Coleção Clássica DIBICA

Todos os artigos criados ou enviados durante os primeiros vinte anos do projeto, de 1995 a 2015.

Andriambelo

Nomes alternativos: Andriambelomasina
1829-1904
A Sociedade Missionária de Londres
Madagáscar

Andriambelo Andriambelo foi um dos cristãos perseguidos durante o “Período de Perseguição dos Cristãos” em Madagascar (1835- 1861). Visto que não quis renunciar a sua fé, a rainha Ranavalona I colocou um preço na sua cabeça. Foi um dos cinco cristãos de renome que eram chamados de mpivahiny (os que deambulavam) durante a perseguição. Quando terminou a perseguição (1861) Adriambelo e dois outros do grupo de cinco se tornaram pastores.

Adriambelo nasceu por volta de 1829 na vila de Ambatafotsy, localizada na periferia de Antananarivo. O seu pai Razaka pertencia a uma linha de príncipes por parte de Zanadralambo (descendentes de Ralambo entre os reis de Imerina). O nome da sua mãe era Rabodomanitrandriana. Sendo que ele era o caçula entre nove irmãos e irmãs, era também chamado de Andriamparany (o menino caçula). Ele ainda era uma criança quando o seu pai morreu envenenado pelo ritual de tangena [1] e sua mãe encarregou-se de sua educação.

Seu irmão foi um dos estudantes da primeira escola da SML (Sociedade Missionária de Londres). Ele era cristão e contam que ele estava entre um dos que morreram na primeira onda de perseguição que começou em 1835.

Antes de completar quinze anos de idade, Andriambelo não se interessava pela religião Cristã. Em 1847 ele compartilhava o quarto com um jovem cristão, mas como ele não percebia nenhuma diferença entre a conduta deste jovem e dos outros, ele adotou uma postura de “esperar para ver”. Mais tarde, no entanto, quando ele viu que o comportamento do seu colega mudou para melhor, ele começou a acompanhá-lo nas reuniões de oração secretas que aconteciam à noite. Poucos meses depois ele formou um grupo de oração com rapazes jovens da sua idade. Ele se reunia durante o dia para ler a Bíblia e para conversar e cantar. Algumas vezes até faziam as suas refeições juntos para não chamar tanto a atenção.

Em fevereiro de 1849 a segunda onda de perseguição começou. Andriambelo foi denunciado porque tinha uma Bíblia e tinha feito estudos bíblicos. Por ser tão jovem a sua sentença de morte foi trocada por escravidão e foi vendido por seis francos, uma quantia muito alta naquela época. A sua família o comprou de volta.

Ao ficar livre, no entanto, não conseguiu achar os seus amigos cristãos que fugiram ou se esconderam. Ele ficou apavorado ao ver alguns colegas cristãos acorrentados e ficou inativo por alguns meses. Mais tarde, depois de achar os seus amigos, o seu zelo pela leitura bíblica e a oração o invadiram novamente. Algumas vezes inclusive ele pregava e os outros ficavam muito contentes de escutá-lo.

Os cristãos lhe convidaram para ser batizado, o que fez em 25 de dezembro de 1849, e tomou a santa ceia. Dali em diante ele participou de reuniões secretas e tomou a santa ceia todos os sábados, essas reuniões aconteciam à noite e continuavam até o amanhecer.

Por seis ou sete anos, Andriambelo teve o hábito de visitar quarto ou cinco casas em Antananarivo durante o dia, para encorajar aqueles que não podiam vir às reuniões porque estavam doentes ou porque tinham medo de ser vistos e reconhecidos como cristãos. À noite ele ia até as vilas e pregava e ministrava a Santa Ceia. Algumas vezes o cansaço o vencia e precisava dar um cochilo na beira da estrada. Certa vez ele quase caiu num poço; depois deste incidente ele tomou mais cuidado.

A última onda de perseguição aconteceu em 1857. Andriambelo estava sendo procurado porque a rainha tinha sido informada que se ele fosse capturado poderia informar os nomes dos outros cristãos. Por esta razão, a rainha Ranavalona I colocou um preço pela sua cabeça. O seu nome era anunciado em alta voz cada dia de feira no mercado em Antananarivo e nas áreas vizinhas. Ele teve que fugir e esconder-se na mata fechada ao leste. Durante o dia ele normalmente se escondia em cavernas, mas quando chegava a noite ele saia para pregar àqueles que moravam às margens da floresta ou ia até as vilas vizinhas. Em várias ocasiões foi quase preso.

