Coleção Clássica DIBICA

Todos os artigos criados ou enviados durante os primeiros vinte anos do projeto, de 1995 a 2015.

Mbanze, Vicente

1929-2007
Igreja do Nazareno
Moçambique

O Vicente James Mbanze era o um pioneiro na tradução de hinos cristãos na língua Changana para a igreja moçambicana. Ele nasceu na vila de Chicumbane perto da cidade de Xai-Xai, na Província de Gaza. O seu pai, o Professor James Mbanze, fundou a escola primária da Igreja Metodista na Missão Tavane (Machulane) em 1925. Ele tornou-se nazareno em 1930. A mãe do Vicente, a Saiwa Machungu, morreu um mês depois de dar à luz o Vicente. O poço onde ela buscava água foi contaminado a noite anterior por chacais que comeram isca envenenada. O pai casou-se de novo e o Vicente foi o filho mais velho. Quando ele teve sete anos de idade, a sua madrasta faleceu deixando cinco crianças sem a mãe.

Como rapaz, durante o verão, ele gostava muito recolher o fruto de caju, assar a castanha de caju, misturá-las com o óleo doce da feijão vukhuhlu como uma saborosa. Durante o outono, de vez em quando ele roubava as raízes de mandioca das quintas quando já estavam maduras. Em casa, ele aprendeu como tocar a timbila (um instrumento musical) com muito jeito. O pai ensinava crianças como ler a notação musical de Tonic-Sol-Fa antes das devoções familiares cada noite. Vicente aprendeu esta notação, mas também aprendeu notas da estafe.

Durante o acampamento de 1939 ele respondeu a um apelo dado pelo pregador, o Rev. Simão Machava, e foi para a frente para orar. Ele confessou os seus pecados e pediu o perdão do Senhor por roubar a cassava. Uma noite ele sonhou que ele viu Deus cortar um pão, lambê-lo e oferecer o pão a ele para o comer. Acreditou que a mensagem do sonho foi cumprida uma noite em 1941 quando ele foi atraído ao Novo Testamento do seu pai na prateleira quando estava a varrer a sala de jantar. Começou a ler o Novo Testamento diariamente.

Em 1945, o Vicente começou a estudar na escola primária nazarena na Manzini, Suazilândia, e por 1957 tinha cumprido os seus estudos na Escola Secundária de Matsapha, também na Suazilândia. Ele inscreveu-se no Colégio Pholela na África do Sul, mas devido uma doença foi necessário terminar os seus estudos.

Em 1994 ele testemunhou sobre a sua conversão cristã:

Eu experimentei uma limpeza completa dos meus pecados durante um culto num domingo de manhã durante o mês de março de 1955. Foi na Igreja do Nazareno da Missão Tavane. Foi depois da pregação do Rev. Samuel Manhique baseada em João 8:7 – “Aquele que dentre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela. “ Ao altar estive sozinho com Jesus, o Lavrador, orando e confessando, e ao fim fiquei de pé em frente da congregação completamente limpo dos meus pecados. Levou um tempo cumprido – de março até dezembro – para ser convencido que restava no meu coração uma impureza espiritual chamado “o velho homem”. Precisava de uma segunda limpeza, uma purificação, se eu estivesse puro no coração. Eu aceitei submeter-me para esta segunda limpeza no dia 9 de dezembro de 1955 durante o ultimo culto com o pregador, o Dr. William Esselstyn na Igreja de Mavengane. Eu submeti-me à vontade de Deus. Num só momento o Espírito Santo encheu o meu coração. De facto, aquele “velho homem” foi consumido. A minha vida cristã e atitudes foram purificadas daquele dia até agora.

A esposa do Vicente foi a Sra. Rosita Filipe Mandlate Mbanze (1937 - ), filha do Rev. Filipe Mandlate que fundou a igreja na aldeia de Kwakweni em 1947. Esta foi situada na zona rural de Cuaie, na Província de Gaza. Através da pregação do pai, ela sentiu a convicção e necessidade espiritual. Num domingo ela foi ao altar para orar. Naquele momento ela não sabia o que orar. Ela crescera num lar cristão e assistiu à escola dominical aprendendo todas as lições e gostava das outras atividades da igreja. Também, gostava estando com todas as pessoas da igreja.

