Coleção Clássica DIBICA

Todos os artigos criados ou enviados durante os primeiros vinte anos do projeto, de 1995 a 2015.

Domingues, Adelina

1888-2002
Igreja do Nazareno
Cabo Verde

Adelina Domingues viveu em Brava, uma das menores ilhas e uma das mais atingidas pela seca de Cabo Verde. No dia em que Adelina nasceu seu pai, um jovem piloto do porto, estava em alto mar pilotando um navio na entrada de Furna. O capitão da escuna era um amigo de infância de uma pequena vila na Itália, onde foram criados. Ao chegar em casa naquele dia, o capitão colocou na mão esquerda do bebê uns brincos de ouro muito caros, no momento em que o pai colocava na mão direita do bebê a moeda de ouro que acabara de ganhar. O capitão fez um pedido para que quando Adelina crescesse, ela fosse tão pura quanto o ouro. Nenhum deles sabia como orar, mas aquele desejo teria um tremendo impacto na sua vida de adulta. Sua mãe, freqüentemente lhe contava aquela história, e ainda menina estava determinada a fazer o melhor possível para preencher aquele desejo. Suas primeiras lembranças quando tinha quarto anos, era de ir a cavalo ou numa charrete com o seu pai até a praia em Cabo Verde.

Todos os residentes de Brava eram católicos romanos e os padres lhes controlavam ameaçando-lhes com a promessa de ficar mais tempo no purgatório. Adelina teve uma vida pura de acordo com os seus conhecimentos e era muito religiosa. No entanto, os rituais e as cerimônias não satisfaziam a sua fome de significado real para a vida e a adoração. Ainda adolescente, ela entrava debaixo das árvores de café do vale e orava: “- Deus, a minha mãe me diz que você está no céu, mas está na terra também. Você pode mandar um anjo pra que me diga o que fazer para ser perdoada e não ter que ia para o purgatório?” O anjo, nunca veio.

Quando ela tinha dezoito anos, foi acertado para casar-se com o Sr. José Manuel Domingues. O seu casamento foi arranjado. Ele era filho de uma família muito próspera, mas ainda menino fugiu de casa para trabalhar como ajudante na cozinha de um navio baleeiro. Numa parada na Flórida, algumas moças da Missão Bethel, presentearam José com uma bíblia em português. Algumas semanas mais tarde em Providence, Rhode Island, ele conheceu três jovens cabo-verdianos que o convidaram para ir à igreja. Lá na Igreja nazarena da Providência do Sul, ele escutou a história da salvação pela primeira vez, e tornou-se um seguidor de Jesus Cristo. Quando os quatro rapazes voltaram para casa, a família de três deles, responderam favoravelmente ao seu testemunho, mas não foi assim com a família de José.

A família de José era católica romana fanática, e rejeitou com raiva o seu testemunho de salvação e começou a persegui-lo com propósito de destruir a sua nova fé. Os homens o pegaram a força e derramaram uísque na sua cabeça e na sua boca, mas não conseguiram deixá-lo bêbado. Ele tornou-se ativo auxiliando João Dias no começo da Igreja do Nazareno em Cabo Verde. A sua família tento dissuadi-lo, dando-lhe muito dinheiro e acesso a mulheres de moral questionável. Não conseguiu resistir esta tentação, e começou uma vida de promiscuidade sexual, que continuou depois do casamento.

Poucos dias após o seu casamento em 1906, José partiu para os Estados Unidos numa pequena escuna. Ele tinha observado o zelo supersticioso da sua esposa nos rituais de votos da sua obrigação da fé católica. Um dia ele lhe disse: “-Eu vou sentir muito se eu morrer na condição em que estou e for para o inferno e encontrar-me com você lá, também, com todo o seu desejo e sinceridade de religião, mas sem salvação.” Antes de partir para a viagem, ele falou para ela sobre o caminho da salvação e trouxe a bíblia da casa dos seus pais para a sua casa. Ele a tinha escondido quando eles tentaram tomá-la sete anos atrás. Ele a desafiou a ler a bíblia, e descobrir o caminho verdadeiro. Na manha seguinte ela subiu ao topo de uma montanha para ver o navio do seu marido desaparecer no horizonte. Naquela noite, depois que todos foram dormir, ela pegou a bíblia. Tremendo de medo, ela abriu o livro proibido e leu a história de Nicodemos. Então ela começou a orar. De repente, alguma coisa aconteceu: “- Senti um gozo indescritível. Cai de joelhos ao lado da cama e comecei a falar com Deus, ‘você entrou no meu coração, vou começar uma nova vida.” Passada a meia-noite, ela orou: “ -Senhor, o que queres que eu faça?” Ela escutou a resposta: “-Quero que leves meu nome ás pessoas mais pobres, e que tu os ames por mim, esta é a tua tarefa por toda a tua vida.” Estando sozinha sob a guia do Espírito Santo, ela não somente encontrou a salvação, mas foi completamente santificada. [1]

Ela emigrou com o seu marido em 1907 e ele trabalhou como pescador em New Bedford, Massachusetts. Alguns anos mais tarde, ela saiu num domingo de manhã para encontrar uma igreja. Ela perguntou a um homem numa esquina: “- Onde há uma boa igreja onde as pessoas gostem da sua religião?” Ela foi encaminhada a uma pequena Igreja de Nazareno a poucas quadras dali. Prontamente ela se tornou uma parte vital da congregação e mais tarde organizou uma missão entre os cabo-verdianos. O trabalho que ela começou tornou-se o melhor no distrito da Nova Inglaterra. Ela trabalhou numa fábrica, para ter recursos para enviar bíblias, comida e roupa para Brava. Tornou-s e uma maravilhosa pregadora conhecida por suas fortes e apaixonadas pregações, e multidões iam escutá-la.