Certo dia ele tentou voltar a Antananarivo, mas no caminho encontrou alguns amigos cristãos que lhe aconselharam a voltar, pois ainda estava sendo muito procurado. Ele dirigiu-se ao oeste e ficou escondido por uns quinze dias. Encontrou-se com outros cristãos que estavam em fuga e juntos deambularam pelo deserto por aproximadamente três meses. Eles estavam em farrapos, tanto que os soldados que os estavam procurando nem os reconheceram. Algumas vezes se encontravam com pessoas que não conheciam e se disfarçavam como escravos, pintando os rostos com carvão e barro ou faziam de conta que estavam juntando lenha ou caçando pássaros. Neste período quando ele estava escondido, os seus amigos o chamavam de finoana (cheio de fé), ou masina (santo), mais tarde o chamaram de Andriambelomasina (Adriambelo o santo).

Ao fim de 1857 a perseguição diminuiu e os cristãos conseguiram respirar um pouco. Adriambelo conseguiu esconder-se em Antananarivo. Mas teve uma surpresa ao descobrir que a sua esposa tinha sido forçada a casar-se com outro, pelos seus cunhados. E todos os seus bens tinham sido confiscados pelo Estado. Ele não tinha absolutamente nada. Ele pediu conselho ao príncipe Rakotondradama (filho da Rainha Ranavalona I, o qual herdaria o trono quando ela morresse), e este prometeu protegê-lo. Os seus amigos cristãos o ajudaram e lhe compraram uma casa em Amparibe. Um ano depois, como era de costume, ele começou a visitar, animar e encorajar os cristãos que tinham ficado na pobreza e exaustos de fugir.

Quando a rainha morreu em 1961, os sinos das igrejas ressoaram em toda a cidade. Não para lamentar a sua morte, mas para anunciar a todos os cristãos que eles poderiam voltar, pois a época do terror havia terminado. Os cristãos abertamente voltaram de diversos lugares para onde tinham fugido; cansados, mas fortalecidos pela sua fé. A perseguição os tinha espalhado por todo o país; a rainha tinha de fato ajudado o cristianismo a florescer, em vez de destruí-lo. Soldados cristãos também tiveram um importante papel na expansão da fé. Através deste período de perseguição, nasceu a Igreja Protestante de Madagascar.

Andriambelo liderou o culto de Santa Ceia quando o fim da perseguição foi celebrado no dia 6 de julho de 1863 na igreja de Ambatonakanga. [2]

Logo houve uma mudança de regime e a liberdade de culto foi proclamada. No dia 22 de agosto de 1861 Andriambelo e seus amigos abertamente visitaram a corte do Primeiro Ministro, Rainivoninahitriniony. A rainha Ranavalona II, a qual sucedeu o rei Rakotondradama após o seu assassinato, se converteu ao Cristianismo e foi batizada por Andriambelo. Agora que o exemplo estava vindo de cima, muitos dos súditos da rainha se tornaram cristãos para agradá-la, mesmo que não entendessem bem o que estavam fazendo. Este período foi chamado o período de ebikondry (agir como ovelhas).

Muitas das igrejas protestantes foram construídas em Atananarivo e nas áreas vizinhas nesta época. Sob a liderança de Andriambelo e o seu colega Rainimamonjy, os cristãos construíram uma igreja em Amparibe. Os dois foram eleitos pastores daquela paróquia em 3 de fevereiro de 1862. Andriambelo liderou o culto e santa ceia no dia 6 de julho de 1863 na igreja de Ambatonakanga, ocasião em que a igreja celebrou o fim da perseguição. [2] Alguns anos depois, Andriambelo construiu outra igreja maior, pois aquela não era suficiente para atender a paróquia que crescia constantemente. A rainha estava presente na inauguração da nova igreja no dia 6 de outubro de 1870. Andriambelo permaneceu como pastor daquela igreja por quarenta e um anos (de três de fevereiro de 1863 até 13 de julho de 1904).

