei.

Depois do incêndio no palácio real em 22 de fevereiro de 1886, Lwanga mudou a corte temporariamente para a sua cabana de caça em Munyonyo às margens do Lago Victoria. Aqui, Lwanga continua protegendo seus pajens dos avances homossexuais do rei e a prepará-los para um possível martírio. Neste então, Mwanga tinha obtido o consentimento dos seus chefes para massacrar todos os cristãos. No entanto, Lwanga batizou cinco dos seus mais destacados catecúmenos. No dia 26 de maio, na presença de Lourdel, os pajens entraram ao pátio real para receber julgamento. Uma vez mais foram obrigados a confessar a sua fé, o que fizeram declarando que estavam prontos a morrer antes de negá-la. Mwanga então, ordenou que todos (dezesseis católicos e dez anglicanos) fossem queimados vivos em Namugongo. Um a um, todos passaram na frente de Lourdel que desolado aguardava em vão uma audiência com o rei. Ele percebeu que estavam muito unidos, mas que especialmente estavam calmos e jubilosos perante a morte.

Os mártires foram levados de Munyonyo até Mengo, e de lá fizeram mais oito milhas até o lugar da execução, Namugongo. Ao chegarem foram mantidos confinados por uma semana. Os preparativos para a pira executória não foram completados até 2 de junho. Durante este período os mártires oraram e cantaram juntos, no entanto que os missionários, tanto católicos como anglicanos, se revezavam em visitas infrutíferas ao rei, apelando pelos neófitos. Em 3 de junho, antes de matar o maior número de prisioneiros, os verdugos executaram Charles Lwanga numa pequena pira num morro acima do lugar de execução. Ele foi enrolado numa esteira de junco com uma canga de escravos no pescoço, mas foi-lhe permitido arrumar a sua própria pira. Para fazê-lo sofrer mais o fogo primeiro foi aceso embaixo dos seus pés e pernas, as quais queimaram até o osso antes que as chamas queimassem o resto do seu corpo. Insultado pelos seus carrascos, Charles respondeu: “Vocês estão me queimando, mas é como se estivessem jogando água sobre o meu corpo”. Depois disto ele permaneceu quieto, em oração. Antes do fim ele exclamou em voz alta: “Katonda,”–“Meu Deus”. Depois da sua morte o holocausto maior aconteceu ao pé do morro.

Charles Lwanga foi declarado “Abençoado” junto com os outros vinte e um mártires pelo Papa Benedito XV em 1920. Todos os vinte e dois foram declarados santos canonizados pelo Papa João Paulo VI em 1964. Em 1969, Paulo VI colocou a pedra fundamental sobre a Capela Católica em Namugongo no lugar onde o Santo Charles Lwanga foi martirizado. O santuário foi dedicado em 3 de junho de 1975 por um representante especial do Papa, o Cardeal Sergio Pirgnedoli.

Aylward Shorter M.Afr.


Bibliografia

J. F. Faupel, *African Holocaust *(Nairobi, St. Paul’s Publications África, 1984 [1962]).

J. P. Thoonen, Black Martyrs (Londres: Sheed e Ward, 1941).


Este artigo foi apresentado em 2003, e foi pesquisado e escrito pelo Dr. Aylward Shorter M.Afr., Reitor Emérito do Tangaza College Nairobi, Universidade Católica do Leste da África.


Conexão externa

Encyclopaedia Britannica (artigo completo): Mártires da Uganda