Coleção Clássica DIBICA

Todos os artigos criados ou enviados durante os primeiros vinte anos do projeto, de 1995 a 2015.

De Barros, Luciano Gomes

1909-1999
Igreja do Nazareno
Cabo Verde

Luciano De Barros

O Rev. Luciano Gomes de Barros é filho do General Augusto Figueiredo de Barros o qual foi governador das Ilhas do Cabo Verde. Luciano nasceu em Trindade na Ilha de São Tiago. Ele também foi empregado do governo, era um excelente fotografo profissional em Praia, São Tiago, a capital de Cabo Verde. Ele encontrou-se com o Senhor la em Praia. Ele era alto, bem educado, tranqüilo e de mansas palavras. A sua primeira esposa, Sra. Maria Augusta (Silva) Barros (? -1937), faleceu no nascimento do terceiro filho. Eles se amavam muito e a sua perda foi muito dolorosa pra ele.

Um dia em 1938 ao passar pela casa da missão ele escutou alguém cantando “Meu Lar Palácio de Marfim.” Aquela musica o atraiu e ele entendeu o significado das palavras em inglês. A multidão lado de fora da janela do recinto lhe disse que era uma missa protestante. No próximo culto ele foi um dos primeiros a entrar na casa vestindo um terno muito formal e sóbrio. Ele abriu seu coração com os pregadores e por ter encontrado conforto tornou-se um visitante assíduo. Nas semanas seguintes ele depositou as suas cargas em Cristo e foi totalmente santificado em 1940.

A primeira vez que ele convidou os protestantes nazarenos para ter um culto na sua casa, a sua mãe que era católica pegou o bebê dele e fugiu pela porta dos fundos. Passaram-se muitos anos até que ela também encontrou o Senhor e as desavenças foram curadas. Logo após, Deus o chamou para o ministério. Ele teve que orar muito para que Deus lhe tirasse o medo de falar em público. Ele abandonou o seu negócio como fotógrafo mesmo ganhando quatro vezes mais que na função de pastor. Ele começou seu pastorado em Brava em 1943.

Casou-se com uma moça cristã muito dedicada, Ricardina (1920-). Tiveram oito filhos e cinco filhas. Eles tinham um sino pendurado na varanda que era tocado duas vezes por dia para chamar a todos para uma oração familiar. A vida de oração deste pastor trouxe muitos avivamentos, cura divina, libertação de possessão demoníaca e outros milagres. Por muitos anos ele carregava um pedaço de couro no bolso que ele usava para ajoelhar-se nas suas orações num lugar isolado próximo da vila. [1]

Assim que ele chegou a Fogo em 1946, eles ficaram por um período de quarentena na casa de alfândega. Não tinham comida ou água e o lugar ficava a uma milha da cidade. Após muita oração, finalmente ganharam permissão para ir até a cidade. Eles testemunharam sessenta conversões no seu primeiro mês em São Filipe.

Uma noite entre 1946 e 1941, no lado norte de Fogo, a sua mula tropeçou e derrubou a sua pasta. Isto aconteceu numa trilha montanhosa muito perigosa com um precipício cujo fundo eram rochas a beira do oceano. Ele não pôde achar a sua pasta, e era muito perigoso procurá-la na escuridão. Luciano Barros pediu ajuda e um homem chamado Jesuíno Monteiro (o pequeno homem religioso), da vila vizinha chamada Bombardeio o auxiliou. Ele era um crente. Ao chegar à casa de Monteiro, Barros anunciou que tinha boas novas para a vila. Enquanto ele falava, eles escutavam com grande interesse por várias horas. Ele precisava de sua Bíblia que estava lá na pasta, então na manhã seguinte, um menino e ele voltaram lá e a encontraram.

Ao voltarem, encontraram todas as pessoas da vila reunidas. Um senhor e seus filhos tinham ido casa por casa e convidado a todo para irem à reunião. As pessoas escutaram até próximo do meio-dia. Então, antes de orar, o pastor disse que quem quisesse confessar os seus pecados a Deus e receber Jesus como Salvador, que desse um passo à frente. Todos deram um passo à frente. Pensando que eles não tinham entendido bem, explicou novamente. Uma vez mais, todos deram um passo à frente. Então, o homem que o tinha ajudado deu um passo à frente e disse: “-Senhor, vocês é quem não entende. Nós todos queremos orar com você.” Aquele dia, Cristo veio a toda a vila. Todos oraram e reconheceram a Cristo como o seu Salvador. Algum tempo depois, durante uma amarga época de escassez e fome que atingiu às ilhas, aquela vila escapou. Eles relataram que nenhuma pessoa morreu de fome. Fogo é um dos maiores vulcões ativos no mundo. O seu cone tem aproximadamente três mil metros de altura. Colunas de fumaça freqüentemente saem dele. Entre as inundações de lavas e os férteis vales, muitas pessoas vivem e produzem cultivos tropicais tais como cana de açúcar, café, laranja, feijão e manga. Eles passar por uma terrível seca de cinco anos. Um terço das vinte e cinco mil pessoas morreram de fome e muitas abandonaram a ilha. Luciano Barros (chamado de Jeremias chorão de Cabo Verde) era pastor em São Filipe nessa época. Muitas vezes as pessoas só tinham uma refeição por dia.

