Coleção Clássica DIBICA

Todos os artigos criados ou enviados durante os primeiros vinte anos do projeto, de 1995 a 2015.

Estifanos

Nomes alternativos: hadege anbesa
1380 f.1450
Igreja Ortodoxa Etíope (Stéantiste Movimento)
Etiópia

Abba (Pai) Estifanos foi um monge do século XV que teve uma compreensão paulina da salvação. Ele atraiu muitos seguidores no norte de Etiópia a traves dos seus ensinamentos. Seus zelosos planos de evangelizar dentro da Igreja Ortodoxa enfrentaram oposição tanto pelo clero como pelo monarca etíope Zara Ya’iqob. Abba Estifanos morreu na prisão por volta do ano 1450 e seus seguidores foram severamente perseguidos.

Estifanos nasceu em 1380 numa vila chamada Sebuha na província de Tigrai ao noroeste de Etiópia. O nome de seu pai era Berhane Meskel e sua mãe Sara. Seu pai um conhecido soldado guerreiro morreu antes do nascimento do menino.

Após o nascimento seus parentes lhe deram o nome de Hadege Anbesa que significa “parecido com leão”. Esperavam que ele fosse soldado como seu pai. Mas ao crescer mostrou inclinação religiosa e desejo de freqüentar a escola litúrgica, mesmo contra os desejos da sua mãe e parentes. Finalmente ele fugiu da casa do seu tio onde morava e entrou na escola.

No entanto que era estudante na igreja foi consagrado diácono por Abuna Bartalomiwos aos dezoito anos de idade. Depois de uma curta visita a sua família, Estifanos continuou a sua peregrinação religiosa, desejando sinceramente encontrar a salvação da sua alma. Isto o levou a entrar para o monastério Qoyetsa de Abba Samuel. No monastério a pesar de seguir religiosamente todas as praticas humanas que supostamente levariam à salvação, ele não conseguiu achar o que tão sinceramente procurava. Tornou-se monge e seu nome foi trocado de Hadege Anbesa para Abba Estifanos. Foi ordenado sacerdote na idade de trinta anos. Continuou peregrinações de um lugar para outro, orando e jejuando alem do que lhe era exigido. A pesar de todos os seus esforços sua alma não estava satisfeita e não encontrou paz mental.

Através de vários eventos Abba Estifanos descobriu um renomado sacerdote da Igreja Ortodoxa, chamado Abba Gebre Nazrawi cujos ensinamentos começaram a ter uma influencia positiva nele. Este homem ensinava os princípios bíblicos básicos da salvação. Por esta razão Abba Gebre Nazrawi tinha sido perseguido em Showa, na Etiópia central, e fugiu para Tigrai onde Estifanos morava. Depois de escutar estes novos ensinamentos, Abba Estifanos começou a meditar nas palavras do Senhor Jesus Cristo sobre a salvação para toda a humanidade. No entanto que Abba Estifanos meditava nas palavras de Jesus o Espírito Santo lhe revelou o mistério e ele entendeu o trabalho que tinha sido feito na cruz do Calvário. Nesse momento ele sentiu-se convicto de seus pecados.

O Espírito Santo começou a induzir à Abba Estifanos a compartilhar o que lhe tinha sido revelado com seus irmãos monges no monastério Qoyetsa. Ele começou a ensinas as Escrituras e o mistério da salvação. Muitos foram atraídos ao seu ministério de ensino. Outros no monastério começaram a notar que ele estava diferente à medida que seu estilo de vida começará a mudar. Ele não praticava mais os rituais e métodos de adoração centenários adotados pelo monastério. Ele parou de beber bebidas alcoólicas e se ofereceu como um santo sacrifício ao Senhor. Então começou a escrever alguns de seus livros e fazer copias das escrituras as quais ele distribuía a outros para minimizar a falta de manuscritos bíblicos. O dinheiro que recebia ele distribuía aos pobres. A pesar do seu estilo de vida atrair certo numero de seguidores, alguns monges o acusaram Abba Estifanos e seus seguidores de heresia. Começaram a difamá-lo e tentaram separá-lo de seus seguidores. No entanto quanto mais tentavam mais reforçavam os laços entre Abba Estifanos e seus seguidores.