A Rosita gostava de brincar com as suas amigas no quintal da igreja. Num dia ao brincar, ela começou a sentir de novo aquela velha necessidade espiritual. Foi como um grande peso no seu coração. Ela exclamou às outras meninas, “Se eu morrer agora, eu não sei onde eu irei depois!” Num domingo depois disso o pai dela estava a pregar do livro de Hebreus, capítulo 12, versículo 14, que diz: “Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor.” Como ela conta a história: “Foi então em 1950 com a idade de treze anos que vi me a mim mesmo como pecador. Ao fim da pregação, aproximei-me ao altar chorando lágrimas e roguei a Deus para me perdoar dos meus pecados.”

A Rosita era uma criança que sempre andava doente e sempre sofria com problemas respiratórias. Depois do falecimento do pai dela, os velhotes da família descobriram ela num dia bastante doente. Eles congregaram-se por volta dela, despertando-a na esteira onde ela estava deitada. Ai com eles foi um médico tradicional que começou a gemer e gritar freneticamente. Ele estava a tentar expulsar os espíritos maus que eles pensaram que eram a causa da doença dela. O coração da Rosita revoltou-se contra este tipo esta cerimónia de cura e ao anoitecer, ela levantou-se e saiu da casa. Ela foi diretamente para a palhota cristã onde a gente realizava cultos e ela deitou-se no chão e dormiu o resto da noite aí. As pessoas que criaram esta perturbação no coração dela não sabiam onde ela estava.

Em 1953, a missionária Mary Cooper iniciou um programa novo na igreja chamada na língua changana Mintlawa. Este programa foi iniciado para ajudar meninas nazarenas aprender ler, escrever e costurar a sua própria roupa. Porque a Rosita gostava das atividades na igreja, ela assistiu nestas atividades sempre que eram realizados no centro da igreja de Cuaie. Isso foi a única instrução que ela recebeu quando era jovem.

Quando a Rosita teve vinte anos de idade, ela assistiu a reunião anual da assembleia distrital da igreja na Missão Tavane. Ela descreve a experiência assim: “Numa da reuniões, eu vi um jovem baixinho dirigindo o canto congregacional. Eu senti uma luz maravilhosa brilhando em seu redor e eu sabia que este jovem, o Vicente James Mbanze, seria o meu marido no futuro.” No ano seguinte, ela era estudante na escola bíblica na Missão Tavane e ela trabalhava ajudando na casa da missionária, a Sra. Cooper. O Vicente Mbanze também inscreveu-se como estudante na escola bíblica em 1958. A Rosita continua com a história: “O Vicente propôs casamento comigo, e por três dias depois de receber a proposta, eu orava muito. Depois, senti-me que isso era a vontade de Deus e aceitei a proposta.”

Num dia, a missionária Lorraine Schultz, diretora da escola bíblica, estava a ensinar e enfatizava a necessidade da experiência de inteira santificação no coração do crente. A Rosita diz: “Eu entendi que o “velho eu” estava a viver no meu coração. Naquela classe da doutrina de santidade, eu fui ao altar. O Senhor purificou o meu coração e até este mesmo momento, continuo amando o Senhor com todo o meu coração.”<

Em 1958, o Vicente e a Rosita participaram no avivamento realizado na igreja de Tavane. Foi planeado durar por só três dias, mas Deus derramou o seu Espírito Santo sobre os estudantes da escola bíblica e o avivamento continuou por mais três dias e transbordou a missão tocando todas as igrejas em redor da missão. No ano seguinte, em 1959, o Vicente e a Rosita casaram-se e começaram as suas vidas servindo o Senhor conjuntos. [1] Tiveram nove crianças – seis rapazes e três meninas: James, Lula, Carlos, Filipe, Jeremias, Amélia, Júlio, Vasco e Rachel.

Em 1961, o Mbanze completou o quarto ano de estudos avançados na escola bíblica. Isso era equivalente ao bacharelado em teologia. Ele começou a servir como membro do corpo docente na escola bíblica em Tavane e continuou assim até a escola foi fechada em 1977 quando toda a missão foi nacionalizada pelo novo governo independente. Durante este período, ele ajudou bastante com a produção de materiais curriculares nas duas línguas, changana e português.

