Coleção Clássica DIBICA
Todos os artigos criados ou enviados durante os primeiros vinte anos do projeto, de 1995 a 2015.Mucavele, Timóteo Umelwane Njanje
O Rev. Timóteo Umelwane Njanje Mucavele nasceu num lar tradicionalmente não-cristão na zona de Manica. Quando tinha onze anos, cuidava do gado.
Certa noite uma hiena atacou-o enquanto ele dormia em casa. Com as mordidas desse animal ele perdeu um dedo. O tio dele abriu fogo e a hiena fugiu. Uma noite, enquanto se recuperava, Timóteo teve um sonho. O céu se abriu e ele viu pessoas ali. Naquele momento o sonho lhe era de pouco significado, pois ele ainda não havia ouvido o evangelho.
Matriculou-se na escola em Tavane em 1928 e, em 1930, numa campanha evangelista, encontrou o Senhor. Mais tarde ele foi santificado. Timóteo ouviu o chamado de Deus para pregar e veio a ser um pastor de êxito. Em 1937 acompanhou o Rev. Lawrence Ferree a Tete, na tentativa de iniciar um trabalho ali. Em 1938, casou-se com Roshita.
Da Senhora D. Roshita Mucavele, o Rev. William Esselstyn disse: “Ela é tão boa como ele, uma esposa fiel, esplêndida mãe de família para os filhos e uma grande coadjudante no trabalho do Senhor. Ela tem muito interesse pela salvação do seu povo. No culto, ela ora ao pé do altar, com lágrimas, quando roga a favor dos penitentes e os instrui.”. O casal teve cinco filhas e dois filhos.
O missionário Sr. Doutor William Esselstyn escreveu a respeito de Timóteo: “Ele fez um trabalho de distinção, desenvolvendo uma das maiores, mais zelosas e espirituais das congregações locais. Embora um jovem de muita humildade, ele permanecia firme e sem medo em defender as suas convicções.” Foi pastor em Jatigue de 1938 até 1943. Nessa altura, foi para o Colégio Bíblico em Suazilândia. Em 1948, os Mucavele foram servir em Nyankutse, e em 1953 se deslocaram para Chitsoguanini.
Foi ali, por volta de 1945, que Mucavele foi capturado e enviado a trabalhar na plantação de açúcar em Xinavane, por seis meses. Ele lia a sua Bíblia, cantava e orava. O dono da propriedade não gostava disto e foi duro para com ele. Mas durante o dia, enquanto andava para cima e para baixo, atrás do arado, ele cantava. Depois de observá-lo por alguns dias, o patrão o chamou e perguntou-lhe porque agia desse modo. Ele testemunhou acerca do que Deus lhe tinha feito. O patrão disse-lhe: “De agora em diante não vou perturbá-lo mais; vamos dar-lhe um trabalho mais agradável e mais fácil.”. Mucavele foi feito capataz de toda aquela secção de plantação até ser posto em liberdade.[1]
O Rev. Mucavele concluiu os estudos no Colégio Bíblico em Suazilândia, e foi ordenado em 1947 pelo Superintendente Geral Hardy Powers. Era pastor em Njatigwe e foi nomeado líder da zona. Em 1962 transferiu-se para Mfumo a fim de pastorear a Igreja Central de Maputo. Ele pôs-se a construir um edifício para cultos; e naquele ano foi construído um edifício pequeno de cerca de oito metros por quinze, com pilares, vigas e asnas de madeira, tendo chapas onduladas de metal para paredes e teto. Logo ficou tão repleto de pessoas que foi necessário ampliá-lo para poder acomodar a congregação, que chegava para assistir aos cultos, mesmo olhando pelas janelas. Mucavele então começou a designar lugares nos arredores onde os membros podiam reunir-se durante a semana. Muitos destes lugares por fim tornaram-se congregações completas, e outras igrejas foram estabelecidas também à volta da cidade.[2] Mais tarde a filha dos Mucavele, a Rev. Bessie Luisa Tshambe, foi também pastora da Igreja Central de Maputo, que já era então a maior congregação nazarena na África.
