Coleção Clássica DIBICA

Todos os artigos criados ou enviados durante os primeiros vinte anos do projeto, de 1995 a 2015.

Muzorewa, Abel Tendekayi

1925
Metodista
Zimbábue

O Bispo Abel Tendekayi Muzorewa, bispo metodista e líder nacionalista, foi o primeiro ministro da coalizão governamental Zimbábue Rodésia, que fracassou na sua tentativa de criar um governo bi-racial e terminou numa Guerra civil na antiga Rodésia controlada por brancos.

Em 1947, Muzorewa foi nomeado como pregador leigo, por cinco pequenas congregações quando ainda estudava teologia. Foi ordenado em 1953 e foi nomeado como pregador do circuito por cinco anos, antes de estudar na Faculdade Metodista nos EUA de 1958 a 1963, onde completou seu mestrado. Nos anos 50, ele apoiou o seu povo, incitando sentimentos nacionalistas, e depois da sua volta ele assumiu o posto de diretor da juventude na conferência, onde ele podia canalizar o seu ministério para a atividade política. Ele comandou protestos contra a deportação do Bispo Ralph Dodge, que se opunha a crescente repressão política do governo de Ian SMITH, o qual proclamou unilateralmente a independência da nação da Rodésia, governada por brancos em 1965. Em 1968, Muzorewa foi eleito bispo e sucedeu a Dodge, tornando-se o primeiro africano líder numa das maiores igrejas da Rodésia. Ele entrou em conflito com o regime de Smith, e este o proibiu de entrar nas propriedades de terras tribais, onde a maioria dos metodistas negros vivia. Ele continuou a criticar as políticas racistas do governo, e tornou-se um símbolo de resistência nacional.

Em 1971, os britânicos fecharam um acordo com Smith que estabelecia uma transição do poder num prazo de décadas, em troca do fim das sanções do governo. Muzorewa uniu-se com um clérigo inexperiente, o Reverendo Canaan BANANA, e formaram o Congresso Nacional Africano (CNA) para opor-se ao acordo. Foi tão bem sucedido, que o referendo proposto foi revogado. Muzorewa tornou-se um líder nacional, e uma personalidade internacional. Os movimentos de liberação: União Nacional Africana do Zimbábue (ZANU) do Reverendo Ndabaningi SITHOLE e a União do Povo Africano de Zimbábue (ZAPU) do Joshua NKOMO-ambos ficaram em baixo do “guarda-chuva” do CNA, apesar de surgirem algumas dúvidas quando Muzorewa fundou o Partido Nacional. O CNA era o único partido negro legal, já que a ZANU e a ZAPU entraram para a guerrilha, a qual este rejeitava. Muzorewa era um homem sem astúcia e sem ambição política, características que foram a causa do seu sucesso nos anos 70 e a razão do seu fracasso também. Ele foi um líder africano reconhecido, mas não tinha ambição e evitada as facções políticas que impulsionavam os movimentos de independência, mas que também levaram à violência étnica e derramamento de sangue em batalhas internas. Muzorewa se via como Moisés, liberando o seu povo da escravidão; ZAPU e ZANU, o viam como uma figura pública que mantinha uma imagem legal, ao mesmo tempo que, eles lutavam a verdadeira batalha pela libertação. Em 1975 Sithole e Nkomo foram liberados da restrição que os tinha confinado às suas vilas nativas desde 1964. Eles imediatamente tomaram o controle do CNA de Muzorewa. As conversas com o governo fracassaram, Nkomo e Sithole abandonaram o CNA para começar os seus próprios movimentos dissidentes, e Muzorewa temporariamente deixou o país. Depois de quatorze meses ele retornou e teve uma tumultuada bem-vinda. Nkomo tentou sair na frente do Bispo ao unir-se com o líder guerrilheiro Robert MUGABE da Frente Patriótica (FP). Depois do fracasso das conversas de conciliação intermediadas pelos EEUU em 1977, Muzorewa se viu cada vez mais isolado politicamente. Os estados africanos vizinhos endossaram a guerra civil da FP e Muzorewa voltou-se para negociações diretas. Em 1978 Muzorewa e Sithole (que tinha perdido o controle da ZANU para Mugabe) firmaram um acordo com Smith para instalar um governo majoritário no prazo de um ano. Todos os cidadãos a partir de dezoito anos teriam o direito de votar, mas as cadeiras estavam reservadas para os brancos, além de possuírem um quarto dos cargos ministeriais.

Desde o seu início o governo transitório estava fadado ao fracasso. Muzorewa se tornou o primeiro ministro quando o CNA efetuou eleições e o nome do país foi mudado para Zimbábue Rodésia. Mas a FP denunciou o acordo, e a guerra continuou, não havendo reconhecimento internacional. Quando Muzorewa tentou dirigir-se ao Conselho de Segurança das Noções Unidas um dia depois de Nkomo e Mugabe, não lhe foi permitido. A situação de segurança se deteriorou chegando ao ponto de aliados do governo não poderem sair da região da capital sem correr risco. Um grande número de brancos emigrou, deixando a economia instável. Finalmente um acordo internacional multipartidário levou ao desembarque de um administrador britânico junto com as tropas da Commonwealth para supervisionarem o cessar fogo. Em 1980 a independência foi conseguida e o ZANU de Mugabe arrebatou o poder. Muzorewa foi eleito ao parlamento, mas o CNA ganhou somente outras duas cadeiras. Banana tornou-se presidente do Zimbábue com Mugabe como primeiro ministro. Muzorewa continuou no parlamento, mas foi preso de 83 a 84. Em 1985 ele voltou ao Scarritt Theological Seminary em Memphis. Ele divide o seu tempo entre Memphis e sua fazenda em Zimbábue.

Norbert C. Brockman


Bibliografia

Current Biography. New York: H. W. Wilson, 1940-.

Lipschutz, Mark R., and R. Kent Rasmussen. Dictionary of African Historical Biography. 2ª edição. Berkeley: University of California Press, 1986. Dickie, John and Alan Rake. Who’s Who in Africa. London: African Development, 1973.

Wiseman, John A. Political Leaders in Black Africa. Brookfield, VT: Edward Elgar Publishing, 1991.

Rake, Alan. Who’s Who in Africa: Leaders for the 1990s. Metuchen, NJ: Scarecrow Press, 1992.

Sugestão de Leitura: Muzorewa, Abel. Rise Up and Walk (1978).


Esse artigo foi reproduzido com permissão de* An African Biographical Dictionary*, copyright © 1994, editado por Norbert C. Brockman, Santa Barbara, Califórnia. Todos os direitos são reservados.