Catoquessa, Silva Capamba

1947-1993
União de Igrejas Evangélicas de Angola
Angola

Silva Capamba Catoquessa

Silva Capamba Catoquessa (1947-1993) nasceu em 3 de março de 1947, na missão de Catota, município de Chitembo, Província do Bié, na aldeia Catoquessa, em Angola. Foi filho de Lumbimbo Catoquessa e de Nachindongo, de uma família camponesa do grupo etnolinguístico lunda cokue de origem Bantu. Os cokues são predominantemente das Lundas. Seus pais são provenientes das Lundas.

Seus pais sairão de lá a procura de melhores condições de vida, nas trocas comerciais, o precioso diamante, e Silva Capamba Catoquessa nasceu acidentalmente. Catoquessa é o sobrenome da família que significa, na língua cokue, “fez perder” ou “alguém que perdeu um ente-querido, um bem valioso.” Teve uma infância e juventude muito triste e sem viver o amor dos pais, pois eles morreram quando tinha aproximadamente oito a dez anos de idade. Após a morte dos seus pais, ele e os seus três irmãos foram criados pela irmã mais velha de sua mãe, onde ficaram sob os cuidados desta. Salientar que ele era o segundo dos quatro filhos, sendo duas meninas e dois rapazes. Fez os seus estudos primários na missão de Catota tendo terminado a 4ª classe, tendo concluído a sua formação académica década 80 (da 5ª classe até a 11ª classe), no capital do Cuando-Cubango, no curso de ciências biológicas.

Catoquessa se converteu em Chitembo. Antes da sua conversão, ele era cantor e batuqueiro nas danças mundanas ou em círculos tradicionais. Em 1967 foi levado ainda jovem como contratado para a Província de Benguela, tendo trabalhado na Açucareira, de onde veio acidentar o braço direito e foi socorrido pelos colegas. A máquina do corte da cana feriu-lhe o braço, a partir do antebraço até a mão. Foi hospitalizado, no hospital provincial de Benguela, onde passou, por várias cirurgias até a sua recuperação, após a recuperação, vem a conversão e o chamado para servir a Deus. Para o Rev. Ngalangue, seu colega de carteira e de ministério, “O acidente foi o facto importante que o levou ao chamado para o ministério.” Os planos do Senhor são diferentes do homem, e Deus pode usar qualquer coisa para forjar o caracter do homem que quer usar para seu ministério. Para Catoquessa, foi necessário um acidente para entender que Deus estava o chamar para uma grande missão, pois o acidente foi um grande impulso para a confirmação do chamado de Deus. A resposta certa do seu servo foi “Eis-me aqui,” e a orientação de Deus foi “volte para tua terra porque tenho um grande plano pra ti.”

Regressou a sua terra natal Catota, no Bié, onde se encontravam os seus familiares. Regressado a casa, em 1971 atendeu o chamado tendo ingressado no Instituto Bíblico de Catota onde frequentou o curso básico de teologia. Contraiu matrimónio com senhora Eunice, que era colegas no curso básico de teologia. Após a recepção dos diplomas, eles foram enviados a Província do Moxico, no Município dos Luchazes, na vila de Cangamba, onde a senhora veio a falecer vítima de uma crise, no membro inferior, (vulgarmente chamado, mina tradicional) em plena Páscoa, numa sexta-feira santa, no calar da noite. Foi um momento mais triste deste homem na terra dos Luchazes, sem parentes, confiando somente em Deus como guia. O casal não tivera filhos.

Depois da morte de sua esposa dona Eunice, ele conheceu a dona Maria Helena Chitumbo Catoquessa com quem contraiu matrimónio no final de 1976 em Camgamba, visto que como pastor e líder de uma comunidade, não podia ficar por muito tempo sem esposa devido os desafios do ministério. Dona Maria Catoquessa (Catoquessa de apelido, recebido após o matrimônio), ou simplesmente mama Helena, costumava servir nos bastidores como uma alma gêmea. Ela foi um parceiro de ajuda, um refúgio e um pilar indispensável de apoio por trás desse grande homem e líder que atravessava terra e mar, ou de cidade em cidades em cumprimento do chamado de Deus, encorajando lideres e membros a continuarem firmes na obra de Deus apesar do momento difícil que o pais estava passando. Catoquessa era um marido terno e atencioso.

