Coleção Clássica DIBICA

Todos os artigos criados ou enviados durante os primeiros vinte anos do projeto, de 1995 a 2015.

Mucavele, Timóteo Umelwane Njanje

1915-1972
Igreja do Nazareno
Moçambique

O Rev. Timóteo Umelwane Njanje Mucavele nasceu num lar tradicionalmente não-cristão na zona de Manica. Quando tinha onze anos, cuidava do gado.

Certa noite uma hiena atacou-o enquanto ele dormia em casa. Com as mordidas desse animal ele perdeu um dedo. O tio dele abriu fogo e a hiena fugiu. Uma noite, enquanto se recuperava, Timóteo teve um sonho. O céu se abriu e ele viu pessoas ali. Naquele momento o sonho lhe era de pouco significado, pois ele ainda não havia ouvido o evangelho.

Matriculou-se na escola em Tavane em 1928 e, em 1930, numa campanha evangelista, encontrou o Senhor. Mais tarde ele foi santificado. Timóteo ouviu o chamado de Deus para pregar e veio a ser um pastor de êxito. Em 1937 acompanhou o Rev. Lawrence Ferree a Tete, na tentativa de iniciar um trabalho ali. Em 1938, casou-se com Roshita.

Da Senhora D. Roshita Mucavele, o Rev. William Esselstyn disse: “Ela é tão boa como ele, uma esposa fiel, esplêndida mãe de família para os filhos e uma grande coadjudante no trabalho do Senhor. Ela tem muito interesse pela salvação do seu povo. No culto, ela ora ao pé do altar, com lágrimas, quando roga a favor dos penitentes e os instrui.”. O casal teve cinco filhas e dois filhos.

O missionário Sr. Doutor William Esselstyn escreveu a respeito de Timóteo: “Ele fez um trabalho de distinção, desenvolvendo uma das maiores, mais zelosas e espirituais das congregações locais. Embora um jovem de muita humildade, ele permanecia firme e sem medo em defender as suas convicções.” Foi pastor em Jatigue de 1938 até 1943. Nessa altura, foi para o Colégio Bíblico em Suazilândia. Em 1948, os Mucavele foram servir em Nyankutse, e em 1953 se deslocaram para Chitsoguanini.

Foi ali, por volta de 1945, que Mucavele foi capturado e enviado a trabalhar na plantação de açúcar em Xinavane, por seis meses. Ele lia a sua Bíblia, cantava e orava. O dono da propriedade não gostava disto e foi duro para com ele. Mas durante o dia, enquanto andava para cima e para baixo, atrás do arado, ele cantava. Depois de observá-lo por alguns dias, o patrão o chamou e perguntou-lhe porque agia desse modo. Ele testemunhou acerca do que Deus lhe tinha feito. O patrão disse-lhe: “De agora em diante não vou perturbá-lo mais; vamos dar-lhe um trabalho mais agradável e mais fácil.”. Mucavele foi feito capataz de toda aquela secção de plantação até ser posto em liberdade.[1]

O Rev. Mucavele concluiu os estudos no Colégio Bíblico em Suazilândia, e foi ordenado em 1947 pelo Superintendente Geral Hardy Powers. Era pastor em Njatigwe e foi nomeado líder da zona. Em 1962 transferiu-se para Mfumo a fim de pastorear a Igreja Central de Maputo. Ele pôs-se a construir um edifício para cultos; e naquele ano foi construído um edifício pequeno de cerca de oito metros por quinze, com pilares, vigas e asnas de madeira, tendo chapas onduladas de metal para paredes e teto. Logo ficou tão repleto de pessoas que foi necessário ampliá-lo para poder acomodar a congregação, que chegava para assistir aos cultos, mesmo olhando pelas janelas. Mucavele então começou a designar lugares nos arredores onde os membros podiam reunir-se durante a semana. Muitos destes lugares por fim tornaram-se congregações completas, e outras igrejas foram estabelecidas também à volta da cidade.[2] Mais tarde a filha dos Mucavele, a Rev. Bessie Luisa Tshambe, foi também pastora da Igreja Central de Maputo, que já era então a maior congregação nazarena na África.

