Coleção Clássica DIBICA

Todos os artigos criados ou enviados durante os primeiros vinte anos do projeto, de 1995 a 2015.

Muchave, João Zacarias

1910-1986
Igreja do Nazareno
Moçambique

Joao Muchave

Os elefantes obrigam-nos a viver nas hortas nestes dias. Eles chegam cedo e comem a nossa mandioca e o nosso milho. Os cristãos fortes, que têm o Espírito do Senhor, são como aqueles reis da floresta. Chegam sempre cedo às reuniões e entregam fielmente o seu dízimo. Como os elefantes, eles se reúnem em grupos grandes.

Os porcos selvagens, porém, não chegam com os outros animais. Eles se infiltram, depois de sairmos dos campos e de termos afastado os elefantes. Como algumas pessoas, estão sempre atrasados. Pessoas como os porcos selvagens enganam, destroem e são infiéis ao Senhor e à igreja, de muitas maneiras.[1]

O Rev. João Zacarias Muchave aproveitou esta ilustração num sermão em 1962. Ele era um grande orador.[2] Nasceu em Chilatanhane, perto de João Fumane, onde o seu pai, Pastor Zacarias M. Muchave exerceu o seu ministério. Zacarias Muchave testemunhou a maneira como ocorreu seu encontro com o Senhor mediante o ministério de uma senhora da Suazilândia que fazia uma visita. Deram-lhe a alcunha de “Manyawusani” porque ela os aquecia com seu fogo. Quando Zacarias se dirigiu ao altar para orar, demonstrou muita resistência, mas o Rev. D. Muyanga e os outros cristãos oraram por ele e o ajudaram. Ele testemunhou: “Verdadeiramente encontrei a paz, e Jesus ainda vive no meu coração hoje… Desde então tenho vivido na cidade de Jesus Cristo, onde o inimigo não pode entrar. Ele morre de angústia e amargura, mas não pode entrar naquela cidade.”[3]

O seu filho, João Muchave, cuidou das cabras e ovelhas até a idade de dez anos. O Professor James Mbanze instruiu-o na escola em Tavane, e Muchave tornou-se nazareno quando a missão metodista que existia ali cessou suas atividades. Ele se converteu durante um avivamento em Tavane, em que o Rev. João Mazivila foi evangelista, em 1932, e freqüentou o Colégio Bíblico na mesma localidade.

Em 1943 e 1944 ele serviu como pastor e professor em Mandende. Enquanto era pastor, o Rev. Muchave fundou uma escola em Jongwe, em 1949. Três meses depois, o padre da paróquia ordenou que a fechasse. As escolas protestantes não eram permitidas.[4] Ele foi pregador distinto e obrou estreitamente com a missionária Senhora Mary Cooper no trabalho evangelístico.

Uma vez ele ilustrou e demonstrou a necessidade da experiência da inteira santificação da forma seguinte: “Uma pessoa pode assentar-se pouco confortavelmente numa nádega por pouco tempo, mas para ficar confortável é preciso aproveitar a outra para poder assentar-se sobre as duas juntas.”.[5]

A missionária Mary Cooper faz um relato sobre uma mensagem que ouviu dele a respeito de João 14:6: “Eu sou o caminho.” Ele explicou acerca do caminho em que todos andamos. Muitas pessoas não respeitam tal caminho. Deitam terra nele, cospem nele, mas o caminho não murmura nem se queixa. Permanece sempre ali para servir às pessoas. Jesus é o Caminho. A nós, pecadores perdidos e apanhados em desvios, Ele nos aceita e indica-nos nova direção. Ele continua a ser o Caminho que conduz ao céu e à glória.

O Rev. Muchave continuou dizendo que as árvores que crescem à beira do caminho são também envolvidas pelas coisas malignas que caem sobre elas. São cortadas, quebradas e destruídas, mas também não se queixam. Oferecem sombra e frutos a todos que passam por elas,como os santos de Deus que permanecem perto de Cristo, o Caminho.[6]

Ele casou-se com a Sra. Neli Sithoie (1913-1981). Os pais dela foram N’wankava Titholye e Hlekwasse Sumbani. Ela não se sentia bem em casa dos pais e foi ficar em casa do Pastor Azarias Mavusso. Neli começou a estudar em Tavane em 1931. Ela era muito corajosa e forte, e era cristã fiel; procedia sempre com paz e paciência, e amava a todos.[7]

O Rev. João Muchave foi ordenado em 1950 pelo Superintendente Geral Hardy Powers; e em 1974 foi investido da função de superintendente do Distrito de Mavengane (ao sul de Moçambique e na província norte de Gaza). Foi ele um dos líderes que continuaram o trabalho da igreja durante a revolução comunista (1975-1981). Em 1975 os missionários Reverendos Armand Doll e Hugh Friberg foram encarcerados e os demais missionários saíram do país.

O Rev. Muchave era um cavalheiro cristão, alto e nobre, de cabelos grisalhos; usava a sua bicicleta ou tomava o autocarro para visitar as trinta e nove igrejas no distrito. Para além dos problemas da revolução, ele ministrou durante os períodos de seca e inundações. Foi um dos mais distintos superintendentes nacionais; e consideravam-no como um dos “patriarcas” da Igreja do Nazareno em Moçambique. O Rev. Muchave aposentou-se em 1978. Faleceu em decorrência do padecimento de uma doença cardíaca.[8]

A filha dos Muchave, Lousada Muchave, casou-se com o Rev. Jonas Mulate, filho do Rev. Ló Mulate e neto do pastor Samuel Mulate. Jonas e sua esposa eram os pioneiros do evangelismo na Igreja do Nazareno para as províncias do nordeste de Moçambique durante os princípios da década de 1990, depois de terminar a guerra civil. Eles conseguiram êxito fenomenal e crescimento da igreja ali.

Paul S. Dayhoff


Citações:

  1. Notas da Sra. Mary Cooper, (August 3, 1992).

2 Confirmado numa conversa telefônica com o Sr. Frank Howie, (Florida, Tvl., March 9, 1992).

  1. Zacharias M. Muchave, “I Am Testifying,”Mutwalisi(O Arauto),revista na língua Tsonga da Igreja do Nazareno em Moçambique e África do Sul, (Florida, Transvaal, África do Sul: Nazarene Publishing House, Julho-Septembro 1953), 12.

  2. João Muchave, handwritten autobiographical sketch in Tsonga, (Septembro 25, 1984, sent by Lorraine Schultz, June 1992). Carta do Vicente Mbanze, (13 Abril 1995).

  3. Related by Rev. Jacob Kanis (in 1977).

  4. Mary Cooper, “Letter in Appreciation of Rev.. Joao Muchave”, Mutwalisi, (Dezembro 1978),6.

  5. João Muchave, “Condolence”, Mutwalisi, (Abril 1982),4.>br>
  6. Theodore P. Esselstyn, Cut From the African Rock(Cortado da Rocha Africana): A Portrait of the Church of the Nazarene in Africa,(Kansas City, MO: Nazarene Publishing House, 1975),39,61. “A Tribute to João Muchave”, Trans African, (Florida, Gauteng, e África do Sul: Africa Nazarene Publications, Novembro-Dezembro 1986),15.

Este artigo é reproduzido, com permissão do livro Living Stones In Africa: Pioneers of the Church of the Nazarene, edição revisada, direitos do autor © 1999, por Paul S. Dayhoff. Todos os direitos reservados.

Este artigo foi traduzido da língua inglesa pelo Rev. Roy Henck, missionário reformado para Cabo Verde, e pelo Rev. António Barbosa Vasconcelos, pastor cabo-verdiano.