O Senhor abençoou sua união com seis filhos, nomeadamente do primogénito ao último: Esperança Vapuila da Silva Catoquessa Cahombo, Paz Calimbue Catoquessa, Conceição Caunga Catoquessa, Orlando Perolino Chitumbo Catoquessa, José Limona Malichi Catoquessa, Noé Capamba Catoquessa. Todos são residentes em Luanda, capital de Angola. Era um bom pai e passava um tempo com os filhos, apesar de sua agenda lotada. Ele orava com eles; era um amigo deles; e sempre expressou gratidão a Deus por sua família.

Desde da fundação da União de Igrejas Evangélicas de Angola (UIEA) em 1914, a formação era assegurada pelos missionários e por alguns nacionais que eram descobertos e treinados pelos missionários. Depois da independência de Angola em 1975, maior parte dos missionários voltaram para seus países devido o conflito armado existente naquela época. As missões também sofreram ataque, devido a guerra civil. A Missão de Catota é afetada, e os missionários, também dispersaram-se. A missão fechou, ou seja, alguns pastores, foram refugiar-se no quando Cuando-Cubango. Em 1978, com o regresso do Rev. Walter Zigrang e sua esposa Lois, e da missionária Elizabeth Suderman, dá-se o reinício das aulas em Menongue de forma a preservar o futuro da Igreja na formação de quadros, implantando assim o Instituto Bíblico de Menongue (IBM). Na altura não havia professores para dar aulas, era necessário recrutar professores entre os pastores.

Em novembro de 1978, Catoquessa aceita a proposta do Zigrang da nova missão a de ser professor do IBM. Deixou assim a bela vila de Camganba, Província do Moxico para a Província do Cuando-Cubango, na cidade de Menongue, para a reabertura do Instituto Bíblico, que veio a ter o nome de Instituto Bíblico de Menongue (IBM) que viria a ser a primeira escola Bíblica em Menongue. Nessa altura, a sua esposa dona Maria Catoquessa fez parte dos primeiros formandos, tendo recebido o seu diploma em 1983 com alguns pastores. Muito deles ainda em vida.

Em 1979, Catoquessa foi eleito Director geral da UIEA (actualmente, Presidente da UIEA), uma vez que o anterior Director Pr. António Vapor lhe foi dado uma bolsa de estudos em Portugal com vista a aumentar o seu grau acadêmico e teológico. Catoquessa começou assim a nova etapa da vida pastoral com o cumulo de pastas, professor no IBM, e Director geral da denominação, desde 1979 a 1993. Foram quatorze anos de muito trabalho e convivência com vários grupos etnolinguísticos, entre eles os Nganguela, os Cokues, os Ovimbundos, os Nhanekas, os Kimbundos e Bakongos. Como líder da denominação, várias vezes viajou para encorajar seus filhos na fé a estar firmes no Senhor.

Por várias vezes era convidado para emitir uma opinião sobre o estado do país em vários fóruns como em debates radiofónicos, pois era a época dos conflitos armados e era um homem confiante em uma Angola em paz, uma Angola onde o campo e cidade estariam juntos. Sua visão pelo ministério estava no desenvolvimento de liderança, particularmente no desenvolvimento de líderes íntegro para a UIEA e para Angola e África, que servisse como bons cidadãos do reino.

