Coleção Clássica DIBICA
Todos os artigos criados ou enviados durante os primeiros vinte anos do projeto, de 1995 a 2015.Mahlayeye, Jona
Enquanto, ainda jovem, trabalhava nas minas de ouro perto de Benoni, o Rev. Jona Macharema Mahlayeye era lutador e chamava-se Mabaswikulu (O grande pugilista). Seu pai, Mashakatsi, foi o famoso caçador de elefantes do chefe Ngungunyane, nos tempos em que se usavam lanças e covas na caça desses grandes animais.
O Sr. Mahlayeye encontrou o Senhor numa reunião ao ar livre na residência coletiva das minas. Um dia um pugilista Xhosa desafiou-o e bateu nele. Sem ira, mas com lágrimas nos olhos, o Sr. Mahlayeye disse simplesmente: “Deus te abençoe, meu irmão.”. O homem foi-se embora confuso. Os colegas dele disseram-lhe que havia batido num homem de Deus. Com medo de ofender os espíritos ancestrais, ele foi ter com o o Sr. Mahlayeye e, tendo-lhe pedido perdão, começou a assistir aos cultos cristãos.
Na terra dele, Chipezini, o Sr. Mahlayeye estabeleceu uma igreja antes de 1917. As igrejas protestantes, os sinos e a pregação eram proibidos, e ele foi ameaçado por não obedecer à lei. Porém, prosseguiu e até mesmo fundou outras pequenas igrejas. Um dia, um padre católico surpreendeu um grupo na sua igreja de juncos. A igreja, juntamente com todas as Bíblias e hinários, foi queimada. No dia seguinte, enquanto ele mexia com as cinzas, uma faísca voou para o olho do padre, que ficou com uma lesão permanente. O Sr. Mahlayeye, por fim, foi encarcerado e, como prisioneiro, trabalhou nas estradas e nos campos de milho do chefe. Ele testemunhou aos prisioneiros e os pôs a cantar as canções evangélicas enquanto trabalhavam. Muitos deles encontraram Cristo antes de ele ser, finalmente, libertado.[1]
Em 1923, o Sr. Mahlayeye reuniu-se com a primeira classe do Colégio Bíblico da Missão Internacional de Santidade (International Holiness Mission) em Rehoboth, perto de Joanesburgo. Enquanto estava ali, uma noite ele fez uma entrega total da sua vida ao Senhor e alcançou a experiência da inteira santificação. O seu riso contagioso e bom humor abundante fizeram com que ele fosse uma pessoa bem estimada por todos. Ele era uma pessoa de caráter forte e um líder nato.[2]
No mesmo ano, ele escreveu: “Eu queria escrever algumas palavras de louvor a Deus por Sua graça. Desejo contar a todo o mundo acerca do dom do Espírito Santo. Muitos acham que, por serem batizados com água, já estão batizados com o Espírito Santo, mas isto não é verdade (Lucas 3:16). Em Gaza apanhamos o peixe com armadilhas, mas se o peixe mete apenas a cabeça, ele pode fugir; contudo, entrando de todo na armadilha, já não sai. Irmão, não creias apenas com a cabeça, mas também com todo o coração. Entra totalmente nesta salvação e nunca mais sairás.”[3]
Ao completar os estudos no Colégio Bíblico, em 1927, ele regressou à casa em Chipezini. No mesmo ano, relatou que uma senhora da igreja dele foi visitar a sua família, deixando o filho, Elias Qivi, em Chipezini. Mataram uma cabra em sacrifício aos espíritos ancestrais. Chamaram ao rapaz para a cerimônia e deram-lhe dessa carne para comer. Ele respondeu: “Não, não posso comer carne que foi sacrificada aos deuses, porque sou crente.”. Quando a mãe voltou, explicou que percebia o porquê da atitude, já que Deus estava ensinando às crianças. O povo ficou admirado e todos concordaram que a obra de Deus é grande.[4]
O Sr. Mahlayeye foi obrigado ao serviço forçado e enviado para trabalhar em Xinavane, na plantação de açúcar no Distrito de Magudu. Ele tinha recusado a juntar-se a uma organização de reputação duvidosa que lhe podia ter dado influência perante as autoridades e, assim, ele teria conseguido isenção de trabalho. Deram-lhe licença para fazer cultos depois das horas do trabalho. Tocava um pedaço de ferro como sino, para reunir os homens. O Senhor começou a trabalhar, muitos encontraram a salvação e foram cheios do Espírito Santo.[5]
Em 1929, foi ordenado como ministro. Em 1931, quando os missionários Rev. Henry Best e a esposa Lucy, saíram para Tete, no extremo noroeste, ele foi deixado como o responsável pela missão em Chaimite. Mais tarde, veio a ser Superintendente da Missão Internacional de Santidade (International Holiness Mission) em Gazalândia.