Ela orou pela conversão do seu marido durante toda a vida. O Senhor Domingues ficou muito doente no hospital, e arrependeu-se. Três semanas antes que ele morresse em 1950, ele reencontrou o Salvador que havia conhecido na juventude. O seu tributo à sua esposa foi: “-Jamais vou encontrar ninguém com tanto amor.” [2]

Adelina visitou Brava em 1953 e viajou pela região com os missionários, Rev. Earl Mosteller e Sra. Gladys Mosteller, e outros trabalhadores. Às vezes por mar em barcos à vela ou por terra no lombo de burros. Em cada lugar que ela testemunhava, as pessoas respondiam e encontravam o Senhor. Earl Mosteller relatou que eles ficaram atônitos quando um dos principais pastores veio e disse que ele estava renunciando. Ele tinha sido fortemente tentado, e sentia que estava sendo vítima de injustiça. Eles chamaram Adelina Domingues para que orasse por ele. Ela começou a dizer-lhe como Cristo tinha sofrido: “- Com lágrimas caindo de seus olhos e sua voz elevando-se de maneira dramática, nós começamos a sentir um pouco do sofrimento de Cristo. Como resultado direto da sua oração, o pastor voltou a sua função. Ele retornou a servir em uma das maiores igrejas de Cabo Verde e tornou-se um dos mais eficazes superintendes distritais.”

Ela ministrou em Cova de Joanna, Brava. Foi relatado que por dois meses ela visitou, orou, exortou, testemunhou, advertiu e chorou, até que cada taberna na vila foi fechada e as danceterias pararam de funcionar. Todos os músicos das da noite se converteram. A Sra. Adelina Domingues, doou uma casa para servir de lugar de reunião para a nova congregação. Ela doou a propriedade da família em Cabo Verde para a Igreja do Nazareno do lugar.

De acordo com fontes familiares, Adelina Domingues viveu sozinha em sua casa, até a idade de 107 anos, e freqüentemente preparava o almoço de domingo para as visitas. Ela não só viveu mais que o seu marido, mas também mais que os seus quarto filhos. Ela era costureira. O seu neto Murphy disse: “- Se ela não estava costurando, ela estava fazendo coisas para ajudar a outros, ou estava lendo a bíblia e orando.”

No dia dezenove de fevereiro de 1998, Adelina completou 110 anos de idade. Ela tinha perdido a sua audição, e a sua memória não sempre era muito boa. A Srta. Vivian Sloan a visitava regularmente, e os seus parentes mais próximos a visitavam sempre que podiam. Quando ela tinha 113 anos de idade em outubro de 2001, a sua nora Rosalie Domingues e a sua mãe, Rosemary Swanson junto com as meninas Tiffany e Annalesa, a visitaram num domingo. Uma amiga, Vivian Sloan, se mantinha em contato com ela regularmente. Adelina falou que aguardava a volta do Senhor, e que todos seriam levados. [3] Ela atribuía a sua longevidade, em parte, as sua grande fé. Ela viveu numa casa para idosos, chamada Brighton Place em Spring Valley, Califórnia, desde 1956. Adelina morreu dormindo em 23 de agosto de 2002, com 114 anos, a pessoa mais idosa na América. Aquele foi o seu dia de coroação. O dia do seu nascimento em 19 de fevereiro de 1988 foi verificado pelo Consulado de Cabo Verde em Boston. A família sempre achou que ela era um ano mais velha. [4] Ela ganhou o registro do Livro de Recordes, como a pessoa mais velha nos EUA e a segunda mais velha no mundo. Uma senhora Japonesa cinco meses mais velha que ela, foi considerada a mais velha. Os descendentes de Adelina incluem cinco netos e nove bisnetos. [5]

Paul S. Dayhoff


Notes:

  1. O. Tracy, 1958, The Nations and the Isles: A Study of Missionary Work of the Church of the Nazarene in the Nations, Israel, Jordan, Syria, Lebanon, Italy, and the Isles, the Cape Verde Islands, (Kansas City, MO: Casa Publicadora Nazarena), 187-88; Srta. Vivian Sloan, carta, 19 de Julho, 1995.

  2. E. Mosteller, 1958, Cape Verde Travelogue, (Kansas City, MO: Casa Publicadora Nazarena), 73; Earl Mosteller, carta, Seattle, Abril 21, 1995; Gene van Note, 1981, Holiness in the Marketplace, (Kansas City, MO: Beacon Hill Press of Kansas City), 18-27.

  3. Vivian Sloan, carta de Lemon Grove, Califórnia, 13 de Outubro, 2001.

  4. “Mulher Nazarena, 115, Provavelmente a Pessoa mais Velha do Mundo,” Holiness Today, revista da Igreja do Nazareno re reemplaçou The Herald of Holiness e World Mission, (Kansas City, MO: Casa Publicadora Nazarena, Julho de 2001), 40.

  5. Jack Williams, escritor da redação, artigo em The San Diego Union-Tribune, (Agosto 24, 2002), A1, A14.


Este artigo é reproduzido com a permissão de Living Stones In Africa: Pioneers of the Church of the Nazarene, edição revisada , copyright © 1999, por Paul S. Dayhoff. Todos os direitos são reservados.