Coleção Clássica DIBICA

Todos os artigos criados ou enviados durante os primeiros vinte anos do projeto, de 1995 a 2015.

Okoh, Agnes (A)

1905-1995
Cristo Santa Igreja Internacional
Nigéria

Agnes Okoh

Agnes Okoh era uma mulher analfabeta do povo Igbo, que em 1947 fundou a Santa Igreja de Cristo Internacional, uma igreja africana independente da Nigéria.

Filha de Onumba Emoridi e Ntonefu nasceu em Ndoni no estado de Rivers, em 1905. Após a morte de seus pais foi embora de Ndoni e fixou-se em Asaba. Ela se casou com James Okoh, um imigrante e marinheiro de Gana, em 1924. Somente dois dos seus filhos, Anyele e Anyetei, sobreviveram ao alto índice de mortalidade infantil na sua família. A morte do seu marido em 1930 e a perda dos seus filhos a deixaram com forte enxaqueca e em estado depressivo. Foi curada por uma profetisa depois de muitas tentativas frustradas da medicina ocidental e nativa. Ela partiu de Asaba para viver em Enugu onde se dedicou a atividade têxtil.

O seu Chamado ao Ministério

Um dia, em abril de 1943 ao retornar do mercado, ela escutou uma voz que lhe dizia: “Mateus 10” repetidamente, mas não conseguia ver ninguém. Correu para a casa de uma amiga e lhe perguntou: “O que significa Mateus 10?” A amiga quase analfabeta também, pediu a um jovem que lesse o capítulo 10 do Evangelho de Mateus da tradução Union Igbo. Agnes e sua amiga correram para a casa da profetisa que a tinha curado. A mulher aconselhou a ter cautela e não entrar de imediato para o ministério apesar do seu claro chamado. Ela deveria aguardar até que Deus confirmasse esse chamado. Então Agnes continuou o seu negócio têxtil no mercado de Enugu.

Ministério Evangelístico Itinerante

Em 1947, dois anos depois da sua experiência religiosa, ela teve um forte impulso para pregar a Palavra de Deus. Conseqüentemente ela vendeu todos os tecidos que possuía, deu o valor recebido aos pobres e começou um ministério evangelístico no leste da Nigéria. Ela segurava a Bíblia numa mão e um sino na outra e assim pregava de mercado em mercado, começando pelo mercado de Enugu. Ao pregar ela percebeu que tinha o dom de profecia e o dom de cura. Doze pessoas inicialmente a acompanharam na sua peregrinação evangelística. Ela começou um grupo de oração em Onitsha no mesmo ano, mas continuava a sua jornada evangelística, viajando em ônibus, em trem ou a pé. O tema da sua mensagem era nova vida em Jesus. Ela enfatizava o arrependimento, justiça e a santidade. Ela treinou alguns de seus membros para cuidar dos centros de oração que surgiam e continuar a sua pregação. Apesar de ser analfabeta se sabe que freqüentemente citava fragmentos da Bíblia que sabia de cor, o que surpreendia os seus seguidores. Sabe-se que ela freqüentemente perguntava: “Obu na ife m na ekwu adiro na akwukwo nos?” o que literalmente significa: “O que eu estou dizendo não está na Bíblia?”

Agnes Okoh ficou conhecida pela sua incredulidade nas crenças tradicionais as quais eram adversas à expansão do Evangelho e ao desenvolvimento do potencial humano. Assim ela pediu aos anciãos locais que lhe dessem parte da floresta amaldiçoada (ajaw-awfia or ajo oshia) para fazer centros de oração. A floresta amaldiçoada servia como lugar onde eram jogados ou abandonados: escravos, leprosos, os que morriam de doenças contagiosas, lunáticos, mulheres que morriam no parto, os suicidas, e aqueles que morriam de acidente. O povo acreditava que a alma dos mortos ficava com raiva por não ter recebido um funeral e enterro apropriados. Portanto acreditavam que estes eram maus e que puniam qualquer pessoa viva que tivesse a coragem de entrar na floresta. Os líderes locais deram a floresta de graça à Agnes, pois sabiam que se ela fosse uma falsa profetisa seria morta pelos espíritos maus. Depois de passar vários dias na floresta sem sofrer nenhum mal aparente por parte dos espíritos maus, ele incentivou seus seguidores a plantar na floresta amaldiçoada. O solo fértil da floresta resultou numa boa colheita aos que tiveram a coragem de plantar. Este feito lhe rendeu o titulo de Odozi Obodo, que literalmente quer dizer: “a que concerta a cidade.” O ministério de oração de Agnes Okoh era chamado de Ministério de Oração Odozi Obodo. Mais tarde recebeu o nome de Santa Igreja de Cristo (Odozi Obodo).

Suportando Perseguição

Apesar destas realizações espirituais significativas, Agnes Okoh foi perseguida e escarnecida como uma bruxa que usava poderes que não vinham de Deus no seu ministério. Ela foi acusada de usar os poderes de Maami Water, uma sereia. A benção da água era um dos elementos da cura e era visto como uma prova da sua vinculação com a sereia. Outros também achavam que ela tinha um altar em Ndoni, a sua terra natal. Ela respondia aos seus acusadores dizendo: “Adigh m anu okwu ekwensu” que significa: “Eu não presto atenção ao Diabo,” Às vezes ela respondia: “Chukwu me kwalu fa ebele” que quer dizer: “Que Deus tenha misericórdia deles.” Mesmo assim Agnes e seus seguidores eram ridicularizados por bater palmas, dançar, tocar tambores nativos e gritar aleluias quando adoravam a Deus.