Andriambelo era querido por todos e apreciado por todos os fiéis. Era um grande orador e o povo gostava de escutá-lo. Foi um homem brilhante; cheio de fé e coragem. A rainha lhe pediu que cuidasse também da Igreja do Palácio, a qual ela tinha construído em Anatirova [3] como um testemunho público de sua fé.

O Rev. W.E.Cousins que trabalhou com Adriambelo como missionário na paróquia de Amparibe, escreveu o seguinte numa carta para o Rev. Ellis, em 1869: “Ele era um homem extraordinário. O amor que o povo de Madagascar tinha por ele não diminuiu com o tempo. Muitas vezes lhe solicitavam que pregasse perante a rainha em Anatirova. [3] Você já escutou sobre a sua eloqüência e o seu ótimo conhecimento das Escrituras Sagradas. Ele desenvolveu a sua teologia pelo caminho e nas dificuldades. Nenhum pastor o igualou em termos de trabalho, ele era incansável. Pleno de fé, e confiança.”

Andriambelo foi um dos pilares do protestantismo de Madagascar. Ele inaugurou a Organização da Igreja Protestante de Madagascar.

Ele adoeceu no dia 9 de abril de 1987. Apesar de estar aposentado, a igreja de Amparibe continuou a apoiá-lo financeiramente até o dia de sua morte, que foi o 3 de julho de 1904. O seu corpo foi levado para a igreja em Amparibe no dia 15 de julho para uma despedida final, e depois foi enterrado numa cripta da família em Ambatofotsy, a sua terra natal.

Berthe Raminosa Rasoanalimanga


Notas

  1. Durante o ritual de tangena, a pessoa acusada de ter cometido algum crime tinha que beber veneno. Se o acusado sobrevivesse era considerado inocente. Se morresse, então esta era a prova de sua culpa.

  2. A primeira igreja protestante que foi construída em Antananarivo pelos missionários da SML. Por recomendação de W. Ellis, um missionário, a igreja foi reconstruída em pedra como um memória pelo martírio de Rasalama, a qual foi mantida lá como prisioneira antes da sua execução.

  3. O nome significa a área que compreende o palácio da rainha.


Bibliografia

Richard Lovett, The History of the London Missionary Society: 1795-1895, vol. 1. (Londres: Depósito da Editora da Universidade de Oxford, 1899). Acessível no site da Internet: http://books.google.com/

Periódico Protestante Gazety Mpanolotsaina [O Conselheiro], No. 221, Outubro-Dezembro1958, pp. 2-8.

Periódico Protestante Ny Sakaizan’ny Tanora [O Amigo da Juventude], No. 89, Maio 1964, pp.73-76.

Periódico Protestante Fiangonana sy Sekoly [Igreja e Escola], No. 248, Agosto 15, 1904, pp. 60-61.

Periódico Protestante Teny Soa [A Boa Palavra] No. 79, Outubro 1936, p. 154. Juvenile Missionary Magazine, Outubro 1, 1867.

Pastor Rabary, Ny daty Malaza: na ny dian’I Jesosy teto Madagasikara [Datas significativas nas pegadas de Jesus em Madagascar]. (Antananarivo: Trano Printy Fiangonana Loterana Malagasy, 2004).


Este artigo foi apresentado em 2008, e foi escrito e pesquisado por Ms. Berthe Raminosoa Rasoanalimanga, diretora do FJKM Centro Nacional de Arquivos (1984-2007), e bolsista do projeto Luke do Dibica de 2008-2009.


Galeria de fotos

Grupo de pastores com Andriambelo

[1] Foto de um grupo de pastores com Andriambelo por volta de 1896: (em pé) Rabary, Ramanitra, Rainialijemisa, Rainamanga, Ranitaray, Frank Rasomerana (FFMA), Rainimakaola, Radaniela, (sentados) Rainidamary, Ramaka, Andriambelo, Rahe, Raimitrimo e Andriamifidy. Muitas destas pessoas foram perseguidas pela sua fé.

iregaj em Amparibe

[2] MOntagem fotográfica da iregaj em Amparibe, datada em 1861, com uma foto de Andriambelo e outros pastores e missionários. Fotógrafo: Razaka.

Antananarivo

[3] Foto de Antananarivo do oeste. Fotógrafo: John Parrett

Todas as fotos foram repoduzidas dos arquivos da Sociedade Missionária de Londres/Conselho Mundial de Igrejas (CMI).