Além de servir como professor, o Vicente também serviu como secretário da Igreja do Nazareno de Tavane, tesoureiro do Distrito Eclesiástico de Tavane, e como presidente distrital da escola dominical. Nestas capacidades, ele andava muito à pé visitando igrejas do distrito. Por exemplo, uma vez ele visitou as igrejas de Macuacua, Mavengane, Cuaie, e Vuchopi. Num dia ao regressar de Cuaie, um quilómetro da casa, ele viu um anjo do Senhor que apareceu e lhe disse, “Não vai para casa!” O Vicente obedeceu e sentou-se no caminho e perguntou, “Que acontecerá com a minha família se eu não for à casa?” Uns minutos depois, o anjo permitiu-o continuar até a casa. Ele foi protegido de uma emboscada militar. Muitas vezes o Senhor protegeu-o de tais emboscadas e da morte.

Apesar da política do governo contra a religião, umas agências do governo solicitava os crentes para servir no governo. O Sr. Julião Maússe disse que a razão que o governo procurava crentes para servir foi porque os crentes foram reconhecidos como pessoas honestas. Eles não fumavam, não eram bêbedos, foram dedicadas ao seu trabalho, não foram suscetíveis às intrigas, e viviam no nível mais alto de moralidade que o funcionário geral. O Vicente Mbanze, o diretor auxiliar da Escola Bíblica Nazarena em Tavane, uma pessoa conhecida por falar o que pensava, foi solicitado por uma posição no governo. Porque ele sabia falar inglês, o governo quis que ele servisse como embaixador noutro país, mas ele recusou. [2]

Umas pessoas que viviam na zone da Missão Tavane tentaram desviar o Mbanze da igreja para cooperar com o governo, mas ele fortemente recusou. O Mbanze e toda a família dele recusaram participar no esquema dos trabalhos manuais planeados por domingos. Ele e a família cumpriram o trabalho exigido durante a semana, mas nunca trabalhavam aos domingos, e ele nunca foi castigado por tomar esta posição. [3]

Em julho de 1979, todos os livros da biblioteca da escola bíblica foram queimados pelos agentes do governo. Mais tarde no ano, os oficiais do governo regressaram de novo e toda a mobília e possessões pessoais da família Mbanze foram confiscados. A razão dado foi que o Vicente “colaborou com os missionários.” [4]

Depois da nacionalização da Missão Tavane, o Prof. Mbanze e o pastor da igreja, o Rev. Simeão Mathe, ficaram em Tavane e começaram aulas da escola bíblica por extensão. Em 1982, devido aos perigos da guerra civil, o Mbanze com toda a família transferiu-se para Maputo. Ali na cidade, o Mbanze ficou membro da equipa que dava aulas teológicas por extensão, e por um tempo ele serviu como diretor. Ele trabalhava junto com o Rev. Simeão Mandlate, o Rev. Elias Moiane e o Rev. Manuel Tshambe. Em 1991, já tiveram 138 estudantes inscritos no programa de estudos, e 61 deles foram candidates para o serviço ministerial. Além deste estudantes residentes em Maputo, também tentaram servir trinta seis outros estudantes que estavam fora de Maputo.

Em 1989, o programa de extensão ficou um programa residencial e foi constituído o Seminário Nazareno em Moçambique. O Mbanze ficou membro do corpo docente do Seminário. Quando o diretor do Seminário, o Rev. Simeão Mandlate, foi fazer estudos adicionais na Suazilândia, o Mbanze serviu por dois anos como diretor interino do Seminário. Ele continuou a servir como professor no Seminário até a sua reforma. [5] Durante o seu tempo como diretor interino, ele iniciou uma creche para as crianças dos estudantes do Seminário, e também enviou umas estudantes exemplares para estudar no Colégio Teológico Nazareno de Suazilândia. Em 1994, o Mbanze ficou aposentado da faculdade do Seminário Nazareno em Moçambique, mas ele continuou servindo em várias áreas como conselheiro, tradutor, e educador.