Uma Mentora

Mesmo com as desvantagens da marginalização feminina na sociedade Igbo e sua incapacidade de ler, Agnes Okoh usou suas qualidades femininas, seus dons espirituais, sua fé em Deus e sua paixão materna para treinar muitos homens para liderar a igreja. Antes de ser chamada ao descanso eterno, ela identificou qualidades de liderança entre os seus seguidores e os treinou. Sete dos que ela treinou se tonaram líderes da igreja em diversas ocasiões. Aqueles que ela treinou lembram com alegria a sua severidade, amor e humildade. Mesmo sendo a fundadora da igreja ela não exigiu posição de liderança também não exerceu nenhuma função pastoral tradicional tal como batizar, dispensar a santa ceia ou ordenar pastores. Ela ficava nos bastidores animando os líderes e facilitando a liderança. Ela administrativamente era chamada de “Profetisa Agnes Okoh”, mas era popularmente conhecida como “Mama” ou “Odozi Obodo.” Ela inculcava naqueles que treinava o temor a Deus, a dependência de Deus, o sentimento eclesiástico coletivo, a prioridade de pregação do Evangelho e a necessidade de ser responsável perante aos seguidores.

O Dom de Cura

Agnes Okoh manteve uma fé inabalável em Deus no referente à cura e milagres. Conta-se que ela trouxe mortos de volta à vida e curou muitas doenças. Seu ministério foi inicialmente um ministério de fé. Ela não permitia que seus seguidores tomassem nenhum remédio. Cuidados pré-natais e pós-natais não significavam nada para mulheres grávidas da igreja, no entanto asseguravam que não houvesse problemas fatais no parto. Mas, ela modificou a sua postura de fé e cura a meados de 1970.

Em 1963 ela disse que tinha sido guiada por Deus a usar o arroio Nkissi em Onitsha no seu ministério de cura. Lá se relata que muitas pessoas foram curadas. Dez anos depois ela usou as águas do rio Olo Ogwashi em Ogwashi-Ukwu, Área Governamental do Sul de Aniocha, no Estado do Delta para curar. Óleo, água benta, e a imposição de mãos junto com orações eram seus meios de cura. Ela não curava por dinheiro. Aqueles que eram curados, no entanto, doavam livremente. Muitos se tornaram membros da igreja depois de receberem cura da profetiza.

Uma Profetisa

Ela estava imbuída de mensagens proféticas exatas e a revelação de pensamentos e planos diabólicos de certas pessoas. Entre as suas numerosas profecias encontra-se a sua declaração profética sobre o fim da guerra civil na Nigéria. Membros da igreja lembram carinhosamente da sua declaração profética em 1965: “A Nigéria vai passar por distúrbios e perderá muitas almas e derramará muito sangue… O milho que é vendido a razão de 15 por três kobo (equivalente a centavos) será vendido a razão de um por 60 kobo…” A profecia foi cumprida durante a Guerra da Biafra na Nigéria de 1966 a 1970. Os seus seguidores diziam que ela tinha profetizado que a Guerra terminaria logo após dezembro de 1969. Em outubro de 1969 ela ordenou aos seus seguidores que divulgassem que a Guerra terminaria depois de 1969. A Guerra oficialmente terminou no dia 12 de janeiro de 1970.

Ministério Filantrópico

A marca distintiva do ministério de Agnes Okoh para a humanidade foi a sua filantropia. Ela é lembrada como alguém que amava a todos independente de gênero ou filiação denominacional. Ela usava as doações recebidas de membros ricos para dar comida, roupa e dinheiro aos necessitados e destituídos. Ela sozinha construiu um berçário, uma escola primária, uma maternidade e uma fonte de água em Ndoni, sua terra natal. A educação na escola primária era gratuita assim como os serviços prestados pela maternidade. As mães que amamentavam na maternidade somente tinham que comprar detergente e querosene. Ela guiou o povo de Ndoni a construir estradas e ruas na vila. Após a sua aposentadoria a sua casa serviu para hospedar oficiais do governo e personalidades distintas que visitavam Ndoni. A Sua Alteza Real, Chefe Gabriel Okeyia, o Awo (chefe) e Okpala-Ukwu (a pessoa mais anciã) de Ndoni declararam em 2003 que: “Ela ajudou muitas pessoas pobres. Quando não havia estradas em Ndoni ela reuniu as pessoas para construir estradas e ruas. Se diz que: ‘Ninguém é profeta na sua própria terra’, mas ela foi uma exceção. Todos gostavam dela.”

O Seu Chamado para o Descanso Eterno

Agnes Okoh faleceu em 10 de março de 1995 deixando uma igreja que é vibrante em evangelismo, ensinamento bíblico e ministério holístico. Ela instituiu a prática de que a igreja deve cuidar dos seus pastores, seus obreiros e das viúvas. Ela instigou os seus seguidores a depender de Deus em fé e obediência, sem importar quão adversas fossem as circunstâncias. Ela inculcou no coração dos seus seguidores que não fraquejasse na pregação do Evangelho. Ela acreditava que o Evangelho deveria ser pregado com sentido de urgência e com um espírito de perseverança. Não é de admirar que doze anos depois da sua morte a Santa Igreja de Cristo Internacional tenha crescido em qualidade e quantidade, atualmente com mais de 850 congregações na Nigéria, Togo e Gana. [1]

Thomas Oduro


Notas

  1. Para mais informações e fontes sobre a profetisa Agnes Okoh, veja: Thomas Oduro, Christ Holy Church International: The Story of an African Independent Church (Minneapolis: Editora Universitária Luterana, 2007).

Essa história foi apresentada em 2007, e foi extraída do livro de Thomas Oduro, Christ Holy Church International: The Story of an African Independent Church (Minneapolis: Editora Universitária Luterana, 2007). O Rev. Thomas Oduro, Ph.D., é o diretor do Good News Theological College and Seminary, Accra, Gana e representante e coordenador do DIBICA.