Coleção Clássica DIBICA

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Mashaba, Robert Ndevu

1861-1935
Metodista
Moçambique , África Do Sul

Mashaba era membro do clã Ronga, e foi pioneiro no trabalho da Igreja Metodista Wesleiana em Moçambique.

Ele nasceu depois de 1850 num lugar chamado Ntembi próximo da Bahia de Delagoa, onde hoje existe uma igreja em sua memória. Os seus pais seguiam a religião africana tradicional. Ele não freqüentou a escola, pois não havia nenhuma onde ele morava. O seu primo tinha estado em Durban e ao retornar a Moçambique, disse ao seu pai, que era caçador, que no futuro ele seria um agenciador de produtos de caça e conseguiria um preço justo pelos produtos que o pai vendia. O jovem Mashaba sonhava com ir para Durban também.

Assim que teve suficiente idade, Mashaba viajou com o seu tio para o sul e conseguiu um emprego na Bluff Naval Station em Durban. Mais tarde ele conseguiu emprego no Point, um desembarcadouro de navios que não podiam passar a barra na entrada do porto. Logo ele percebeu que precisava estudar para melhorar no seu trabalho. Freqüentou uma escola noturna atendida por missionários. Aprendeu seu ABC, leitura básica e a dizer o Pai Nosso.

Por volta de 1875 ele soube por outros trabalhadores que em Port Elizabeth ele poderia ganhar mais dinheiro e havia melhores oportunidades de estudo (Choate’s papers). Ele viajou para Port Elizabeth, possivelmente de navio que era a forma mais barata de viajar e encontrou um novo emprego lá. Começou uma amizade com Penny Pikisana, que o persuadiu a freqüentar os cultos da Igreja Metodista Wesleiana. Na congregação local ao norte da Estrada Russa. Ele foi relutante, mas ficou fascinado pela Bíblia.

Numa tarde, quando estava caminhando num morro próximo de Port Elizabeth, ele teve uma visão. Ele viu uma chama viva num lugar onde não tinha sido feito fogo. Então ele escutou uma voz que disse: “- Ora.” Ele caiu de joelhos e ficou muito assustado. A mesma coisa aconteceu no dia seguinte. Ao aproximar-se do fogo, viu que não havia nada ali. Ele novamente caiu de joelhos e começou a orar. Mashaba se juntou à Igreja Metodista, e foi batizado pelo Rev. Robert Lamplough, cujo nome ele adotou.

Ele resolveu estudar em Lovedale, mas somente depois de alguns anos de privação conseguiu economizar quarenta libras, e em 1879, realizou o seu sonho. Durante as férias, trabalhava em Port Elizabeth para poder pagar os seus estudos. Também recebeu uma bolsa de estudos. Depois de três anos em Lovedale, a instituição lhe conseguiu um emprego como mensageiro no Departamento Telegráfico Kimberley. O seu contrato terminou em 1885 e ele retornou a Moçambique.

Mashaba começou uma escola e cultos regulares. A Igreja Católica Romana o instou a ajuntar-se à “única igreja verdadeira”, mas ele se recusou. Então, ele foi proibido de continuar com a escola no mesmo horário dos católicos, e sendo assim, ele tinha as suas aulas pela tarde e freqüentava a escola católica pela manhã. O Bispo Mackenzie da Igreja Anglicana quis substituí-lo no seu trabalho, mas ele também recusou a proposta. Mashaba teve que conseguir um emprego no Komati Drift quando o seu dinheiro acabou. Ele escreveu para Imvo, o jornal Africano da vila de King William, e disse que se os metodistas não o ajudassem, ele teria que aceitar a oferta do Bispo Mackenzie. O sínodo natal, respondeu enviando a William Mtembu, para fazer uma investigação. Mtembu batizou alguns dos convertidos e convidou Mashaba a visitar o sínodo em Durban. No entanto, o Sínodo Natal, decidiu que Moçambique pertenceria ao Sínodo Transvaal. Em 1892, Mashaba foi visitado pelo Rev. Daniel Msimang e pelo Rev. George Weavind e foi persuadido a candidatar-se ao ministério.

Os problemas já tinham começado a aparecer em Moçambique. Em 1894 houve alguns levantamentos, e dois anos mais tarde, estourou a revolução. Mashaba foi acusado falsamente de ser um dos líderes da revolta. Foi capturado, e enviado à prisão nas Ilhas de Cabo Verde. Ele conseguiu enviar uma carta de contrabando para as autoridades metodistas. Ele também escreveu para o Christian Express em Lovedale pedindo ajuda. De Cabo Verde, Mashaba escreveu para um amigo e contou a sua história: “-O Chefe Mamatibjana, que estava lutando contra o governo português, foi preso e obrigado a identificar quem o ajudou de uma lista de nomes que lhe foi apresentada. Quando mencionaram o meu nome, ele disse: ‘- Esse foi o homem que me mandou lutar contra o governo. ‘” (Notificações 1896, 146). “Fui preso e ‘um policial me bateu até que eu falasse o que ele achava que era verdade.’” No dia seguinte, ele foi colocado no navio África, que estava na rota de prisão de Cabo verde.

As autoridades metodistas usaram toda a sua influência para libertá-lo. Depois de quatro anos, eles conseguiram, com a condição de que ele jamais retornasse a Moçambique.

Depois do seu retorno, Mashaba trabalhou em Germiston e Pimville. Ele foi ordenado ao ministério e serviu em diversos comitês. Uma das suas maiores contribuições foi a tradução de mais de cem hinos, para a língua Tsonga. Pouco tempo antes de sua morte, lhe permitiram retornar a Moçambique, não para trabalhar, mas para passar os seus últimos dias na terra em que nasceu.

J. A. Millard


Bibliografia

Choates, D. Private Papers.

Harries, P. Work, Culture and Identity: Migrant Labourers in Mozambique and South Africa c. 1860-1910. Joanesburgo: Witwatersrand University Press, 1995.

Minutes of the Transvaal and eswatini District Synod 1892, 1896.

Stewart, J. Lovedale Past and Present: A Register of Two Thousand Names. Lovedale: Lovedale Press, 1887.

Notificações da Sociedade Missionária Metodista Wesleiania, 1896.


Este artigo foi reproduzido com a permissão de Malihambe - Let the Word Spread, copyright © 1999, por J. A. Millard, Unisa Press, Pretoria, África do Sul. Todos os direitos são reservados.