O Vicente Mbanze uma vez usou a descrição de lavar a loiça na maneira tradicional na casa rural para ilustrar a sua maneira de ensinar. Uma plataforma fica erguida fora da cozinha e em cima desta plataforma seja colocada uma bacia grande. A loiça suja deve ser lavada duas vezes. A primeira vez, a loiça é lavada com sabão para tirar os pedaços de comida. Esta água suja é lançada fora, e a bacia seja enchida de novo com água pura e a loiça é lavada a segunda vez. Esta vez, não se mete sabão na água. A água pura tira os restos da sabão e a impureza final, e os pratos são polidos e secados usando uma toalha limpa e seca. Assim, os pratos já estão prontos para ser usados na próxima refeição. Ele explicou que na mesma maneira, o coração de uma pessoa é levada para salvação complete sendo purificado do poder do pecado e da sua corrupção. [6]

A contribuição maior do Mbanze foi a sua produção de música para a igreja. Ele escreveu vários hinos originais na lingual changana e também compôs a música por este hinos. Também, traduziu muitos hinos na lingual changana. [7] É impossível calcular o valor e a influencia do trabalho dele na promoção de avivamento na vida da igreja em Moçambique.

Em Junho de 2006, a saúde do Mbanze começou um declínio. Frequentemente teve problemas respiratórios e sentiu muito cansaço. Num dia em Janeiro de 2007, sofreu um colapso ao regressar da sua quinta fora da cidade e ficou de baixo no hospital por uma semana. Uma vez quando não conseguiu assistir ao culto, ele chorava dizendo, “Estão adorando a Deus e eu não estou com eles.” No sábado, dia 30 de Março, ele olhou para cima e exclamou, “Eu vejo a beleza da cidade!” No dia seguinte, dia 1 de abril de 2007, a Rosita estava com ele e ela disse, “A cara dele estava bonito e brilhante.” Ela orou com ele e uns poucos momentos depois, tomou a sua última respiração e faleceu. Foi uma semana antes de Páscoa.

Os Mbanzes tiveram vinte e um netos e o Vicente conheceu todos eles. Três dos nove filhos morreram antes do Vicente – Vasco, Lula e Amélia. O Mbanze seguiu uma vida cristã exemplar com marido, pai, irmão, tio e avô. Cada dia ele realizava dois cultos familiares em casa, um de manhã e o outro ao anoitecer.

O culto funerário foi realizado no dia 7 de abril de 2007 na capela do Seminário Nazareno em Moçambique. A família cantou um dos hinos que ele pediu antes de morrer: Ndza Tiva Vito la li Sima Ngopfu (eu sei um nome maior que todos). Dois dos hinos cantados pela congregação foram Swa Nandziha ku mu Tshemba (Como é Doce Crer em Cristo) e Lexihambanweni (O Rude Cruz). O seu filho, o Carlos, deu este elogio do seu pai dizendo, “A Igreja do Nazareno em Moçambique já perdeu um homem forte e já sentimos a falta dele. Entretanto, é bom saber que o Professor/Papa Vicente James Mbanze está com o Senhor junto com muitos outros que já foram antes dele. … Ele teve uma influência enorme nas vidas de muitas pessoas. … Que o Senhor nos ajude continuar a herança que ele nos deixou.” [8]

Paul S. Dayhoff


Citações:

  1. Sra. Rosita Vicente Mbanze, “A História da Minha Vida Cristã”, relatório do 1 de novembro de 2000.

  2. David Restrick, Tese do Doutorado (The Church of the Nazarene and the Mozambique Revolution, 1975-1982), 2001, página 308.

  3. David Restrick, Tese do Doutorado (The Church of the Nazarene and the Mozambique Revolution, 1975-1982), 2001, página 317.

  4. David Restrick, Tese do Doutorado (The Church of the Nazarene and the Mozambique Revolution, 1975-1982), 2001, página 318.

  5. Vicente Mbanze, autobiografia escrito a mão, enviado pela Lorraine Schultz. “Mozambique Extension School in 12th Year,” Trans African, (Florida, Gauteng, South Africa: Africa Nazarene Publications, May-June 1992),12.

  6. Vicente James Mbanze, “Blessed are the Pure in Heart,” Trans African, (September-October 1994), 1.

  7. Theodore P. Esselstyn, Cut From the African Rock: A Portrait of the Church of the Nazarene in Africa - 1974, (Kansas City, MO: Nazarene Publishing House, 1975),127.

  8. Carlos Mbanze, carta eletrónica, 16 de abril de 2007.


Este artigo é reproduzido, com permissão, de Living Stones In Africa: Pioneers of the Church of the Nazarene, edição revisada, direitos autorais © 1999, por Paul S. Dayhoff. Todos os direitos reservados.