O abade do mosteiro Qoyesta ficou com inveja de Abba Estifanos devido a sua crescente influencia e decidiu expulsar seu discípulo influente Abukerezum e encarcerar Abba Estifanos por três anos. Abukerezum começou ima nova comunidade reformada em outro lugar. Quando Abba Estifanos saiu da cadeia juntou-se ao seu antigo discípulo e começou a servir o grupo crescente de discípulos chamados de Estevanitas devido a seu nome.

Abba Estifanos e seus seguidores traçaram um plano para evangelizar todo o país mediante a formação de nove associações principais e quinze subordinadas. Nestas associações ele colocou uma equipe com um líder por área. Os membros da equipe se dedicaram a estudar as Sagradas Escrituras e a mudar seu estilo de vida. Outro objetivo da equipe era engajar cada membro saudável no trabalho agrícola e ajudar os outros que não podiam trabalhar.

Devido a isto várias acusações foram feitas contra Abba Estifanos e seus seguidores pelo seu abandono das práticas e da fé Ortodoxa tradicional. As pessoas perceberam que os ensinamentos e o estilo de vida de Abba Estifanos eram diferentes. Estas questões eram a causa da sua perseguição que terminaram com o seu martírio. Por exemplo, Abba Estifanos negava a autoridade secular dos monges. Também negava a presença da Arca do Pacto na Etiópia e fazia cultos de adoração sem a presença do Tabot (uma réplica da Arca do Pacto) o que é uma obrigação em todas as Igrejas Ortodoxas. Permitia que pagãos entrassem nos edifícios das igrejas. Não adorava imagens de santos ou anjos, e não mostrava reverência frente a imagens da Virgem Maria ou da cruz do seu único Filho. Ele também não se curvava para o Rei e rejeitava a alegação do (Imperador) Atse Zara Ya’iqob de pertencer à dinastia de Salomão.

Atse Zara Ya’iqob (1434-1468), que viveu em Aksum, entendeu as acusações como pessoais e sentiu-se ofendido por Abba Estifanos e seus seguidores porque não se curvaram diante dele. Então, em várias ocasiões ele decretou que fossem presos, levados a corte e punidos. Deste modo, várias vezes os submeteu a severos espancamentos e aprisionou Abba Estifanos outras tantas.

Abba Estifanos suportou todas essas perseguições junto aos seguidores sem esmorecer no seu zelo. Cada vez que era solto da prisão continuava a treinar muitas pessoas e finalmente criou uma ordem administrativa nos monastérios dos Estevanitas. Quando começou a ensinar os seus princípios teológicos, ele criou o material didático escrito que apresentou ao Bispo Bertelomeos quem os aprovou e enviou com a sua benção. Abba Estifanos continuou a ensinar os seus seguidores como chegar à maturidade na sua fé no Deus Triúno. Ele enfatizava a autoridade da Bíblia em todas as decisões teológicas. Quando era confrontado tinha respostas bíblicas diretas a todas as questões e acusações que surgiam.

Alguns de seus ensinamentos eram muito próximos dos do movimento evangélico atual. Por exemplo, ele ensinou que a salvação era um presente da graça de Deus, um presente Dele através de Jesus cristo que foi obediente até a morte na cruz pelo seu amor à humanidade. Para Abba Estifanos o corpo de Cristo, a sua igreja foi estabelecida pelo sangue do Senhor e construída pelos seus apóstolos. O Senhor levantou mestres e ministros que sempre brilharam como estrelas na igreja. Abba Estifanos ensinou a seus seguidores a crescer no Evangelho e a amarem-se uns aos outros a modo de poder viver com Deus na eternidade. Ele se opôs a bruxaria e á práticas tradicionais nocivas que supostamente produziam cura. Ensinou que Deus cura aqueles que vivem de acordo com a sua vontade. Afirmou que ninguém vive para si próprio, mas vivo ou morto pertence a Deus. Assim que cada um deve estar pronto para ser disciplinado por Deus como um filho amado (Rom. 14:7-8 e Heb. 12:5-11). Ensinou aos seus seguidores a viver em paz e dignidade trabalhando diligentemente sem acumular dinheiro, mas atendendo as necessidades dos outros. Deste modo, ele estabeleceu uma regra de vida para seus seguidores de modo que tinham que ter fé e confiança em Deus.

