Coleção Clássica DIBICA
Todos os artigos criados ou enviados durante os primeiros vinte anos do projeto, de 1995 a 2015.Muchave, João Zacarias
Os elefantes obrigam-nos a viver nas hortas nestes dias. Eles chegam cedo e comem a nossa mandioca e o nosso milho. Os cristãos fortes, que têm o Espírito do Senhor, são como aqueles reis da floresta. Chegam sempre cedo às reuniões e entregam fielmente o seu dízimo. Como os elefantes, eles se reúnem em grupos grandes.
Os porcos selvagens, porém, não chegam com os outros animais. Eles se infiltram, depois de sairmos dos campos e de termos afastado os elefantes. Como algumas pessoas, estão sempre atrasados. Pessoas como os porcos selvagens enganam, destroem e são infiéis ao Senhor e à igreja, de muitas maneiras.[1]
O Rev. João Zacarias Muchave aproveitou esta ilustração num sermão em 1962. Ele era um grande orador.[2] Nasceu em Chilatanhane, perto de João Fumane, onde o seu pai, Pastor Zacarias M. Muchave exerceu o seu ministério. Zacarias Muchave testemunhou a maneira como ocorreu seu encontro com o Senhor mediante o ministério de uma senhora da Suazilândia que fazia uma visita. Deram-lhe a alcunha de “Manyawusani” porque ela os aquecia com seu fogo. Quando Zacarias se dirigiu ao altar para orar, demonstrou muita resistência, mas o Rev. D. Muyanga e os outros cristãos oraram por ele e o ajudaram. Ele testemunhou: “Verdadeiramente encontrei a paz, e Jesus ainda vive no meu coração hoje… Desde então tenho vivido na cidade de Jesus Cristo, onde o inimigo não pode entrar. Ele morre de angústia e amargura, mas não pode entrar naquela cidade.”[3]
O seu filho, João Muchave, cuidou das cabras e ovelhas até a idade de dez anos. O Professor James Mbanze instruiu-o na escola em Tavane, e Muchave tornou-se nazareno quando a missão metodista que existia ali cessou suas atividades. Ele se converteu durante um avivamento em Tavane, em que o Rev. João Mazivila foi evangelista, em 1932, e freqüentou o Colégio Bíblico na mesma localidade.
Em 1943 e 1944 ele serviu como pastor e professor em Mandende. Enquanto era pastor, o Rev. Muchave fundou uma escola em Jongwe, em 1949. Três meses depois, o padre da paróquia ordenou que a fechasse. As escolas protestantes não eram permitidas.[4] Ele foi pregador distinto e obrou estreitamente com a missionária Senhora Mary Cooper no trabalho evangelístico.
Uma vez ele ilustrou e demonstrou a necessidade da experiência da inteira santificação da forma seguinte: “Uma pessoa pode assentar-se pouco confortavelmente numa nádega por pouco tempo, mas para ficar confortável é preciso aproveitar a outra para poder assentar-se sobre as duas juntas.”.[5]
A missionária Mary Cooper faz um relato sobre uma mensagem que ouviu dele a respeito de João 14:6: “Eu sou o caminho.” Ele explicou acerca do caminho em que todos andamos. Muitas pessoas não respeitam tal caminho. Deitam terra nele, cospem nele, mas o caminho não murmura nem se queixa. Permanece sempre ali para servir às pessoas. Jesus é o Caminho. A nós, pecadores perdidos e apanhados em desvios, Ele nos aceita e indica-nos nova direção. Ele continua a ser o Caminho que conduz ao céu e à glória.
O Rev. Muchave continuou dizendo que as árvores que crescem à beira do caminho são também envolvidas pelas coisas malignas que caem sobre elas. São cortadas, quebradas e destruídas, mas também não se queixam. Oferecem sombra e frutos a todos que passam por elas,como os santos de Deus que permanecem perto de Cristo, o Caminho.[6]
Ele casou-se com a Sra. Neli Sithoie (1913-1981). Os pais dela foram N’wankava Titholye e Hlekwasse Sumbani. Ela não se sentia bem em casa dos pais e foi ficar em casa do Pastor Azarias Mavusso. Neli começou a estudar em Tavane em 1931. Ela era muito corajosa e forte, e era cristã fiel; procedia sempre com paz e paciência, e amava a todos.[7]
O Rev. João Muchave foi ordenado em 1950 pelo Superintendente Geral Hardy Powers; e em 1974 foi investido da função de superintendente do Distrito de Mavengane (ao sul de Moçambique e na província norte de Gaza). Foi ele um dos líderes que continuaram o trabalho da igreja durante a revolução comunista (1975-1981). Em 1975 os missionários Reverendos Armand Doll e Hugh Friberg foram encarcerados e os demais missionários saíram do país.
O Rev. Muchave era um cavalheiro cristão, alto e nobre, de cabelos grisalhos; usava a sua bicicleta ou tomava o autocarro para visitar as trinta e nove igrejas no distrito. Para além dos problemas da revolução, ele ministrou durante os períodos de seca e inundações. Foi um dos mais distintos superintendentes nacionais; e consideravam-no como um dos “patriarcas” da Igreja do Nazareno em Moçambique. O Rev. Muchave aposentou-se em 1978. Faleceu em decorrência do padecimento de uma doença cardíaca.[8]
A filha dos Muchave, Lousada Muchave, casou-se com o Rev. Jonas Mulate, filho do Rev. Ló Mulate e neto do pastor Samuel Mulate. Jonas e sua esposa eram os pioneiros do evangelismo na Igreja do Nazareno para as províncias do nordeste de Moçambique durante os princípios da década de 1990, depois de terminar a guerra civil. Eles conseguiram êxito fenomenal e crescimento da igreja ali.
Paul S. Dayhoff
Citações:
- Notas da Sra. Mary Cooper, (August 3, 1992).
2 Confirmado numa conversa telefônica com o Sr. Frank Howie, (Florida, Tvl., March 9, 1992).
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Zacharias M. Muchave, “I Am Testifying,”Mutwalisi(O Arauto),revista na língua Tsonga da Igreja do Nazareno em Moçambique e África do Sul, (Florida, Transvaal, África do Sul: Nazarene Publishing House, Julho-Septembro 1953), 12.
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João Muchave, handwritten autobiographical sketch in Tsonga, (Septembro 25, 1984, sent by Lorraine Schultz, June 1992). Carta do Vicente Mbanze, (13 Abril 1995).
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Related by Rev. Jacob Kanis (in 1977).
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Mary Cooper, “Letter in Appreciation of Rev.. Joao Muchave”, Mutwalisi, (Dezembro 1978),6.
- João Muchave, “Condolence”, Mutwalisi, (Abril 1982),4.>br>
- Theodore P. Esselstyn, Cut From the African Rock(Cortado da Rocha Africana): A Portrait of the Church of the Nazarene in Africa,(Kansas City, MO: Nazarene Publishing House, 1975),39,61. “A Tribute to João Muchave”, Trans African, (Florida, Gauteng, e África do Sul: Africa Nazarene Publications, Novembro-Dezembro 1986),15.
Este artigo é reproduzido, com permissão do livro Living Stones In Africa: Pioneers of the Church of the Nazarene, edição revisada, direitos do autor © 1999, por Paul S. Dayhoff. Todos os direitos reservados.
Este artigo foi traduzido da língua inglesa pelo Rev. Roy Henck, missionário reformado para Cabo Verde, e pelo Rev. António Barbosa Vasconcelos, pastor cabo-verdiano.