Coleção Clássica DIBICA

Todos os artigos criados ou enviados durante os primeiros vinte anos do projeto, de 1995 a 2015.

Africaner, Jager Christian

1769-1822
Congregacionalista
África Do Sul

Jager Christian Africaner

Jager Christian Africaner era um fora da lei que se tornou um líder cristão entre o seu povo depois de converter-se. Ele era chefe dos Oorlams, povo Khoi. Seu pai Klass era um fazendeiro e chefe do povo Oorlams no distrito de Witzenberg, perto de Tulbagh. Ele foi expulso gradualmente das suas terras pelos fazendeiros brancos, a sua criação foi dizimada e não conseguiu manter o seu patrimônio. Por volta de 1790, Klass Africaner e a sua família se mudaram para as terras de um fazendeiro holandês chamado Piet Pienaar em Hantam, próximo a Calvinia. Trabalharam como vaqueiros e pastores, protegendo a criação do fazendeiro dos ataques dos San. Pienaar forneceu armas para proteger os seus rebanhos e costumava acompanhá-los em expedições punitivas. Campbell, missionário da Sociedade Missionária de Londres, escreveu em 1815 que estas expedições de saqueio praticadas pelos fazendeiros ensinaram os Africaners a sobreviver à margem da lei (Campbell 1974, 376).

Em 1975, Jager Africaner sucedeu seu pai como chefe do clã. Ele era encarregado da família quando aconteceu um sério conflito com Pienaar, um ano mais tarde. Pienaar era um homem muito arrogante, que não entendia nem respeitava o povo Khoi. Certa vez, Africaner e os seus seguidores se recusaram a partir para uma expedição que eles sabiam que daria errado. Foram intimados a comparecer perante o fazendeiro, e ali começou uma discussão sobre a tal expedição ou sobre salários, e Pienaar agrediu Jager, que foi ao chão. Titus Africaner, o seu irmão, não resistiu ver a cena e atirou no fazendeiro e o matou. O relato de Campbell diz que a esposa e o filho do fazendeiro também foram mortos. O clã Africaner agora era um grupo de foragidos e assassinos. Eles levaram o rebanho e as armas de fogo do fazendeiro e fugiram para o Rio Orange. Eles finalmente atravessaram o Rio e se estabeleceram em Great Namaqualand (Marrat 1895, 15).

Africaner, agora “um fora da lei”, provou ser um formidável abigeatário nas fronteiras dos Bôeres. Ele tinha como inimigos os fazendeiros da Colônia do Cabo e os Namaguas, entre os quais ele era um colono não bem vindo. Ele conseguiu espalhar terror entre todos eles até que o governador Dundas, do Cabo, ofereceu uma grande recompensa pela sua captura (Moffat 1889, 27).

Depois de alguns anos Africaner conheceu o missionário Christian Albrecht. Neste então, Africaner estava cansado da vida de fora da lei e tinha se fixado em Afrikanerskraal, na atual Namíbia. Afrikaner viveu em paz até 1810, quando atacou a sede da missão da Sociedade Missionária de Londres, em Pella, e retornou ao seu velho estilo de vida roubando gado e saqueando.

Albrecht persuadiu o africano a aceitar um missionário alemão, o Rev. Johannes Ebner no seu clã. Em junho de 1815, Ebner batizou Jager e sua família, e depois disso Jager era conhecido como cristão (Mossolow 1993, 5).

Três anos depois o Rev, Ebner levou a Robert Moffat, um colega missionário da Sociedade Missionária de Londres, para visitar Africaner. Um fazendeiro que encontraram no caminho lhes advertiu sobre o caráter violento do homem que visitariam e disse a Moffat que ele estava colocando a sua vida em risco ao aproximar-se de Africaner.

No começo, Africaner foi frio e reservado com Moffat. Ebner discutiu com o irmão do chefe e deixou o clã Africaner para trabalhar entre o povo Bondelzwarts, que o convidou para ser seu missionário. Moffat foi deixado sozinho com o clã, e gradualmente uma grande amizade cresceu entre ele e Africaner.

Africaner interessou-se muito no que o missionário ensinava, freqüentava os cultos e aprendeu a ler a Bíblia e escrever. O seu modo de vida mudou tanto, que em 1819 Moffat o persuadiu a acompanhá-lo até a Cidade do Cabo. No começo Africaner foi cauteloso porque sabia que havia um preço de 1.000 dólares rix pela sua cabeça. No caminho para a Cidade do Cabo Moffat passou a noite na casa de um fazendeiro chamado Engelbrecht que ficou surpreso ao saber que ainda estava vivo após visitar o fora da lei. Como não se escutara nada sobre o missionário, o povo temia que o chefe fora da lei tivesse mandado matá-lo. “Africaner foi apresentado ao fazendeiro, que levantou os olhos para o céu e disse maravilhado:” Oh, Deus! Que milagre do Teu poder! O que a Tua graça não pode fazer?!”(Marrat 1895, 23).

Lord Charles Somerset, o governador, ficou impressionado quando conheceu o Africaner e lhe outorgou a anistia e o presenteou com uma carroça no valor de 80 libras. Durante a entrevista, Christian apresentou o seu segundo filho, Jonker, como o seu sucessor (Mossolow 1993, 5). Africaner retornou ao seu clã, e quando Moffat se mudou para Lattakoo e, 1820, ele ficou como líder da igreja dos Oolams.

Em 1822 Klass Africaner faleceu, e logo o seu filho Christian também. Antes de falecer Christian Africaner lembrou ao clã que como cristãos deveriam viver em paz com os outros povos.

Christian Africaner foi sucedido pelo seu filho Jonker. Alguns anos depois, Jonker decidiu separar-se dos seus irmãos e mudou-se com seus seguidores para perto de Ai, na Namíbia. Ele se envolveu numa série de ataques contra os Hereros antes de fixar-se na atual Windhoek. Ali ele construiu uma igreja de pedra e apoiou missionários da Sociedade Missionária de Londres, Metodistas Wesleianos e da Sociedade Missionária Rhenish, a começar o trabalho na Namíbia.

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J. A. Millard


Bibliografia

Campbell, J. Travels in South Africa, Undertaken at the Request of the Missionary Society, rev. ed. Cidade do Cabo: C. Struik, 1974.

Marrat, J. Robert Moffat: African Missionary. Londres: C.H. Kelly, 1895.

Moffat, R. Rivers of Water in a Dry Place: The Introduction of Christianity into South Africa and of Mr. Moffat’s Labours. Philadelphia: Junta Publicadora Presbiteriana, 1863.

Moffat, J. The Lives of Robert and Mary Moffat. Londres: T. Fisher Unwin, 1889.

Mossolow, N. Gross Barmen: The History of The First Rhenish Herero Mission Station in South West Africa 1844-1904. Windhoek: J. Meinhart, 1993.

Verwey, E., ed. New Dictionary of South African Biography. Pretória: HSRC, 1995.


Este artigo foi reproduzido com a permissão de: Malihambe - Let the Word Spread, copyright © 1999, por J. A. Millard, Editora Unisa, Pretória, África do Sul. Todos os direitos são reservados