Coleção Clássica DIBICA

Todos os artigos criados ou enviados durante os primeiros vinte anos do projeto, de 1995 a 2015.

Sengulane, Esperança Berta

1955-1998
Comunhão Anglicana
Moçambique

Esperança Berta nasceu em Zandamela no distrito de Zavala na provincia de Inhambane em Moçambique no dia 30 de Março de 1995 e batizada na Igreja de São João Batista no dia primeiro de Maio do mesmo ano. Ela cresceu como muitas outras meninas em Zandamela e freqüentou a escola num internato em Macia e outras escolas na cidade de Maputo. Entretanto ela tinha um amor ardente pelo Evangelho. Ela insistia em sair do lugar onde morava para ir à Igreja Anglicana, porque sentia a necessidade de adorar da maneira em que tinha sido criada. Ela caminhava uma longa distância para ir à igreja aos domingos, e levava suas irmãs menores com ela. Este esforço deu lugar a uma nova congregação na casa dos seus pais em Maguluine. Berta, como era conhecida, teve um papel muito importante e se tornou uma líder proeminente no movimento juvenil, e era também muito respeitada pelos adultos. Seu dom de liderança espalhou-se além da sua congregação, e ela se tornou um dos membros influente no movimento estudantil na cidade de Maputo.

Quando um jovem Pastor, Rev. Dinis Sengulane, pediu voluntários para trabalharem no ensino da fé cristã em suas congregações, Berta se ofereceu. Ela se tornou uma fiel membro de equipe de quarto pessoas que foram treinadas para ensinar a fé nas igrejas e nos lares, especialmente nas áreas de Machava e Maguluine. Ela ajudou a muitas pessoas a verem mais claramente a sua vida familiar no contexto da fé cristã.

Em 9 de Outubro de 1977, Berta se casou com o mesmo jovem pastor que então já era bispo. Como o bispo de Moçambipe é chamado de Vovô, Berta passou a ser a Vovó Berta, aos 22 anos. Entre 1978 e 1983, ela se tornou a mãe de Teófilo, Crisóstomo Alfeu, Fidélia Rute e Bruno Ernesto. Ela trabalhava num banco e continuava seus estudos, então se formou profissionalmente. Mesmo sendo muito dedicada à família, ao trabalho e aos estudos, ela exerceu um papel muito ativo na igreja, tanto na sua paróquia como na diocese. Ela fundou a União de Mães, um grupo ao qual ela sempre levou iniciativas construtivas. Ela participou de várias cessões de treinamento em evangelismo, ministério de cura e liderança em fóruns anglicanos e ecumênicos onde fazia bom uso da sua preparação. Ela fundou congregações, fortaleceu outras, e aprofundou a sua própria vida espiritual, da sua família e de outros. Escutava os sermões intensamente, e pensava que a hora da prédica era um momento solene assim como a Santa Ceia na qual cada indivíduo deveria se beneficiar. Ela freqüentemente dizia: “-O sermão é um momento sagrado no qual estamos na expectativa de escutar a Deus nos falando. Somos chamados a escutar intensamente.”

O que ela escutava nos sermões e nos seminários ela traduzia em ações. Neste contexto, ela fundou a Congregação de Bernard Mizeki. Ela introduziu o hábito de plantar flores perto das igrejas, e o uso de certas expressões como: “-Graças a Deus… Se Deus quiser… Pela vontade de Deus.” Ela convidava às pessoas a conhecer o plano de Deus em cada situação.

Berta amava muito a sua família, e a cuidava incansavelmente providenciando conforto com uma incrível criatividade. Ela respeitava o clero e as suas famílias, e falava com integridade quando havia necessidade de criticar construtivamente. As crianças, a família e os clérigos a chamava de “mãe cuidadosa,” e a congregação a chamava de “A vovó sorridente.”

A morte de Berta

No dia 14 de novembro de 1998, Berta falou com algumas pessoas que foram ajudar no seu campo a plantar sementes e lhes contou a parábola do semeador. Ela lhes prometeu encontrar uma congregação naquela área chamada Khulula, a quarenta quilômetros a oeste de Maputo. No dia 22 de novembro, ela teve diagnóstico de câncer da mama. No dia 25 de novembro, Berta saiu de Maputo viajando de carro até Beira para participar da conferência anual da União de Mães. Ela parou e orou em Zandamela e Maxixe, com intensidade. O seu esposo, dois filhos e três visitantes de Londres estavam viajando com ela. No dia 26 de novembro, ela liderou os que estavam viajando nas orações matutinas. Era costume de a família ter uma oração matutina no carro, caso eles não tivessem tido tempo de fazê-lo antes de sair. Esta vez ela insistiu para dirigir o canto. Quando a oração terminou, antes que alguém falasse alguma coisa, houve um acidente e Berta morreu instantaneamente. Seu último papel neste mundo foi guiar a família em adoração. Isto aconteceu em Zove próximo de Muxungwe.

Conseqüências Imediatas da Morte de Berta

Sem mencionar os rituais fúnebres que reuniram por volta de 5000 pessoas nos dois dias de cerimônia e um número similar nas seguintes quatro semanas aconteceram os seguintes desenvolvimentos no crescimento da igreja:

Seis meses depois da morte de Berta, uma congregação foi fundada em Khulula, onde ela tinha prometido que ia semear o Evangelho.

Doze meses depois do acidente, no exato lugar onde ele aconteceu, uma congregação estava em pleno funcionamento. Sessenta pessoas foram batizadas e confirmadas, onze casamentos foram celebrados e a pedra fundamental foi colocada para a construção de uma igreja e um centro de saúde. Isto foi para criar neste local, um lugar de esperança e nova vida.

Três anos depois, a igreja foi inaugurada, o centro de saúde abençoado, e a pedra fundamental para a escola foi colocada, uma verdadeira celebração de vida aconteceu.

Estas instalações foram construídas com fundos de contribuições individuais e de grupos que queriam celebrar a vida de Berta, providenciando facilidades que dignificassem a vida das pessoas para a eternidade. O lugar é provavelmente o complexo mais bonito da diocese. O povo de Zove jamais tinha tido uma escola, uma igreja, um hospital ou água potável antes. A população local disse que Deus lhes tinha dado uma maravilhosa amiga, Esperança Berta, cuja morte lhes trouxe uma igreja, uma escola, um centro de saúde e água potável num curto espaço de tempo. Eles dizem; “- Nós vamos encontrá-la no céu, e regozijar-nos com ela.”

Outras quatro congregações foram fundadas na área (uma a trinta e cinco quilômetros ao sul, outra a vinte quilômetros ao norte, outra a dezessete quilômetros ao leste e uma a quinze quilômetros ao sudoeste), e aproximadamente 300 pessoas são membros da igreja.

Nós acreditamos que o maravilhoso sorriso de Berta está agora fazendo os anjos felizes, e que junto com eles, ela continua a cantar assim como ela fez até a hora da sua morte.

Dinis Salomão Sengulane


Fontes:

História local e relatos de testemunhas oculares.


Esse artigo foi escrito e enviado pelo Reverendíssimo Dinis Salomão Sengulane, Bispo de Lebombo, Maputo, Moçambique e esposo de Berta.