Coleção Clássica DIBICA

Todos os artigos criados ou enviados durante os primeiros vinte anos do projeto, de 1995 a 2015.

Mathusse, Ana

Nomes alternativos: mboweni
1908-2000
Igreja do Nazareno
Moçambique

Ana Mathusse

Num anoitecer de 1924 as três irmãs Mboweni chegaram a Njatigue depois de ouvirem acerca da missão nazarena ali. Elas anunciaram que tinham ido lá à procura de comida espiritual e chegaram com intenção de ficar. Não havia lugar para elas; disseram-lhes que deviam voltar para a Missão Metodista em Tavane. Na manhã seguinte caminharam quase quarenta quilómetros, regressando na mesma noite com cartas de recomendação do seu missionário metodista, o Rev. Harkness. Encontraram lugares para as jovens Estele, Ana e Amélia Mboweni.

Estele e Ana tinham sido expulsas pela família porque recusaram deixar que a sua irmã, Amélia, fosse dedicada aos demônios. Isso aconteceu na casa delas em Mabunganine, onde a igreja metodista fora obrigada a fechar as portas, porque a lei proibia as atividades protestantes no distrito de Chibuto. As três irmãs, como não tinham onde viver, foram forçadas a viajar por dois dias até encontrarem refúgio na missão em Tavane.[1]

Durante o grande avivamento de 1925, elas se arrependeram verdadeiramente e encontraram a salvação dos pecados. Em 1929 Ana testificou a respeito, dizendo: “Eu fiquei inválida espiritualmente por quatro anos. O meu coração encheu-se de alegria porque Jesus arrancou a pedra do meu coração. Nunca me esquecerei do dia 18 de Novembro de 1925. Eu deixei verdadeiramente a morte e entrei na vida.”[2] Duas das irmãs lembraram–se de que elas tinham furtado amendoim; portanto emprestaram um pouco e levaram a Tavane para fazerem restituição. O missionário Harkness, porém, perdoou-lhes de boa mente.

Durante os avivamentos de 1927-1928 as três jovens buscaram a santificação; ficaram na sua choupana por dois dias, orando. No terceiro dia levantaram uma nuvem de poeira quando corriam em volta da missão gritando: “Ele chegou, O Espírito Santo chegou!” Elas continuaram a levar vidas vitoriosas. Todas casaram com ministros. A Estele casou-se com o pastor Samuel Mondlane.

A Pastora Ana (Mboweni) Mathusse sabia como orar. Ela casou-se com o Rev. Zacarias Mathusse, ministro principal das minas em Joni (Joanesburgo). Sentiu fortemente que Deus estava a chamá-la para ser pregadora. Embora isso contrariasse a tradição, ela foi bem recebida e veio a ser a primeira mulher nazarena evangelista em Moçambique. Foi também a primeira mulher a ser eleita para o comitê executivo do Distrito Norte da Igreja.[3]

Tradicionalmente as pessoas consideravam que o nascimento de gêmeos trazia grande calamidade, mas Ana e Zacarias Mathusse escreveram: “Regozijai-vos conosco, pois o Senhor deu-nos gêmeos.[4] Depois de vinte e cinco anos casados o seu marido contraiu tuberculose e morreu em casa. Ana recusou a cerimônia tradicional de purificação, e a família sentia medo de se aproximar dela e das filhas gêmeas, Marta e Ada; mas concordaram em deixá-las ir viver na missão.

Em 1941 Ana acompanhava um grupo que tinha ido visitar uma colônia de leprosos, a uma distância de cerca de oitenta quilômetros. A colônia ficava numa ilha no meio do lago Chidengele. No regresso aquela tarde o barco em que viajavam virou-se num temporal quando chegava perto da praia. Embora soubesse nadar, o missionário, Rev. Glenn Grose afogou-se; mas os outros passageiros conseguiram salvar-se. Em 1998 o missionário Douglas Perkins visitou esta colônia de leprosos, que agora se encontra na margem do lago. Ele perguntou se alguém se lembrava daquela visita em 1941. Um homem cujos dedos tinham sido comidos pela lepra, ficando apenas o toco; e cujo nariz também tinha sido atingido, aproximou-se com uma Bíblia esfarrapada que ele tinha recebido naquela visita, cinqüenta e sete anos atrás. Isto foi verificado por um nome, uma assinatura e uma fotografia velha e amarelada que estavam dentro da Bíblia.[5]

Ana Mathusse teve sérias dificuldades com o coração e, pouco depois, em 1945, ficou ferida gravemente quando o automóvel em que ela viajava para Suazilândia se capotou. Foi anunciado que ela morreu, mas estava apenas inconsciente; porém, perdeu um braço. A sua filha gêmea mais velha, Marta, morreu de tuberculose. A família e os vizinhos censuraram-na dizendo que todos estes desastres resultaram da ira dos espíritos ancestrais. Ela lutou com isso muito em oração, mas Deus ajudou-a a vencer. Conseguiu que as meninas da escola ajudassem-na a carregar água e a pilar milho.

O Senhor tem usado esta senhora através dos anos nos avivamentos e nas reuniões das mulheres.[6] A mãe dela, Ana Mathusse, vive ainda na missão em Tavane (1995); é uma senhora radiante, cheia do Espírito. Em 1997, ela foi hospitalizada em Suazilândia, com uma perna quebrada. No final do mesmo ano durante uma visita do Rev. Paul Dayhoff a Matsapha, Suazilândia, ele estava fotografando-a quando ela ouviu o nome dele, Ana começou a contar-lhe da visita do seu pai, o Rev. Irvin E. Dayhoff, à região de Manjacaze em 1920, e como ela se lembrava da pregação dele.

Em 1998 Ana Mathusse era a última sobrevivente nazarena que veio da Missão Metodista em Gazalândia. Ela partiu para o galardão durante a Semana Santa, em 2000.

Paul S. Dayhoff


Notas

  1. Vicente Mbanze, (13 April 1995).

  2. Idem, V. Mbanze, “Buku ya nkhuvo wa 50 wa malembe ya Kereke ya Munazarene ka Gaza ni Tete” (50th Anniversary {Quinquagésimo Aniversário} of the Church of the Nazarene in Gazaland and Tete), (Tavane Mission, 1972), 29. Carta pela Sra. Ana Mboweni para Mutwalisi (O Arauto), revista na língua Tsonga da Igreja do Nazareno em Moçambique e África do Sul, (Florida, Transvaal, África do Sul: Nazarene Publishing House, de Manjacaze, 11 April 1929).

  3. C. S. Jenkins, “Those Women…,” The Other Sheep (Kansas City, Missouri: Nazarene Publishing House, Fevereiro 1954), 5-6.

  4. Amy N. Hinshaw, Native Torch Bearers, (Kansas City, MO: Nazarene Publishing House, 1934), 129-132.

  5. Doug and Elaine Perkins, mensagem por e-mail, (13 de Fevereiro,1999).

  6. Oscar and Marjorie Stockwell, The Tribe of God: A Collection of Stories from African Christians (uma colecção de histórias de cristãos africanos), (Kansas City, MO: Nazarene Publishing House, 1989), 59.


Este artigo é reproduzido, com permissão do livro Living Stones In Africa: Pioneers of the Church of the Nazarene, edição revisada, direitos do autor © 1999, por Paul S. Dayhoff. Todos os direitos reservados.

Este artigo foi traduzido da língua inglesa por Rev. Roy Henck, missionário reformado para Cabo Verde, e por Rev. António Barbosa Vasconcelos, pastor cabo verdiano.