O tio cristão do Rev. Mucavele, Sr. Jaime Manhique, que o tinha conhecido durante toda a sua vida, disse o seguinte na ocasião do seu enterro: “Ele trabalhou bem na sua vocação. Todos haviam de testificar que ele era uma pessoa distinta e que tratava a todos da mesma maneira, quer fossem importantes, quer não.”.[3] O missionário com quem ele trabalhou, Rev. Charles S. Jenkins, disse: “Ele era sólido, de confiança, e um bom chefe de zona.”[4]

A viúva dele, a Avó Roshita Mucavele, tinha mais do que oitenta anos e vivia com um filho que dirigia um negócio de transportes. Ela trabalhou muito na horta e assim sustentou toda a família. O seu filho sentiu-se envergonhado de ser sustentado pela mãe idosa e vendeu a horta dela.

A mãe dele ficou muito triste. Ela não conseguia dormir, perdeu o apetite e a sua saúde falhava. Sua nora disse ao marido que ele estava a matar a mãe. Encontraram outra horta a mais de seis quilômetros distantes da vila. A avó voltou a ficar contente e, enquanto trabalhavam, ela e os seus netos cantavam. As crianças locais vinham ouvi-los cantar, e aprenderam as músicas deles. Queriam que voltassem para cantar mais, e assim faziam todos os dias.

Então um sábado a avó convidou as crianças para assistirem à escola dominical, onde haviam de aprender mais canções e ouvir histórias acerca de Jesus. A assistência chegou a ser, por vezes, de até cinqüenta crianças, durante algumas semanas, mas depois os pais não permitiram que fossem porque haviam na estrada muitos caminhões rumo à cidade, e era perigoso para as crianças. Depois, um estudante do Colégio Bíblico passou a ir à vila aos sábados à tarde para lhes dar aulas. Reuniões de estudo bíblico foram iniciadas à medida que os adultos começavam a assistir; e em 1998 o lugar tornou-se um ponto regular de pregação.

Em 1999, a Igreja da Cidade de Matola fez uma grande festa na horta da Avó Mucavele; e a Igreja do Rio Matola foi organizada com uma assistência de aproximadamente 120 pessoas, com cerca de 80 membros credenciados. A primeira pastora foi a Senhorita Pérola Mandlate, filha do Rev. Simeão Mandlate e sua esposa, D. Violeta Mandlate.[5]

Paul S. Dayhoff


Citações:

  1. W. C. Esselstyn, “Africa Moves Forward” (“A África Anda para Frente”), The Other Sheep, Mission magazine of the Church of the Nazarene, (Kansas City, MO: Nazarene Publishing House, Maio 1949), 9.

  2. David W. Restrick, Doctoral Dissertation, “The Church of the Nazarene and the Mozambican Revolution, 1975 to 1982,” (Tese de doutoramento em teologia, “A Igreja do Nazareno e a Revolução Moçambicana, 1975 a 1982”), (Boston University School of Theology, 2001), 144.

  3. Mr Jaime Manhique, “Rev. Timoteo Mucavele Já Falceceu”, Mutwalisi (O Arauto), revista na língua Tsonga da Igreja do Nazareno em Moçambique e África do Sul, (Florida, Transvaal, África do Sul: Nazarene Publishing House, Abril-Junho de 1975), 9.

  4. C. S. Jenkins, “A Fruitful Church” (“Uma Igreja Frutífera”), The Other Sheep, (Janeiro 1959), capa interior.

  5. Rev. David Restrick, da sua mensagem no domingo de manhã, Oskaloosa, Iowa, (10 de Junho, 2001). David Restrick, (carta eletrônica, 18 de Agosto, 2001).


Este artigo é reproduzido, com permissão do livro Living Stones In Africa: Pioneers of the Church of the Nazarene, edição revisada, direitos do autor © 1999, por Paul S. Dayhoff. Todos os direitos reservados.

Este artigo foi traduzido da língua inglesa pelo Rev. Roy Henck, missionário reformado para Cabo Verde, e pelo Rev. António Barbosa Vasconcelos, pastor cabo-verdiano.