Coleção Clássica DIBICA
Todos os artigos criados ou enviados durante os primeiros vinte anos do projeto, de 1995 a 2015.Lima, Antão Melo
Antão Melo Lima vivia em Ribeira da Torre, perto da Vila da Ribeira Grande, Santo Antão. Homem de aproximadamente um metro e meio de estatura, gorducho e musculoso, de voz um tanto rouca, entusiasta e sorridente, proprietário empregava muita gente na horta dele. Em 1955 recebeu honras sem precedente, porque foi duas vezes condecorado pelo Presidente da República de Portugal, por sua contribuição relevante nos trabalhos agrícolas das ilhas.
Certa noite, o Pastor António Gomes de Jesus pregou em casa do tio de Antão, que se dizia ateu. Antão ficou altamente impressionado com o zelo e as lágrimas do pastor. Pouco tempo depois, no leito da morte, ergueu a voz em clamor, suplicando: “Misericórdia, meu Deus, misericórdia!”. O modo repentino como o tio dele expressou a sua fé impressionou Antão. Nisto o filho dele veio a falecer, o que o deixou prostrado. Ele saiu por entre as bananeiras, caiu de joelhos, olhou para o céu e orou, dizendo: “Ó Deus, se existe um Deus, peço que tires de mim esta dor agora mesmo!”. O primeiro milagre aconteceu. A dor cruel o deixou. Então ele resolveu buscar a conversão. Vestiu-se e saiu à procura do pastor nazareno.
No caminho da Povoação entrou numa taberna, tomou um grogue, jogou uma mão de cartas, brigou com alguém e, então, decidiu que iria arrepender-se no dia seguinte. Dois guardas de estabelecimentos disseram que todas as vezes que Antão Lima e seus amigos chegavam à Povoação, iam para beber, como faziam habitualmente; todas as lojas da Vila fechavam as portas. Cinco homens não podiam dominar dois deles.
No dia seguinte ele encontrou o Pastor António e disse-lhe: “Encontrei o caminho de alegria. A minha companheira e eu vamos casar-nos e dedicar o nosso filho ao Senhor, no mesmo culto.” A união de fato era em geral de aceitação na ilha. Disse aos seus trabalhadores que eles passariam a ter descanso aos domingos, e que todos eles deviam ir à Igreja do Nazareno. Muitos deles encontraram Jesus e, como o Sr. Antão, casaram-se e dedicaram os seus filhos ao Senhor. Naquele dia Antão andava de cima para baixo pela nave central da igreja, exultando de alegria. Mais tarde todos eles foram batizados.
O padre da Vila ficou tão aborrecido que excomungou a todos e proferiu palavras de maldição sobre os frutos das plantações. Pela primeira vez houve duas colheitas, e o padre acabou por se retirar para Portugal. O Sr. Antão Lima viu os seus rendimentos reduzidos, porque produzir mel da cana-de-açúcar deu menos dinheiro do que fazer grogue; mas ele ficou satisfeito, porque sentiu que estava a servir ao Senhor, tanto com a sua vida como com os seus bens. Foi eleito superintendente da Escola Dominical e organizou vários centros de escola dominical nos arredores. Os jovens participantes percorriam vários quilômetros em atividades evangelísticas.[1]
O Sr. Antão passou depois a residir no Brasil.
Paul S. Dayhoff
Citações:
- Earl Mosteller, Cape Verde Travelogue (Viagens por Cabo Verde), (Kansas City, MO: Nazarene Publishing House, 1958), 18. Alice Spangenberg, Jerusalem and Beyond : Christian Missions in the Cape Verde Islands and the Middle East, (Kansas City, MO: Nazarene Publishing House, 1950), 3.
Este artigo é reproduzido, com permissão do livro Living Stones In Africa: Pioneers of the Church of the Nazarene, edição revisada, direitos do autor © 1999, por Paul S. Dayhoff. Todos os direitos reservados.
Este artigo foi traduzido da língua inglesa por Rev. António Barbosa Vasconcelos, pastor cabo verdiano.