Para que tal visão fosse concretizada, ele aplicou estratégias motivacionais e de orientação que influenciaram muitos líderes proeminentes e emergentes que testemunham hoje a importância dos encontros pessoais que tiveram com ele. Consideram-no como um líder visionário, dedicado ao trabalho e acolhedor. Preparar líderes para o futuro era o seu objetivo, pois segundo ele, conforme Rev. Matongue, um dos seus alunos, dizia: “Eu não fui uma pessoa ideal ou preparada de forma intencional que os missionários tinham para ocupar a liderança da denominação.” A maneira como ele chegou na liderança, sem uma preparação intencional, o motivou para fazer melhor, pelo que teve uma grande missão, de descobrir jovens potenciais e forma-los. Nessa época muitos pastores foram formados, alguns com visão para a área rural, aqueles em que o nível acadêmico dava apenas para as zonas rurais, e outros para a zona urbana, os que naquela altura tinham a sexta classe em diante.

Em 1987, a assembleia geral da UIEA aprovou a proposta de instalar a Direção geral da denominação em Luanda. Em dezembro de 1988, muda-se com a família para Luanda a fim de cumprir esse novo desafio que é de abrir a Direção geral na capital do país. Um desafio que perdurou aproximadamente cinco anos, pois veio a falecer em 1993. Salientar que na altura da sua morte, a primeira filha tinha aproximadamente quinze anos de idade.

Ele serviu fielmente ao Senhor Jesus Cristo como Diretor geral da UIEA e Vice-Presidente da Aliança Evangélica de Angola (AEA). No olhar de seus ex-alunos, ele foi um homem visionário, projetava pastores jovens na flor da idade, angariando fundos ou bolsas de estudo para o exterior do país. Levantou UIEA e estabeleceu cooperação com Brasil, trazendo missionários e enviando estudantes lá. Foi nesta época onde alguns foram formados em medicina saindo de outras áreas para o Lubango e Namibe. Para além de Catota, fez curso teológico a distância na escola Batista do Brasil. Falava fluentemente o Chokwe, Luchazi, Umbundu, Mbunda, português e inglês. Desenvolver líderes comprometidos e evangelizar Angola e a África, em particular, era o senho.

João Fernando Mussango Francisco


Fontes: Esperança Vapuila da Silva Catoquessa Cahombo. Filha do Silva Catoquessa e membro da Igreja Evangélica do Bela Vista. Entrevista com autor, 27 de abril de 2020.

Lawrence Muconda. Membro da Igreja Evangélica do Aço no Moxico e ex-aluno. Comunicação com autor, 19 de abril de 2020.

Rev. António Ngalangue. Pastor reformado, membro da Igreja Evangélica da Sofrio no Lubango, e seu colega de carteira. Entrevista com autor, 26 de março de 2020, Lubango.

Rev. Eduardo Matongue. Líder na denominação UIEA, Presidente da Regional Norte, e ex-aluno. Entrevista com autor, 13 de março de 2020, Lubango.

Rev. António Domingos. Vice-Presidente da UIEA, membro da Igreja Evangélica de Kantiflas no Bié, e ex-aluno. Entrevista com autor, 13 de março de 2020, Lubango.


Esta biografia, recebido em 2020, foi escrita por João Fernando Mussango Francisco, candidato de receber o Mestrado de Artes em Teologia na especialidade de liderança pelo Instituto Superior de Teologia Evangélica no Lubango (ISTEL). Formou-se em teologia na mesma instituição com grau de Licenciado. É pastor em Namibe, Angola, da denominação UIEA. Esta biografia foi escrita sob a supervisão de Sindia Foster, instrutora no ISTEL e missionária em Moçambique com Serving in Mission (Servindo em missão, SIM).


Galeria de fotos

Silva Capamba Catoquessa

[1] Catoquessa em seus primeiros anos.

Silva Capamba Catoquessa

[2] Catoquessa com seus colegas de classe na Catota Bible School. Catoquessa está à esquerda.

Silva Capamba Catoquessa

[3] Catoquessa está na fila de trás (com gravata).

Silva Capamba Catoquessa

[4] Catoquessa com liderança de missão por volta de 1980. Catoquessa está na primeira linha, na extrema direita.

Silva Capamba Catoquessa

[5] Catoquessa com Rev. Ngalangue. Ngalangque foi entrevistado para esta biografia. Catoquessa está à direita.

Silva Capamba Catoquessa

[6] Catoquessa em 1993, o ano em que ele morreu.