Kuvaluka, Abías Secretários
Abías Secretários Kuvaluka, filho de Kuvaluka Kamuenho e de Sussu Fundanga, nasceu na aldeia de Sesse, na encosta do monte Mbave nas margens do rio Keve, município do Bailundo, província do Huambo, Angola, aos 15 de fevereiro de 1917. Ele foi angolano, evangélico, e membro da Igreja Evangélica Sinodal de Angola (IESA). Foi angolano do grupo etnolinguistico Ovimbundu do planalto central e falava fluentemente português e Umbundu.
O nome Secretário resulta da visita que teve nos dias do seu nascimento de um senhor português, na altura era chefe do Posto Administrativo daquela aldeia. Este senhor fazia o recenseamento na comunidade, encontrou a mãe com o bebé recém-nascido, e colocou-o em seus braços. Alegre com o menino, disse que não se chamaria mais “Epalanga,” nome que os pais haviam dado ao menino, mas seria seu chara. Como na comunidade ninguém conhecia o nome do “chefe, colono,” também ninguém ousava perguntar o nome do “ocindele (branco),” começaram a chamar o bebé de Secretário, já que o senhor era conhecido como secretário do Posto Administrativo local.
Fez sua formação académica e profissional (professor) no Instituto Currie da Missão Evangélica do Dondi, Huambo, que pertence a Igreja Evangélica Congregacional de Angola (IECA). A formação bíblica fez na Missão Evangélica de Kaluquembe, Huíla, da Igreja Evangélica Sinodal de Angola (IESA). Contraiu matrimónio com a senhora Adélia Namoco em 1940; esta nascida em Sassomo, Município do Bailundo, província do Huambo, formada na mesma Missão (Dondi). Deste casamento resultou onze filhos.
Kuvaluka foi batizado na IECA, onde foi membro durante os seus primeiros anos de cristianismo. Começou sua vida profissional como professor, em 1938 na Missão do Dondi, tendo sido posteriormente transferido no município de Kaluquembe, devido a necessidade que ali havia onde trabalhou também como professor, cerca de cinco anos. Chegou em Kaluquembe no ano de 1946, com sua esposa e os primeiros três filhos; requisitado pelo Dr. Rodolfo Brechett (missionário suíço que trabalhava para Missão Fila Africana) para acudir a necessidade de professores que existia na Missão.
Teve seu chamado para o ministério pastoral enquanto trabalhava como professor na Missão Evangélica de Kaluquembe. Foi no ano de 1951 que decidiu aceitar ao chamado de Deus e desafio de abandonar sua profissão de professor. Entrou na Escola Bíblica da Missão Evangélica de Kaluquembe e veio ser consagrado oficialmente ao ministério pastoral em 1955.
Trabalhou como ministro do Senhor, nas várias congregações da IESA. Depois da consagração como pastor, foi colocado no Centro Evangélico de Vionga, (município de Kaluquembe, província da Huila-Angola), onde pastoreou esta igreja local de 1956 a 1960, entre o povo Ovimbundu. Nessa localidade sua obra destaca-se pela sua influência na pregação do evangelho holístico. O povo desta localidade aprendeu além da adoração ao Deus verdadeiro (YAVE), a agricultura. É lembrado nessas paragens pelo seu pastoreio ao povo de Deus, mas principalmente por ter ensinado o povo, plantar as várias espécies de arvores, como cafeeiros e citrinos (até aos dias de hoje na localidade existem árvores deixado por ele). É de salientar que o povo de Vionga conheceu o cafeeiro por meio dele, antes nunca tinham visto esta planta, como eles próprio testemunharam.
No ano de 1960, Kuvaluka foi transferido na Leprosaria da Katala (Quilengues-província da Huíla-Angola), controlando três centros (igrejas locais) e respectivas filiais, onde ministrava os ofícios pastorais. Trabalhou na missão evangélica com o mesmo nome, como, entre o povo Ovacilenge do grupo etnolinguístico Ovanyaneka até o ano de 1972. Nesta localidade participou da construção do hospital da Kapupa, que muito ajudou a população na área de medicina. Fez várias viagens de prospecção nas novas áreas de evangelização, entre elas a Serra das Neves a famosa “Munda yo Vaimbo,” onde hoje existe uma igreja local entre os povos e Ovakuisi e Ovacilengue.
Kuvaluka trabalhou ainda na igreja local de Kukala na Missão Evangélica de Kaluquembe de 1973 a 1987, altura de sua aposentação. Ali exerceu o seu ministério pastoral apascentando o rebanho do senhor, entre o povo Ovimbundu, em meio a guerra.
Para além de liderar as igrejas locais, Kuvaluka presidiu algumas comissões gerais da IESA.
Sua determinação em deixar o professorado e ingressar no ministério pastoral, em meio ao sistema colonial, que não reconhecia o papel da igreja, muito menos a função de pastor, foi um exemplo inédito que tem influenciado muitos até hoje. Exemplo disso é seu filho, que se tornou pastor, depois de ter sido também professor e de forma voluntária deixou de trabalhar para o governo, aceitou o chamado de Deus. Hoje, ele serve como pastor numa das maiores igrejas da cidade do Lubango.
Ainda em meio a guerra, Kuvaluka participou no processo de implantação da igreja nas áreas de difícil acesso, que era apenas uma estação missionaria assegurada pelos missionários suíços. Foi um dos poucos angolanos a aceitar o desafio de ser pastor evangélico, num país onde predominava o catolicismo.
Sua obra foi predominante, e seu legado tem marcas indeléveis nas comunidades onde trabalhou pastoreado a igreja do Senhor. É recordado como um grande herói de fé, pois embora já sendo um intelectual ou “assimilado” na altura, aceitou o desafio de abandonar o seu serviço no estado, em meio a guerra e perseguição dos cristãos protestantes. Tal decisão constitui uma proeza, e é recordada com bastante saudade até aos dias de hoje.
Kuvaluka, já com a idade avançada, passou seus últimos anos na cidade do Lubango. Veio falecer em perfeita velhice, aos oitenta e nove anos de idade, no dia 12 de fevereiro de 2006, vítima de doença. Foi enterrado no cemitério municipal da cidade do Lubango. Deixou onze filhos, dos quais um também é pastor evangélico.
Serafim do Nascimento Tchalonda Tchiloia
Fontes:
Abias, José Evaristo. Entrevista com autor, 27 de março, 2020, Lubango.
Gabriel, Elias. Entrevista com autor, 30 de março, 2020.
Diu, Domingos. Entrevista com autor, 28 de março, 2020.
Tchilupela, Chico. Entrevista com autor, 30 de março, 2020, Quipuno.
Manico. Entrevista com autor, 4 de abril, 2020, Kaluquembe.
Candeeiro. Entrevista com autor, 4 de abril, 2020, Kaluquembe.
Esta biografia, recebido em 2020, foi escrita por Serafim do Nascimento Tchalonda Tchiloia, candidato de receber o Mestrado de Artes em teologia na especialidade de missões pelo Instituto Superior de Teologia Evangélica no Lubango (ISTEL). Formou-se em teologia na mesma instituição com grau de Licenciado. Ele está pastoreando uma igreja no Lubango que pertence a Igreja Evangélica Sinodal de Angola (IESA). Esta biografia foi escrita sob a supervisão de Sindia Foster, instrutora no ISTEL e missionária em Moçambique com Serving in Mission (Servindo em missão, SIM).