Os mais atingidos eram aqueles que residiam dentro da cratera chamada Chã das Caldeiras. Através dos ministros Ilídio Silva e Luciano Barros, existia ali uma comunidade cristã devota. Todos os dias eles passavam uma hora, das quatro às cinco da madrugada, em oração. Uma crise os atingiu em março de 1946. A pequena, quase inacessível fonte de água, longe e fora da cratera secou. Um residente, Semiano Montround, explicou: “- A menos que Deus nos ajude, nós vamos morrer de fome e sede.” Cada dia o sofrimento ficava pior. Estava chegando o fim deles.

Um dia Barros, desafiou aquele pessoal a orar pedindo chuva. Eles colocaram a sua fé em Isaías 41:17-18: “O pobre e o necessitado buscam água, e não a encontram! Suas línguas estão ressequidas de sede, mas eu o Senhor, lhes responderei; Eu, o Deus de Israel, não os abandonarei. Abrirei rios nas colinas estéreis e fontes nos vales. Transformarei o deserto num lago e o chão ressequido em mananciais.”

O grupo de cristão acreditou na promessa de Deus. Um homem o expressou assim: “-Isto não é uma promessa pra nós aqui em Chã? Nós estamos em montanhas estéreis. Estamos procurando água. Eu estou orando por chuva.” Todos voltaram para casa determinados a continuar orando e acreditar na promessa de Deus. [3]

De repente, ao amanhecer, o povoado reviveu. As pessoas estavam chorando, gritando, cantando, e falando alto. Uma fonte de pura água fresca estava jorrando da parede da cratera acima deles e pelo menos a trezentos metros sobre o nível do mar. Um reservatório foi rapidamente construído, e prontamente desbordou. Cinqüenta anos depois, ainda estava jorrando. Barros liderou o povo em oração de agradecimento: “-Deus, tu o fizestes de novo! Como nos dias de Moisés o Teu toque fez a água jorrar da rocha.”

Em 1948, quando Barros era pastor em Santa Catarina, no interior de São Tiago, um jovem de dezoito anos foi visitá-lo. Alguns anos atrás uma doença deixou o Sr. Olvindo dos reis (n.1930-) completamente surdo. O seu amigo Muchinho tinha se convertido num culto nazareno e relatou o fato a Olvindo usando a língua de sinais. Olvindo foi com ele à casa do pastor. Ele não podia escutar nada do que o pastor dizia, portanto não podia entender como encontrar a salvação. Havia um desejo no seu coração, mas ele não podia escutar nada das orações do pastor ao seu favor. Barros fez três longas orações, e nada aconteceu.

Então, em desespero, ele levantou a sua voz e orou: “-Oh, Deus de toda a misericórdia!”. Olvindo repetiu, demonstrando entender pela sua expressão facial. Ele conseguiu repetir toda a oração após as palavras do pastor, sem nenhum erro, e foi salvo. A restauração parcial da audição de Olvindo continuou. Em 1958, foi relatado que ele ainda podia escutar sons a curta distância.

Barros cavalgava na sua mula todas as semanas, até uma pequena capela em Ribeira da Barca a quinze milhas de Santa Catarina. Depois de visitar diversos lares durante toda a tarde e pregar durante a noite, ele voltava para casa pela tortuosa trilha da montanha. Ao cavalgar na escuridão, ele começou a ficar cada vez mais preocupado, porque ninguém tinha se convertido naquele dia. Desmontou da sua mula e ajoelhou-se para orar. Pouco tempo depois, um estranho, José dos Santos, vinha passando num burro. Eles cavalgaram juntos e conversaram. Barros relata: “-Deus colocou na minha boca as palavras certas para falar-lhe”. Pouco depois, dos Santos pediu para orar e encontrou o Senhor, lá mesmo ao lado da trilha. Apesar de ser tarde da noite, o homem insistiu que Barros o acompanhasse até a sua casa. Ele acordou a sua esposa e sua sogra que estavam dormindo, e o pastor leu a bíblia pra elas e lhes falou por pouco tempo. As duas foram convertidas naquela noite.