Atse Zara Ya’iqob tentou repetidamente fazer que Abba Estifanos e seus seguidores se curvassem diante dele, mas eles recusaram submeter-se e foram espancados em diversas ocasiões. A pele das suas mãos foi cortada lentamente com lâminas para infringir dor e fazê-los mudar as suas crenças, mas eles estavam determinados a jamais mudar a sua postura apesar de todo o sofrimento. Então Zara Ya’iqob’s mandou-os para o exílio mais longe que pôde e acorrentou Abba Estifanos de pés e mãos e o colocou numa solitária escura vigiada por soldados.

Depois de sete meses na sua prisão solitária os guardas escutaram Abba Estifanos clamar o nome de Cristo três vezes em voz alta, seguido por silêncio. De acordo com os guardas um terremoto fez tremer o lugar e as pessoas ficaram com medo de ver o que tinha acontecido com ele. Finalmente um homem cristão - provavelmente um crente como Abba Estifanos- foi enviado para ver o que havia acontecido na prisão porque Abba tinha dito aos guardas que não o tocassem quando ele morresse. O homem achou Abba Estifanos morto deitado no chão e livre das correntes das suas mãos e dos seus pés.

Como o povo teve que esperar autorização do governador antes de poder sepultar Abba Estifanos, o seu corpo foi mantido por sete dias. Os soldados preferiram obedecer às ordens e suportar o mau cheiro a enterrar o corpo e serem punidos severamente pelo governador. Finalmente, com a permissão do governador o corpo foi enterrado numa igreja próxima a prisão na vila de Guatre.

Assim que os seus seguidores de monastérios distantes receberam a notícia de sua morte eles vieram e exumaram o corpo em Tigrai. Mas foram pegos a caminho de Tigrai e foram levados perante o governador. Por ordem dele, foram açoitados e aprisionados e depois expulsos do país. O corpo de Abba Estifanos foi novamente enterrado num lugar chamado Gidim, oito meses depois do seu primeiro funeral.

Zara Ya’iqob então ordenou aos seus soldados que trouxessem todos os Estevanitas de Tigrai e outros lugares e os forçassem a submeter-se se curvando diante dele. Novamente eles se recusaram. Isto deixou o Imperador com mais raiva do que nunca contra Abba Estifanos, mesmo depois de morto, então ordenou aos seus soldados a desenterrar o seu corpo e a queimá-lo num lugar distante além do seu território. Isto o fizeram num lugar chamado Tsekara, dois anos e quatro meses após a morte de Abba Estifanos.

Mesmo depois de queimar os restos de Abba Estifanos o Imperador perseguiu os Estevanistas de diversas maneiras. Muitos deles foram martirizados e seus livros foram queimados. No entanto, uma Estevanita de nome Abba Gebre Kristos que sobreviveu ao martírio, documentou a vida, os ensinamentos e a morte de Abba Estifanos aos Estevanitas sobreviventes. Abba Gebre Kristos também foi martirizada com ordem do Imperador depois de ser aprisionada por três anos.

Dirshaye Menberu


Fontes:

Mesfin Shuge, “Biography of ‘Hadege Anbesa’ (Abba Stephanos) da Igreja Ortodoxa,” trabalho semestral, da Escola de Graduação de Teologia Etíope (EGST), Addis Ababa (Maio 2001).

Memhir Womahiber Zegundagundo (isto signnifica:”A associação de professores de Gundagundo” em Ge’ez), “The Saintly Life of Abuna Estifanos Zegundagundo,” manuscrito do Monastério Debre Gerizan Gedam, Etiópia (2003).

Steven Kaplan, Monastic Holy Man and the Christianization of Early Solomonic Ethiopia (Wiesbaden: Franz Steiner, 1984), pp. 41-44.


Este artigo foi recebido em 2005 e foi pesquisado e escrito pela Dra. Dirshaye Menberu, professora emérita da Ababa University e em 2005-2006 Parceira do Project Luke. Ela é formada pela Ethiopian Graduate School of Theology (EGST), uma instituição participante do DIBICA.