Coleção Clássica DIBICA
Todos os artigos criados ou enviados durante os primeiros vinte anos do projeto, de 1995 a 2015.Dias, João José
O Pastor João José Dias foi o pioneiro do ministério Nazareno nas Ilhas de Cabo Verde, ele era da ilha Brava. Desde criança foi ensinado que a Igreja Católica Romana era a única igreja verdadeira e que somente através dela se poderia chegar ao céu, enquanto os protestantes eram hereges emissários do diabo. Ele não sabia nada sobre Jesus como salvador ou sobre a Bíblia. Ainda criança ele percebeu o vazio e escárnio deste sistema, não estava satisfeito e desejava alguma coisa melhor. Ele procurava o Deus não conhecido.
Seu pai era capitão de navio e aos dezesseis anos de idade João foi para o mar e navegou junto a ele para os EUA. Ele foi para New Bedford, Massachusetts, onde havia uma grande colônia portuguesa. Juntou-se com más amizades que o levaram a um estilo de vida de maldade.
Dois anos depois de sua chegada foi convidado a visitar uma missão protestante. Foi por curiosidade mas, foi bem recebido o que derrubou seus preconceitos. Seus amigos o denunciaram por ter freqüentado um culto protestante. A pesar disto ele começou a freqüentar os cultos regularmente, escutava com atenção e observava o modo como os Cristãos viviam. Como resultado, um dia ele encontrou o Senhor e a salvação.
Um ano depois ele escutou sobre o batismo com o Espírito Santo. Na missão em Providence, Rhode Island, João entregou sua vida completamente a Deus e encontrou a certeza interna da completa purificação do pecado. Imediatamente ele sentiu a necessidade de levar este evangelho às suas ilhas nativas. Ele cursou quatro anos de escola primaria e aprendeu inglês sozinho.
João começou a testemunhar principalmente entre o seu povo. Alguns encontraram a salvação, inclusive seu pai, e vários jovens foram completamente santificados. Por vários anos ele se envolveu intensamente no trabalho do Senhor. Então a Associação das Igrejas Pentecostais da America que mais tarde uniu-se à Igreja do Nazareno em 1907, o enviaram à Cabo Verde com a promessa de sustentá-lo com um pequeno estipêndio.
Junto com alguns convertidos ele embarcou num navio para Cabo Verde em fevereiro de 1901. O navio sofreu uma rachadura e tiveram que bombear água pra fora por dezesseis dias. A situação parecia desesperadora. No entanto eles chegaram sãos e salvos à São Miguel nos Açores. Logo após a chegada em Brava ele casou-se com a Srta. Joana Lomba (1882-1968). Ela tinha se convertido na idade de quinze anos em Cabo Verde. [1]
Dias viajou de povoado em povoado contando a historia do amor de Deus. Um fiel grupo de ajudantes o acompanhou. A perseguição era ferrenha. No ano em que chegou ele relatou: “Uma multidão rodeou a missão e fizeram tanto barulho que foi impossível continuar com o culto. Duas vezes tivemos que pedir ajuda ao chefe da policia. Foi quase impossível deter os quinhentos ou mais atacantes.” [2] Dias era chamado de diabo o qual dava conferencias com Satanás debaixo da sua cama. Circulavam relatos que ele cavalgava num cavalo branco pelos campos e recebia dinheiro do diabo para pagar os convertidos. Até a sua própria família espalhava tais rumores. O proibiram de fazer cultos e duas vezes foi atacado por multidões frenéticas que o apedrejaram o trataram com brutalidade. Certa vez o surraram até ficar inconsciente e o abandonaram como morto. Seus seguidores eram molestados, submetidos a indignidades e açoitados. Alguns ficaram com deficiência para o resto da vida. [3]
Em quatro ocasiões preso e foi levado perante uma corte vingativa. Na prisão ele cantava e louvava a Deus de tal modo que os transeuntes ficavam maravilhados. Um de seus companheiros na prisão traduziu a canção “Feliz no caminho” a qual passou a ser uma das favoritas na Igreja de Cabo Verde. A sentença de prisão de longo prazo de trabalhadores missionários foi cancelada mediante uma anistia geral outorgada em honor à morte da Rainha Victoria da Inglaterra. Dias sempre retomou seu trabalho de evangelismo e continuou a demonstrar a vida e o espírito de Cristo.
Em 1918 o Padre Pedro, o pároco de Brava, planejava expulsar os protestantes da ilha. No entanto o padre envolveu-se num problema com uma mulher e o marido dela na paróquia. O povo enfurecido inclusive sua congregação ficaram contra ele e teve que ir embora. Antes de partir ele admitiu que os protestantes não eram tão perigosos como ele os havia feito parecer. Dias lhe escreveu tentando ajudá-lo espiritualmente. [4] Os preconceitos gradualmente começaram a desfazer-se. Em 1923 Dias relatou: “Estou sofrendo alguma persecução, mas, vou resistir à tormenta até que Jesus volte. Por favor, orem por mim.” [5]
Deus abençoou o ministério deles a por volta de 1916 já havia 87 membros na congregação de Brava. Com ajuda do EUA foi construído um templo para duzentas pessoas. O prefeito e até padres católicos algumas vezes participavam dos serviços. Uma missão estabeleceu-se em São Vicente em 1931 e a família Dias viveu na missão por dois anos antes de aposentar-se. Também havia Cristãos Nazarenos em Santo Antão. A saúde de Dias começou a declinar e ele pedir que missionários viessem substituí-lo. [6]
Em 1938, depois da chegada dos missionários Everette e Garnet Howard em 1936, o Pastor João e a Sra. Joana Dias voltaram aos EUA onde seus filhos haviam fixado residência. [7]
Paul S. Dayhoff
Notas
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“Sr. John Dias,” em As Outras Ovelhas, (Kansas City, MO: Casa Publicadora Nazarena, maio 1969), 22.
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E. Duarte, relatório, Trans Africano, (Florida, Transvaal, África do Sul: Publicações Nazarenas da África, maio-junho 1992), 2; citado em Cristãos Beulah, órgão oficial do movimento de união dos grupos de santidade - que resultou na formação da Igreja do Nazareno, (agosto 1901).
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Olive G. Tracy, As Nações e as Ilhas: Um Estudo do Trabalho Missionários da Igreja do Nazareno às Nações de: Israel, Jordânia, Síria, Líbano, Itália - e as Ilhas de Cabo Verde, (Kansas City, MO: Casa Publicadora Nazarena, 1958), 186.
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Roy E. Swim, Historia das Missões da Igreja do Nazareno, (Kansas City, MO: Casa Publicadora Nazarena, 1936), 185-189.
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J. Dias, “Línguas e Espiritismo,” em As Outras Ovelhas, (Kansas City, MO: Casa Publicadora Nazarena, maio 1923), 15.
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Amy N. Hinshaw, Carregadores de Tochas Nativos, (Kansas City, MO: Casa Publicadora Nazarena, 1934), 13ss.
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“In Memoriam,” in The Other Sheep, (Kansas City, MO: Casa Publicadora Nazarena, março 1965), 11; António Leite, carta (29 de maio de 1995).
Este artigo é reproduzido com permissão de: Living Stones In Africa: Pioneers of the Church of the Nazarene copyright © 1999, por Paul S. Dayhoff. Todos os direitos são reservados.