O tio cristão do Rev. Mucavele, Sr. Jaime Manhique, que o tinha conhecido durante toda a sua vida, disse o seguinte na ocasião do seu enterro: “Ele trabalhou bem na sua vocação. Todos haviam de testificar que ele era uma pessoa distinta e que tratava a todos da mesma maneira, quer fossem importantes, quer não.”.[3] O missionário com quem ele trabalhou, Rev. Charles S. Jenkins, disse: “Ele era sólido, de confiança, e um bom chefe de zona.”[4]
A viúva dele, a Avó Roshita Mucavele, tinha mais do que oitenta anos e vivia com um filho que dirigia um negócio de transportes. Ela trabalhou muito na horta e assim sustentou toda a família. O seu filho sentiu-se envergonhado de ser sustentado pela mãe idosa e vendeu a horta dela.
A mãe dele ficou muito triste. Ela não conseguia dormir, perdeu o apetite e a sua saúde falhava. Sua nora disse ao marido que ele estava a matar a mãe. Encontraram outra horta a mais de seis quilômetros distantes da vila. A avó voltou a ficar contente e, enquanto trabalhavam, ela e os seus netos cantavam. As crianças locais vinham ouvi-los cantar, e aprenderam as músicas deles. Queriam que voltassem para cantar mais, e assim faziam todos os dias.
Então um sábado a avó convidou as crianças para assistirem à escola dominical, onde haviam de aprender mais canções e ouvir histórias acerca de Jesus. A assistência chegou a ser, por vezes, de até cinqüenta crianças, durante algumas semanas, mas depois os pais não permitiram que fossem porque haviam na estrada muitos caminhões rumo à cidade, e era perigoso para as crianças. Depois, um estudante do Colégio Bíblico passou a ir à vila aos sábados à tarde para lhes dar aulas. Reuniões de estudo bíblico foram iniciadas à medida que os adultos começavam a assistir; e em 1998 o lugar tornou-se um ponto regular de pregação.
Em 1999, a Igreja da Cidade de Matola fez uma grande festa na horta da Avó Mucavele; e a Igreja do Rio Matola foi organizada com uma assistência de aproximadamente 120 pessoas, com cerca de 80 membros credenciados. A primeira pastora foi a Senhorita Pérola Mandlate, filha do Rev. Simeão Mandlate e sua esposa, D. Violeta Mandlate.[5]
Paul S. Dayhoff
Citações:
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W. C. Esselstyn, “Africa Moves Forward” (“A África Anda para Frente”), The Other Sheep, Mission magazine of the Church of the Nazarene, (Kansas City, MO: Nazarene Publishing House, Maio 1949), 9.
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David W. Restrick, Doctoral Dissertation, “The Church of the Nazarene and the Mozambican Revolution, 1975 to 1982,” (Tese de doutoramento em teologia, “A Igreja do Nazareno e a Revolução Moçambicana, 1975 a 1982”), (Boston University School of Theology, 2001), 144.
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Mr Jaime Manhique, “Rev. Timoteo Mucavele Já Falceceu”, Mutwalisi (O Arauto), revista na língua Tsonga da Igreja do Nazareno em Moçambique e África do Sul, (Florida, Transvaal, África do Sul: Nazarene Publishing House, Abril-Junho de 1975), 9.
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C. S. Jenkins, “A Fruitful Church” (“Uma Igreja Frutífera”), The Other Sheep, (Janeiro 1959), capa interior.
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Rev. David Restrick, da sua mensagem no domingo de manhã, Oskaloosa, Iowa, (10 de Junho, 2001). David Restrick, (carta eletrônica, 18 de Agosto, 2001).
Este artigo é reproduzido, com permissão do livro Living Stones In Africa: Pioneers of the Church of the Nazarene, edição revisada, direitos do autor © 1999, por Paul S. Dayhoff. Todos os direitos reservados.
Este artigo foi traduzido da língua inglesa pelo Rev. Roy Henck, missionário reformado para Cabo Verde, e pelo Rev. António Barbosa Vasconcelos, pastor cabo-verdiano.