Coleção Clássica DIBICA

Todos os artigos criados ou enviados durante os primeiros vinte anos do projeto, de 1995 a 2015.

Comboni, Anthony Daniel (B)

1831-1881
Igreja Católica
Sudão

Anthony Daniel Comboni

Algumas pessoas consideravam a vida de Daniel Comboni um fracasso, depois da sua morte em Cartum em 1881. Este padre missionário trabalhou ativamente na África e pela África por mais de trinta anos e produziu um documento estratégico-continental: Plano para a Recuperação da África, mas sem muito sucesso aparente. Mais de 100 padres que ele recrutou morreram. A maioria dos seus centros missionários no Sudão fracassou, estavam em crise ou seriam eliminados em breve pelo Mahdi Muçulmano. Mas um século depois os Combonianos e as irmãs Comboni se mostravam como uma forte ordem missionária na África e na América Latina. Comboni se equipara com Venn, Libermann e Lavigerie, entre a dezena de figuras do século XIX que alegavam e possuíam uma visão missionária. A sua estratégia era de longo prazo: “Os missionários terão que entender que eles são rochas escondidas na terra e que talvez jamais sejam descobertas, mas formarão parte do alicerce de um vasto e novo edifício.” [1]

Nascido numa pequena Vila na Itália em 1831, Comboni sempre quis ser padre e com grande interesse na África, participou de uma expedição ao sul do Sudão em 1857. Doenças tropicais dizimaram o pequeno grupo e ele esteve prestes a morrer, o padre superior disse: “Se somente um de vocês sobreviver, que não esmoreça ou perca confiança… Jurem para mim que não voltarão.” “África ou morte”, respondeu Comboni. (Ele foi o único sobrevivente da primeira missão e voltou para a Itália para recuperar a sua saúde.)

Qual era a melhor maneira de conduzir o trabalho missionário na África? Comboni lutou com essa pergunta em 1864 estando em Roma escreveu O Plano para a Recuperação da África. Devido aos problemas de clima e doenças assim como o problema da adaptação cultural dos estudantes africanos na Europa, Comboni recomendou que todas as ordens missionárias européias unissem esforços (isto aconteceu no contexto do apogeu da “partilha da África” e estava contra as tendências dominantes). As ordens unificadas deveriam construir institutos em regiões climáticas favoráveis por todo o continente. Deste modo, europeus poderiam vir e treinar africanos não somente na religião, mas como professores e artesãos. Assim que estes institutos estivessem prontos africanos e europeus iriam para o interior juntos, mas os europeus retornariam após alguns anos e dariam lugar a outros europeus, de acordo com a necessidade. “A recuperação da África através dos seus próprios recursos me parece a única forma possível de cristianizar o continente”, escreveu Comboni.

Como era esperado, os franceses se negaram a participar deste plano apesar de Roma tê-lo considerado atrativo e encorajou aos missionários italianos que criaram o Instituto Cairo, com escolas para meninas e rapazes e um hospital como a primeira empreitada. (Esta seria a única). As irmãs Verona e os Padres Verona chegaram alguns anos depois e por volta de 1871 Comboni retornou ao Sudão para pôr em prática o plano ele mesmo. Ele foi nomeado vicário apostólico da África central em 1877.

A tarefa que Comboni enfrentou na África em 1970 foi complicada pelo tráfico de escravos. A escravidão era um grande negócio na África Central com grandes caravanas armadas de recrutadores que pagavam propina aos oficiais egípcios para que lhes permitissem movimentar livremente do interior até as cidades portuárias onde vendiam a sua carga humana. Comboni lutou duramente contra a escravidão, inclusive recebeu um pequeno exército para combater aos traficantes. Fechou o mercado de escravos El Obeid e perseguiu alguns dos traficantes. Mas ele era a única pessoa contra uma indústria estabelecida.

Acompanhava Comboni o primeiro padre africano a trabalhar na África Central, o Frei Pio Hadrianus, um Beneditino. Logo outro padre africano, frei Antonio Dubale, liderava uma vila modelo para libertar escravos em El Obeid. Um catequista nubiano egressado do Instituto do Cairo foi enviado para trabalhar neste importante grupo étnico do sul do Sudão. Os nubianos tinham uma cultura muito rica, eram anti-islâmicos o que os tornava um alvo lógico para o trabalho missionário.

Comboni era uma figura muito importante na vida religiosa da África, treinava missionários africanos, combatia o tráfico de escravos e estabelecia um pequeno número de missões solidamente concebidas no Sudão, e o mais importante: criava a ordem dos padres e irmãs Verona, os quais passaram por diversas reorganizações e finalmente se transformaram nas congregações missionárias Comboni. Comboni foi beatificado em Roma, em 17 de março de 1996. *

Olha para aqueles que te reverenciam, oh Deus, para aqueles que confiam na Tua misericórdia. Sana as nossas divisões e as nossas inimizades, oh Senhor, ajuda-nos a rejeitar os caminhos da violência. Então haverá um novo amanhecer sobre o deserto e Teus filhos do norte e do sul do Sudão cantarão louvores ao Santo a quem conhecemos por diversos nomes. Amém. *

Frederick Quinn


Notas

  1. A. G. Mondini, Africa or Death: A Biography of Bishop Daniel Comboni, Founder of the Missionary Societies of the Verona Fathers and the Verona Sisters (Boston: St. Paul Edições, 1964).

Etse artigo foi reproduzido com a permissão de African Saints: Saints, Martyrs, and Holy People from the Continent of Africa, copyright © 2002 por Frederick Quinn, Crossroads Publishing Company, New York, New York. Todos os direitos são reservados.