Em 1930 o Sr. Mahlayeye escreveu, de Chipezini, que a sua velha tia, não cristã, tinha ido ao altar para orar num dos cultos em que ele era o pregador. Foi um dia de grande regozijo. No dia seguinte ela voltou e trouxe todos os seus trajos ligados à adoração dos ancestrais, e foram queimados. Poucos dias depois, ela se levantou e disse: “Agora, orem por mim para que eu seja santificada.”
Uma vez, em Joanesburgo, o Sr. Mahlayeye escapou por pouco quando foi atropelado por um carro que corria a uma velocidade excessiva. Sofreu escoriações e contusões, mas nenhuma fratura óssea, e não houve seqüelas permanentes.[6]
O Rev. Loti Mulate descreveu o Rev. Mahlayeye como sendo um homem muito humilde, que odiava o mal e defendia firmemente a verdade. Um exemplo tanto para toda a igreja como para os que eram de fora. Ele era um pregador poderoso e tinha o dom de ensinar e corrigir aqueles que estavam errados. Cooperava com os seus superiores.
Quando sentiu a chamada de Deus, considerou as dificuldades e perseguições como parte da pregação do Evangelho. Ria-se com todos e gostava duma boa piada, mesmo quando alvejasse a pessoa dele. Foi um grande homem de Deus. Sempre rijo, de cabeça erguida, nunca fora de forma e raras vezes doente.
Ele e o seu povo uniram-se à Igreja do Nazareno em 1952. Era dirigente em Chipizini nessa época. Quando a sua esposa, D. Elina Mahlayeye (?-1956) morreu, o marido dela elogiou-a, dizendo que haviam vivido juntos e sido muito felizes. O pastor Mateus Sitoye disse dela que, desde 1918, nunca havia faltado à igreja. O Rev. Mahlayeye, mais tarde, casou-se com uma viúva cristã, a Sra. D. Nwamahanave Bila. Ela mostrou-se compassiva e cuidou bem do seu marido.
O pastor Sitoye disse do Rev. Mahlayeye que, mesmo durante o padecimento de sua doença prolongada, de dezessete meses, antes de falecer, ele teve o cuidado de ser um bom exemplo. Não quis contribuir para que a “irmandade ficasse doente.”. Ele tinha ensinado sempre pela pergunta: “Deve um irmão fazer que o seu irmão fique doente espiritualmente? Devemos desejar sempre o bem para a irmandade.”. Ele foi em paz para o Lar.[7]
Paul S. Dayhoff
Citações:
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R. Jones, “Life Story of Jona Mahlayeye” (História da vida de Jona Mahlayeye), manuscrito nos Arquivos Nazarenos de Manzini.
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H. Bedwell, Black Gold ( Ouro preto): The Story of the International Holiness Mission in South Africa, (Cape Town: Cape Times Limited, 1936), 45-47.
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Jona Mahlayeye, “Up-to-date Testimonies”,(“Testemunhos Actuais) em Africa’s Silent Messenger, vol. 3, no.11, de dezembro de 1923, (Londres: International Holiness Mission), 93.
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Africa’s Silent Messenger, vol. 8, no. 26, de janiero de 1928.
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Sra D. D.B., Reginald & Harold Jones , David Jones: Ambassador to the African, ( KC MO: Beacon Hill Press of Kansas City., 1955), 62, 94, 97. Vicente Mbanze, carta de 13 Abril, 1995.
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Africa Calling, (Londres, e África do Sul: International Holiness Mission, de Abril de 1930), 24. (Abril-Junho 1948),15.
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Rev. Lot S. Mulate, “We Are Bereaved (Estamos Enltados),”Mutwalisi (O Arauto), revista na língua Tsonga da Igreja do Nazareno em Moçambique e África do Sul, (Florida, Transvaal, África do Sul: Nazarene Publishing House, Janeiro-Março de 1957), 6. Pastor Mateus Sitoye, (Julho-Setembro de 1973), 18. Rev. Loti Samuel Mulate, “International Holiness Mission, 1917-1952,” Mutwalisi, Julho-Setembro de 1973), l9.
Este artigo é reproduzido, com permissão do livro Living Stones In Africa: Pioneers of the Church of the Nazarene, edição revisada, direitos do autor © 1999, por Paul S. Dayhoff. Todos os direitos reservados.
Este artigo foi traduzido da língua inglesa pelo Rev. Roy Henck, missionário reformado para Cabo Verde, e pelo Rev. António Barbosa Vasconcelos, pastor cabo-verdiano.