Coleção Clássica DIBICA

Todos os artigos criados ou enviados durante os primeiros vinte anos do projeto, de 1995 a 2015.

Kimbangu, Simon (A)

1889?-1951
Igreja de Cristo na Terra Por Meio do Profeta Simon Kimbangu
República Democrática do Congo

Simon Kimbangu

Fundador da Igreja de Jesus Cristo através do Profeta Simon Kimbangu.

Nascido em Nkamba, Baixo Zaire, Kimbangu possuía dons carismáticos, porém não teve educação formal além das instruções catequistas pela Sociedade Britânica Missionária Batista (British Baptist Missionary Society - BMS), que o levou ao batismo em 1915. No meio do colonialismo de dimensões próximas ao genocídio, ele vivenciou o chamado de Deus ao ministério da cura e da pregação. Os missionários da BMS rejeitaram a solicitação de Kimbangu para tornar-se um catequista e, além disso, rejeitaram ceder um lugar legítimo a seu ministério dentro da igreja missionária, pois o consideravam sem escolaridade. A experiência espiritual decisiva de Kimbangu o impeliu ao ministério público fora da missão (1921), a sua saída teve ligação explícita com a rejeição que sofreu dos missionários.

A atividade religiosa de Kimbangu, que se caracterizou por fenômenos fortemente carismáticos (foram relatados casos de ressurreição), durou de março a setembro de 1921, principalmente em Nkamba, a “Nova Jerusalém”. Sua pregação enfatizava a inutilidade das medidas de proteção tradicionais africanas (resultando na queima dos “amuletos”), a intervenção direta de Deus em nome dos africanos (questionando a mediação e autoridade dos missionários, ao mesmo tempo rejeitando a violência africana), e o prognóstico do fim da dominação colonial branca (resultando na autoconsciência negra). Prontamente, em maio de 1921, Kimbangu estava na lista de “procurados” da polícia colonial.

Em setembro de 1921, Kimbangu entregou-se às autoridades belgas. Condenado à morte por alegada ameaça à segurança pública, sua punição foi atenuada para prisão perpétua, e ele foi tratado como um criminoso perigoso em Elizabethville (Lubumbashi) pelo resto de sua vida. Seus doze “apóstolos” e milhares de seguidores foram proscritos. O Kimbanguismo tornou-se um movimento cristão fortemente enraizado no Congo Belga. Sociologicamente, o profeta e sua igreja ofereceram um novo modelo de autoridade social; religiosamente, Kimbangu expressou o amor de Deus através da mediação de símbolos africanos; e psico-culturalmente ele deu início a uma formidável narrativa sobre o lugar especial das pessoas negras no mundo de Deus.

No seu leito de morte, Kimbangu recebeu o batismo na Igreja Católica. Assim como Jesus, não deixou nada escrito e tornou-se uma figura lendária, mítica e teológica. Para os missionários, para os estudiosos ocidentais do Kimbanguismo, e para os próprios teólogos da igreja Kimbanguista, sempre foi difícil definir, teologicamente, quem foi Kimbangu.

Werner Ustorf


Bibliografia

Além de fontes de arquivos (Archives Africains, Brussels; BMS archives, Oxford), a principal documentação sobre a vida e o ministério de Kimbangu é de Paul Raymaekers, ed., “L’Histoire de Simon Kimbangu prophète d’après les écrivains Nfinangani et Nzungu,” Archives de sociologie des religions 31 (1971): 7 - 49 and Paul Raymaekers and Henri Desroche, ed., L’Administration et le sacre. Discours religieux et parcours politiques en Afrique Centrale (1921 - 1957) (1983). A história oral foi coletada em W. MacGaffey, “The Beloved City: Commentary on a Kimbanguist Text,” JRA 2 (1969): 129-147, e em Kuntima Diangienda, L’Histoire du Kimbanguisme (1984), escrita pelo filho mais jovem de Kimbangu, o último dirigente da Igreja de Kimbangu. M.-L. Martin, Kimbangu: An African Prophet and His Church (1975); Werner Ustorf, Afrikanische Initiative (1975).


Este artigo é reproduzido, com autorização, do Biographical Dictionary of Christian Missions, copyright © 1998, by Gerald H. Anderson, W. B. Eerdmans Publishing Company, Grand Rapids, Michigan. Todos os direitos reservados.