Pouco tempo depois, ele visitou o missionário Earl Mosteller, e voltou a São Tiago num navio a vapor. Barros escreveu sobre a sua viagem: “-Dois homens se converteram a bordo do meu navio na noite passada, um passageiro de São Vicente que estava indo para a África e outro que embarcou em Lisboa, Portugal, para Praia.” Durante os anos que passaram em São Nicolau, a Sra. Ricardina Barros subia pelas trilhas, as montanhas rochosas. Ela encontrou um grupo receptivo na vila montanhesa de Farjã. Ali ela presenciou a conversão de famílias completas e uma igreja forte se organizou. Em 1975 ela teve a honra de cortar a fita da consagração de um lindo edifício da nova igreja, a primeira igreja protestante na ilha. Esta foi a última das nove ilhas do arquipélago, onde a Igreja do Nazareno se estabeleceu. [4]

Ao falar do Rev. Luciano de Barros, o missionário Everette, disse: “-Ele é tão bom orador quanto os melhores. (…)” Nos cultos de domingo pela manhã, em Praia, a casa está sempre cheia com “algumas das pessoas mais finas da cidade. Têm professores da escola pública, oficiais dos correios e praticamente de todos os departamentos do governo.” [5]

Após a sua aposentadoria, o Rev. Luciano de Barros, residiu em Portugal. Dois de seus filhos: Jorge e Daniel, com suas respectivas esposas Manuela e Maria Luisa, se tornaram pastores em Cabo Verde. O Rev. Jorge Barros, mais tarde foi para o Departamento de Publicações, em Kansas City, Missouri, EUA. O Rev. Daniel se tornou pastor na igreja de Ponta Delgada, dos Açores, e superintendente dos distritos dos Açores e Sul de Portugal. [6]

O vulcão em Fogo entrou em erupção em 1951; mas tudo estava calmo e pacífico até o começo de abril de 1995. Perto da meia noite, a terra começou a tremer perto da base do cone. A montanha então entrou em erupção, lançando rochas e cinzas sobre a área, seguidos de jatos de fogo e lava. Gases tóxicos inundaram o ar. O pacífico vale de Chã de Caldeiras, prontamente ficou coberto com capas frescas de lava. As casas, os campos, os jardins e as estradas, todas foram cobertas por uma corrente quente de rochas derretidas. As pessoas da área acordaram com o som da terra tremendo, assim que o vulcão entrou em erupção. À medida que as rochas, areia e cinzas começaram a cair sobre as suas casas e em sua volta, o terror se espalhou. Eles começaram a correr procurando se salvar, levando os bebês e as crianças pequenas. Os velhos e doentes eram auxiliados. Milagrosamente, nenhuma vida foi perdida. As estimativas mostraram que aproximadamente duas mil pessoas foram atingidas.

O governo imediatamente providenciou tendas, comida e provisões. O Ministério de Compaixão Nazarena, representado pela Liga Nazarena de Solidariedade e seu presidente, Rev. Aderito Ferreira, rapidamente enviaram cobertores e outros itens necessários. O Rev. Ferreira era pastor na igreja de Tarrafal, na área de São Tiago. O Ministério de Compaixão Nazarena, em colaboração com o Bright Hope International, contribui para a reconstrução das casas das vítimas da erupção. A Liga continua a ajudar. O pastor leigo Carlos Graça da Igreja de Patim, serviu no comitê e continua a auxiliar as pessoas atingidas.

Paul S. Dayhoff


Notas

  1. Donald Reed, J. Elton Wood, e Jeanine Van Beek, Upon This Rock: Nazarene Missions in the Middle East, Cape Verde, and Europe, (Kansas City, MO: Casa Nazarena de Publicações, 1972), 66.

  2. Everette Howard and Jorge de Barros, The Seed and the Wind, (Kansas City, MO: Casa Nazarena de Publicações, 1982), 29-31.

  3. Olive G. Tracy, The Nations and the Isles: A Study of Missionary Work of the Church of the Nazarene in the Nations - Israel, Jordan, Syria, Lebanon, Italy - and the Isles - the Cape Verde Islands, (Kansas City, MO: Casa Nazarena de Publicações, 1958), 213-214; Lorraine Schultz, Because Somebody Prayed: Miracles in Nazarene Mission, (Kansas City, Casa Nazarena de Publicações, 1994), 36-40.

  4. Rev. J. Elton Wood, carta (29 Março 1996).

  5. Basil Miller, Miracle in Cape Verde: The Story of Everette and Garnet Howard, (Kansas City, MO: Beacon Hill Press of Kansas City, 1950), 145.

  6. Earl Mosteller, carta: (21 de abril, 1995); Dr. Jorge Barros, relatório (Kansas City, 28 Julho 1995); Luciano Barros ao Rev. Earl Mosteller, carta (17 Abril 1995).s


Este artigo é produzido com permissão de Living Stones In Africa: Pioneers of the Church of the Nazarene copyright © 1999 por Paul S. Dayhoff. Todos os direitos são reservados.