Coleção Clássica DIBICA

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Chilembwe, John (A)

1860s-1915
Batista
Malavi

O Reverendo John Chilembue, o grande herói e mártir de Malaui (antiga Nyasaland), é uma pessoa de proporções mitológicas na sua terra natal porque ele foi o primeiro africano a ter um sentimento de nacionalista Malauiano. Depois de fundar uma das mais antigas denominações cristã independente da África, ele liderou um levantamento dramático e violento contra o colonialismo.

Por volta de 1890, Chilembue entrou como pupilo da missão da Igreja da Escócia em Blantyre, mas ele foi convertido por Joseph Booth um missionário batista britânico e tornou-se seu assistente de 1892 até 1895. Booth trabalhou para diversas igrejas sem pertencer a nenhuma denominação; ele pregoou uma igualdade radical que chamou a atenção do próprio senso de orgulho negro de Chilembue. Em 1897, Booth levou Chilembue aos Estados Unidos e uma igreja batista patrocinou seus estudos na Faculdade Teológica da Virginia. Aqui parece que ele entrou em contato com o pensamento africano-americano da época, especialmente o de Booker T. Washington. Ele retornou a Nyasaland em 1900, como pastor batista ordenado e fundou a Missão Industrial da Providência, a qual se desenvolveu em sete escolas.

Chilembue pregava a fé batista ortodoxa junto com a moralidade que se opunha ao alcoolismo e enfatizava os valores do trabalho árduo, higiene pessoal e auto-ajuda. Chilembue acreditava seriamente que o estilo europeu, a decência e a etiqueta trariam sucesso e respeito dos brancos. As suas escolas enfatizavam métodos modernos em agricultura e por volta de 1912 ele tinha 100 alunos regulares e 800 alunos no setor de adultos.

Os eventos após 1912 trouxeram grande desilusão a Chilembue. A fome endêmica de 1913 trouxe grande sofrimento e morte por inanição a muitos agricultores. Os refugiados moçambicanos fugiram para Nyasaland, e Chilembue sofreu muito ao ver a maneira como eram explorados pelos brancos donos de plantações. Quando a I Guerra Mundial estourou, no ano seguinte, os africanos foram recrutados para o exército Britânico e Chilembue protestou no púlpito e na imprensa local. Os fazendeiros brancos ficaram furiosos pelo seu protesto nacionalista e várias de suas escolas foram queimadas. Como conseqüência dos problemas pessoais, uma saúde enfraquecida, dificuldades financeiras e a morte de uma querida filha, o sentimento de traição de Chilembue aprofundou-se e tornou-se fúria.

Chilembue planejou nos mínimos detalhes um ataque nas áreas de plantações que eram famosas pela sua crueldade com os trabalhadores africanos. É difícil determinar se Chilembue achava que esta rebelião redundaria num levantamento geral, sendo que eles não tinham nenhum plano em longo prazo. Com 200 seguidores, ele atacou rapidamente e três capatazes de plantações foram mortos. Um deles, primo de David LIVINGSTONE, que era famoso por queimar capelas dos nativos, por chicotear trabalhadores e por usurpar os seus salários, teve a cabeça cortada e exibida num poste na igreja de Chilembue. Os rebeldes, no entanto, seguiram a risca as ordens de Chilembue, de não fazer mal às mulheres e crianças. A resposta colonial foi imediata e brutal, resultando na morte de muitos africanos. Chilembue foi capturado e fuzilado imediatamente.

Chilembue deveria estar ciente de que o levantamento era suicida quando disse aos seus homens: “Devemos atacar e morrer.” Foi, no entanto, a primeira resistência ao colonialismo que foi além das simples tentativas de restaurar as antigas autoridades tradicionais africanas. Sua rebelião apontou pro futuro na nação. Neste sentido, Chilembue e seus seguidores, a maioria deles cristãos educados e pequenos comerciantes, exigiram para si próprios o mesmo lugar no mundo moderno em que eles viam os europeus desfrutarem.

Norbert C. Brockman


Bibliografia

Lipschutz, Mark R., e R. Kent Rasmussen. Dicionário de Biografias Históricas da África. 2ª edição. Berkeley: University of California Press, 1986.

Nova Enciclopédia Britânica. 15ª edição. Chicago, IL, 1988.

Ewechue, Ralph (ed.). Construtores da África Moderna. 2ª edição. Londres: Africa Books, 1991.

Leitura adicional: Phiri, Desmond. John Chilembue (1976).


Este artigo foi reproduzido com a permissão de:* An African Biographical Dictionary*, copyright © 1994, editado por Norbert C. Brockman, Santa Barbara, California. Todos os direitos são reservados.